Friday, June 28, 2013

ANTES SER POETA

Há gente endinheirada que exibe os automóveis, que parece que leva uma boa vida mas que, no fundo, não leva. Antes ser poeta e estar aqui a olhar para as mulheres. Antes ser poeta e estar aqui a escrever à mesa. Antes ser poeta e não ter obrigação nenhuma. Antes ser poeta e viver o dia. Antes ser poeta e estar descomprometido. Antes ser poeta e ser livre. Antes ser poeta.

Sunday, June 16, 2013

JORNAL FRATERNIZAR

Edição 89, sexta-feira 14 Junho 2013 A VIDA NÃO PRESTA Bem sei que é necessário derrubar esta gente. Mas não menos necessário é esclarecer as pessoas. Em 2013, sec. XXI, a vida não presta. O safanço, o interesse, a competição, a rapina sobrepõem-se à inteligência, à cultura, à curiosidade, à verdadeira vida. Triunfam os oportunistas, os vendilhões, os executivos. O homem perde até a capacidade de amar, muitos afogam-se na depressão, alguns no suicídio ou então caem na uniformidade do pensamento, no conformismo. O trabalho é intragável, o lazer muitas vezes é controlado pelas modas ou pela ideologia dominante, o desemprego avança, tal como a pobreza e a miséria. A vida torna-se repetitiva, entediante, monótona. As vedetas cor-de-rosa vivem a nossa vida. Não, não há razão para sorrir. No entanto, ainda podemos buscar a vida dentro de nós. No entanto, se ainda não estamos moldados podemos ainda encontrar-nos. Ainda somos donos de nós próprios. Ao contrário do que nos vendem, ainda somos donos da verdade e da beleza, ainda podemos criar e dançar, ainda podemos mudar o mundo. CIDADÃOS DA TERRA Devemos educar as nossas crianças no amor, na busca do saber, na descoberta. Devemos formar cidadãos íntegros, virtuosos, que se preocupem com as grandes questões da humanidade, com o sentido da vida, que não se fechem no egoísmo. Devemos fazer da vida um experimento permanente, uma aventura. Devemos ser todos cidadãos da Terra, das mesas partilhadas. Devemos cumprir o que viemos fazer à vida. Que viemos cá fazer? Amar, dar, descobrir, conhecer. Por isso leio, por isso escrevo. Tenho 45 anos. Não vim fazer negócios, não vim atrás do dinheiro. Vim para muito mais. Vim abrir portas. Vim construir mundos, ideias. Vim também para o mito, para o Graal, para a magia. Por isso não aceito entregar-me ao útil, ao quantificável, ao cronometrado. Por isso sou luz, sol, embriaguez. Não me dou com controlos, castrações, mecanizações. Procuro o enigma da vida. Estou na demanda. Percorro com Sócrates as ruas de Atenas. A mente explode, abre-se. Posso saber mais, posso saber sempre mais. A caneta desliza no papel. Sou um poeta. Desejo a mulher. Canto-a. Endeuso-a. Nasci hoje há 45 anos. Vim para reinar, para me dar. Há dias, noites em que me solto, em que não tenho limites. Que sentido faz toda a barbárie? Amemo-nos. Sejamos cidadãos da Terra.

Monday, June 03, 2013

ESQUIZOFRENIA

E, de repente, a metamorfose. Não foi a manif, foi a discussão posterior no Gato Vadio. Soltei-me, libertei-me, disse o que pensava. Disse que não aceito o primado da economia, falei no capitalismo que violenta a essência do homem, no capitalismo que conduz à esquizofrenia e que é, ele mesmo, esquizofrenia. Falei no aumento galopante das doenças mentais, das depressões, dos suicídios e das tentativas de suicídio. Disse que essas questões não se resolvem só com dinheiro. E agora acrescento que as relações entre as pessoas são muitas vezes falsas, de compra e venda, de competição como manda o capitalismo que nos controla, que nos bombardeia, que nos imbeciliza via televisão, via media, que nos droga, que nos empurra para a mera sobrevivência. Disse também que, paralelamente ao agir, é preciso discutir o homem, o que é o homem, o que veio fazer á vida e à terra. Creio que é essa a minha missão enquanto escritor, enquanto pensador, se assim me posso definir. Tentar iluminar as consciências. E assim volto a mim mesmo.