Sunday, May 26, 2013

A DÁDIVA

A dádiva, o gesto desinteressado, o amor. São manifestações da alma felizmente ainda observáveis. No entanto, o sistema impõe o preço, a competição, as relações gélidas. Isso tem dado cabo da alma, tem diminuído a espécie, tem propagado as doenças mentais. O problema está mesmo na alma, no nosso interior. Ultrapassa em muito as questões económicas e financeiras. O homem tem de crescer, tem de se encontrar, tem de se agarrar à verdadeira vida. Tem de desenvolver as suas potencialidades em comunhão com os outros, tem de derrotar dentro de si o capitalismo. Tem de ser plenamente alma e coração.

Saturday, May 18, 2013

CARNAVAL

Há dias em que apetece viver desmesuradamente, agarrar ao máximo a vida, agarrar ao máximo o instante. Há dias em que, mesmo estando sozinho, celebro a vida, celebro a terra, celebro a mulher. Há dias, noites em que beber e viver é realmente um gozo, em que não apetece parar. Há dias, noites, em que sou plenamente o artista, o homem integral. Há dias em que a vida é um perpétuo carnaval.

DO ALÉM

Ás vezes escrevo para me situar. Anteontem fiz 45 anos. Sofri, fui ameaçado, apanhei porrada, até fui humilhado na praça pública. Outros já partiram. Eu permaneço aqui. Se permaneço aqui por algum motivo é. Não vim para ganhar a vida. Vim para descobrir, para me descobrir, para desenvolver as minhas potencialidades. Sem castrações. Sou o homem da liberdade. Amo a humanidade, apesar dos patrões, apesar dos papões. Amo o homem a construir. Amo a própria vida. Vou onde só alguns foram- ao paraíso, ao inferno. Sou da dádiva, do conhecimento pelo conhecimento. Amo os grandes. Amo loucamente. Já escrevi páginas menores. Agora ultrapasso. Agora sou do além. Agora não tenho limites.

Saturday, May 11, 2013

O HOMEM EM CRISE

O homem está em crise. Há um mal de alma escondido nas nossas cavernas interiores enquanto permanecemos no café, enquanto trabalhamos, enquanto percorremos as ruas. Ainda há os amigos, o encontro, os livros mas, na maior parte do tempo, não nos sentimos realizados. Algo nos empurra para a náusea, para a angústia, para o tédio. A economia, as leis do cálculo, da competição e da eficácia controlam as nossas vidas. Só a espaço damos o grito libertador, animal. Só a espaços nos entregamos à sabedoria. De resto, raramente se dá o inesperado, a descoberta. A política está entregue a tecnocratas, a peritos. Não compreendemos a linguagem da economia nem sequer sabemos se é compreensível. Muitas vezes estamos condenados ao metro/trabalho/casa. A pressa repele a reflexão e a meditação. Não, não viemos para isto, não nos tornamos únicos para isto. Não foi para isto que lemos Homero, Platão, Shakespeare, Nietzsche. Não foi para sermos escravos de outros homens e da máquina mediático-tecnocrática.

Wednesday, May 08, 2013

DO CAPITALISMO

O capitalismo é inimigo de tudo o que é humano- o sentimento, a sensibilidade, o amor, a amizade, a poesia. Reduz tudo á mercadoria, à mecanização, ao cálculo. O homem vende-se a si mesmo e á sua força de trabalho no mercado. Tudo é medido pelo dinheiro e pela sua acumulação. Uns nadam na riqueza e no poder, outros morrem de fome. O capitalismo é absolutamente desumano. Como diz Charles Dickens em "Tempos Difíceis": as pessoas são parecidas umas com as outras, "saindo e voltando a casa todas às mesmas horas, andando com o mesmo passo pelo mesmo passeio, fazendo o mesmo trabalho, e para as quais cada dia era parecido com o da véspera e com o seguinte, como cada ano condizia com o anterior e com o que se lhe seguia". Em suma, uma vida sem brilho, sem luz, entediante. Só os artistas e os filósofos podem contrariar esta tendência através do espírito crítico, da transgressão, da criatividade. Só através da busca interior, do culto do amor e da amizade, das mesas partilhadas é possível contrariar o poderio do dinheiro e do capitalismo. E também através da curiosidade, da descoberta. Só assim poderemos atingir o homem pleno, integral, o inimigo do capitalismo.

Thursday, May 02, 2013

VISÃO

Eu tive a visão. Eu fui Deus, Jesus, imperador de Roma. Matava e ressuscitava pessoas. Eu ouvia vozes. Fazia a revolução. Tinha em mim o universo. Eu nascia, formava-me. Exércitos protegiam-me, exércitos perseguiam-me. Eu era um iluminado. Possuía as mulheres belas. Duendes, palhaços cercavam-me. Eu fui Deus.