Saturday, April 27, 2013

A RUA É TUA

Descansa, Pedro. Já leste muito, já tomaste muitas notas. Mas o cérebro não consegue parar. É o que é. Tens em ti a vontade e a potência da vida. Produzes ao ritmo da vida. Não andas com queixumes, competições, fados, fatalidades. Escreves porque é isso que sabes fazer. Hoje serias capaz de escrever o poema contínuo. Travas uma batalha com o papel. Começas a ser mestre nestas coisas. Estás aqui nos "Sonhos de Verão" e já estás muito longe, num espaço muito para lá das mesas, das cadeiras, dos bolos e do cliente que entra e pede um pingo. Estás noutro lugar sem precisares de ácidos ou de cocaína. A mente está a libertar-se. És capaz de o sentir fisicamente. És mesmo doido, Pedro. Consegues fugir completamente às normas. Navegas no "barco ébrio" dentro do teu pensamento. Não és realmente daqui. Pertences à vida e ao além da vida. Como pudeste perder tanto tempo com coisas pequenas e mesquinhas? Estavas a aprender, sobretudo quando fizeste asneiras. Estavas a pôr a realidade à prova, como o Jim. É o que fazes agora. Estás para lá da política e da economia. És íntegro, integral. O tempo é teu. A rua é tua. Talvez a mulher seja também tua. Ainda não a compreendeste. Olhas para ela. Porque não danças?

Wednesday, April 24, 2013

ESCREVER

Estou retido em casa. Além do pé doente, tenho o olho esquerdo a arder e, por isso, não consigo ler. Resta-me a escrita. Escrevi os primeiros poemas aos 14/15 anos. Ganhei um prémio no Liceu Sá de Miranda em Braga. Depois comecei a escrever as letras em inglês do Peter Owne para a banda imaginária The Vikings. Aos 18 anos escrevi os primeiros bons poemas: "Mulher Ausente", "Arké", "Túmulo", "Anjo em Chamas". Mais tarde escrevi "Ausência", "Representação", "O Absurdo Vivo". Foi uma grande mudança em termos qualitativos. Ainda há quem diga que "Á Mesa do Homem Só" é o meu melhor livro. Escrevia coisas boas mas também escrevia coisas más. Não escrevia, nem de perto nem de longe, ao ritmo que escrevo agora. Agora, para mim, escrever é viver, é respirar, como dizia Anais Nin.

Friday, April 19, 2013

VALTER HUGO MÃE SOBRE A. PEDRO RIBEIRO

valter hugo mãe conta que a primeira vez que lhe chamaram maldito foi quando roubou uvas num quintal, em miúdo, e a dona da fruta lhe disse “maldito cachorro, vou dizer à tua mãe” . Depois vieram os livros da Hiena, “essa editora toda maldita”, que lhe deu Baudelaire e Genet, entre outros, e cujos livros, transportados na mochila, lhe davam a ideia de deixar um rasto de sangue à passagem da mala. E os episódios sucedem-se: o elogio de Alberto Pimenta e a acusação da professora, dizendo que estava a encher os colegas “de porcarias”, as histórias de Adília Lopes, distribuindo pagelas, ou de Isabel de Sá, fugindo de encontros e respondendo que não a tudo o que se lhe pergunta, ou de A. Pedro Ribeiro entrando num hipermercado com um facalhão na mão e gritando palavras contra o capitalismo. E encerra dizendo que ‘não é maldito quem quer’. Já se desconfiava.




Monday, April 15, 2013

GENTE SEM ALMA

Vê-se esta gente que governa, que vive da política, os banqueiros, os grandes empresários, os especuladores, os usurários. Vê-se esta gente sem alma, sem escrúpulos, sem vida. Esta gente que nos rouba, que nos rouba a vida, que se serve à vez e acumula. Estes bandidos. Estes oligarcas. Gente sem ética, integridade ou virtude. Esta gente que se passeia nas televisões. Os comentaristas. Gente que vive à nossa custa. Os inimigos da vida. Não sei sequer se merecem estar na vida.


Estamos claramente do outro lado da vida. Com Sócrates, Platão e Aristóteles do lado da virtude, da ética, da sabedoria. Não ao lado desses sacanas que nos chulam. Mas sim do lado da vida, do lado do bem, do belo, da liberdade. Da poesia da vida que deve aprender-se nas escolas, de maneira a formar cidadãos de corpo inteiro. Não do negócio, das riquezas, dos mercados mas da vida, da vida autêntica, exuberante, plena como Nietzsche preconizava.

Monday, April 01, 2013

A POESIA DA VIDA

O homem comum não se debruça sobre as grandes questões da humanidade. Leva a sua vidinha, fala sobre ela, preocupa-se essencialmente com o sustento e com a conta bancária. Não desenvolve o pensamento, tem raciocínios superficiais, "práticos", deixa-se levar pela ideologia dominante ou pelas religiões. Não questiona o que veio fazer aqui, para que vive, porque foge á morte. Não questiona o próprio tempo. Daí que, em parte, seja culpado da escravização que lhe é imposta por alguns dos seus semelhantes. Esses semelhantes, àvidos de poder e de riquezas, também desconhecem os grandes mistérios da vida e duvido que sejam felizes mas conhecem as técnicas da propaganda e da manipulação. Criaram um sistema capitalista de dominação onde uns são arrastados para o desemprego, para a pobreza e para a miséria e outros vendem o seu trabalho por um preço cada vez mais barato, caindo na infelicidade, no tédio, no aborrecimento. É preciso que o homem evolua, que desenvolva a curiosidade intelectual e a capacidade de amar e de se libertar das correntes da máquina ideológica, do cálculo, da quantificação para que se reconcilie com aquele que realmente é, com o seu espírito, com a poesia da vida.