Friday, January 11, 2013

A DITADURA DA ECONOMIA

Edição 84, 11 Janeiro 2013


CONTRA A DITADURA DA ECONOMIA

Eis o que a ditadura da economia, da poupança e do sacrifício nos traz, nas palavras do filósofo José Gil: a diminuição da liberdade, a redução do espaço de expansão dos corpos, dos movimentos próprios de exploração, de investimento afectivo, de espontaneidade do desejo, o controlo permanente, a autodisciplina mutiladora da vontade de vida. As pessoas podem deslocar-se, podem ir até ao café mas há qualquer coisa que as impede de serem plenamente elas, qualquer coisa que violenta a sua essência, qualquer coisa que vem das palavras e das leis impostas pelo primeiro-ministro e pelo ministro das Finanças, qualquer coisa que vem dessa linguagem fria, mecanizada, castradora, que tem por trás de si uma máquina mediática e financeira. É por isso que importa pensar, que importa questionar, que importa desmontar e, ao mesmo tempo, gritar bem alto que este não é o caminho, que este não é o único caminho possível, que viemos para a vida, que viemos para a liberdade, que não temos de nos sacrificar, que não temos de obedecer a deuses nenhuns nem aos da economia.

Fomos abençoados à nascença. A vida é uma aventura, não uma prisão. Viemos para nos realizarmos aqui, para desenvolvermos ao máximo as nossas potencialidades aqui na Terra. Não temos que aceitar qualquer ditadura.


A MORTE EM VIDA

Às vezes questiono-me sobre o que é que determinadas pessoas vêm fazer à vida. Na infância ainda brincam mas depois começam a ser encaminhadas para o mercado. Na escola, de uma maneira geral, salvo umas asneiras, acabam por ser alinhadas com o sistema. Refugiam-se nos grupos, na moda, fazem parte da manada. E ainda que questionem tudo isso, esse questionamento é passageiro. Depois começam a entrar no mercado de trabalho, a integrar-se na máquina, hoje cada vez mais castradora, mais privadora de liberdades. A cabeça é feita pelos media, por aparelhos simplificadores, por programas e canções imbecis. O espírito crítico vai sendo destruído. A rebeldia ficou para trás, completamente minada. Casam-se ou não. Têm filhos. Transmitem aos filhos a sua ignorância ou até o desamor. Trabalham, produzem, consomem. Correm para casa para ligar o ecrã. Raramente são autênticos, raramente são vivos, raramente têm um gesto de grandeza, celebram apenas nas datas marcadas. Normalmente são mesquinhos, invejosos, intriguistas, merceeiros. Querem "subir na vida" e acumular dinheiro, passar por cima do parceiro se preciso for. Perdem o espírito crítico, nunca colocam as grandes questões. Estão sempre às ordens do chefe, do governo, do especulador. Fazem do futebol a religião. Coscuvilham sobre a vida alheia. Serão sempre homens e mulheres pequenos, como dizia Nietzsche, sem luz, sem nobreza, sem grandeza, sem liberdade, sem poesia, quase sem amor. Chegam a velhos e o que fizeram? Alguma vez celebraram verdadeiramente a vida? Alguma vez questionaram o sentido da vida? Alguma vez puseram a máquina em causa? O que fazem aqui? Porque vieram? Serão realmente humanos?

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