DAS ORIGENS DA ECONOMIA DA SERVIDÃO
A economia da exploração do homem pelo homem, do animal pelo homem e da natureza pelo homem, começou no dia em que uma criança de três anos disse "isto é meu", e as outras crianças a levaram a sério!
A partir daí criaram-se as condições para o mundo se transformar numa autêntica "criancice", e surgiram condições para aparecimento da escravatura do homem (sob as mais diversas formas: esclavagismo, servos da gleba, proletariado industrial), forjou-se a crueldade contra os animais pela mira do aumento e da concentração da propriedade privada (e claro pela mera diversão) , e forjou-se o desrespeito pelo ecossistema natural.
Numa palavra, a partir dessa "criancice" as sociedades humanas cairam na "canalhice"! Passou a predominar a adoração á concentração da propriedade privada , através da adoração do lucro sobre todas as coisas!
Por isso podemos concluir que o actual sistema de economia de mercado capitalista (pelo qual meia dúzia de accionistas exploram até ao tutano humanos, não humanos e natureza) é o expoente máximo de uma "criancice" (que inspirou o ensaio sobre a cegueira de Saramago) a qual nunca deveria ser toma da a sério. Mas foi, e essa criancice, plasmada no "isto é meu", gerou o maior boom do crescimento económico das sociedades humanas, mas um crescimento pelo crescimento, subordinado ao máximo lucro, à sua acumulação e concentração em cada vez menos mãos!
De facto, e olhando para o desrespeito com que alguns seres humanos, detentores da "propriedade privada", ou seja detentora da propriedade dos meios de produção tecnológicos e financeiros, tratam os outros seres humanos (considerados como meros factores de produção submetidos á lógica do máximo lucro que alimenta a riqueza dos proprietários), ao desrespeito e mesmo crueldade a que são submetidos os animais, igualmente submetidos a essa cadeia do lucro (apelidada de cadeia de criação de valor!), e o próprio desrespeito para com o equilíbrio do ecossistema natural pondo em perigo a viabilidade do próprio planeta terra, podemos então concluir que o nascimento da propriedade privada, e o seu correlativo endeusamento, ou seja o fortalecimento do"isto é meu" , começou a marcar o desaire fundamental que está na origem de todos os males de que padece o ser humano, o animal e a natureza na história marcada pela sociedade humana!
A CONSTRUÇÃO DE UMA ECONOMIA DA COOPERAÇÃO
Saramago explicou isso tudo no seu "ensaio sobre a cegueira"! Trata-se de desfazer a criancice do "isto é meu", ou seja de essa criancice não ser levada a sério, de as outras crianças não permitirem que essa criancice seja consolidada.
No estádio actual do desenvolvimento económico, social, cultural e histórico, a única via aceitável e operante só pode ser mesmo a da democracia directa e participada de todos os cidadãos, a qual terá o trabalho imenso de desconstruir as fundamentações jurídicas favorecedoras da propriedade privada, invertendo o seu favorecimento, e promovendo a cooperação económica e social, a equidade e a justiça social.
É um caminho que exigirá muito esforço e muita luta por parte de todos os cidadãos, mas que é necessário perseguir e persistir, para acabar com a economia da servidão e para implantar em seu lugar, de forma democrática e massivamente participada, uma economia da cooperação, solidária e integrada numa estratégia de desenvolvimento sustentável, ancorada na vertente humana, animal e ambiental.
Só dessa forma será possível dar andamento a uma práxis política baseada na SHAA proclamada por Gandhi, e traduzida concretamente na solidariedade humanística, animal e ambiental!
Mãos á obra! Para começar saibamos exigir e impôr uma democracia directa e participada que abula de vez com a Cleptocracia e com a corrupção do poder político!
MANUEL SALGADO ALVES
Sunday, December 30, 2012
Wednesday, December 26, 2012
O POEMA DO INFERNO
Menino,
Escuta,
Nós somos os teus fantasmas
Viemos infernizar-te a mente
Não fujas
Tudo o que realmente fizeste aqui
Está a ser julgado
Todos os teus passinhos de medo
Todas as tuas fraquezas
Quando não foste capaz de levantar a voz
Para defender a dama
Quando te acobardaste
Ou te refugiaste no racional
Sim, porque tu és racional, menino,
És mesmo o mais frio e racional de todos
Poderias ser um líder, um ditador
Ainda podes sê-lo, menino
De qualquer forma,
Agora nada tens a perder
És menino para isso
Quando o álcool se mistura
Com os medicamentos
É um cocktail molotov
Tens uma história, menino,
És um profissional da desordem
Como diz o ministro
És isso mesmo
Basta acender o rastilho
És um mau menino
Onde está o teu bom coração?
Onde estão as falinhas mansas?
Vá, menino, impõe-te
Toma conta disto
Chegou a hora do juízo final
Desta vez não te fiques
Por umas cervejas
Parte mesmo
Incendeia
Faz o teu número
O teatro
Que sabes fazer
Faz lá o risinho sarcástico
Enganaste-os a todos
Mesmo à dama
Chegou a hora de incendiar
Traz a tua rainha
Celebra-a
Deixa-te de escritos menores
Esta é a poesia
Que vem do inferno
Incendeia, menino,
Tu sabes fazê-lo
Agora são eles
Que começam a ter medo de ti
Também, coitados, só têm o futebol
E o dinheirinho na cabeça
Enquanto que tu és
Um revolucionário alucinado
Agora reinas
Rei da armadura dourada
Vens, de facto, dos séculos
Para travar a batalha
Não cedas mais
Não distraias a atenção
Com coisas menores
É a hora
É Natal
Ah! Ah! Ah! Ah!
O outro nasceu
Depois foi crucificado
Não estavas a brincar
Quando partiste os vidros dos carros
Não estavas a brincar
Quando derrubaste a estátua
Tens seguidores, menino
Com eles podes tomar o mundo
Eis o poema que vem do inferno
Directamente dos teus fantasmas
Estamos a dar-te forças, menino,
Agora já podes rir
Agora já podes dançar
És o super-homem de Nietzsche
Orgulhoso, cabotino, terrível
Deixa de parte a bondade
Não dês sinal de fraco
Há quem te esteja sempre
A pôr à prova
Brilha como um deus
Impõe-te nas tuas quintas
E fora delas
Aproveita a energia que te damos
A energia que estava adormecida
E que agora arde
E que agora queima
Que já esteve a espaços
Em alguns poemas
Mas que agora é total
Não tenhas medo, menino
Nós damos-te forças
És o anti-cristo
És Jesus
Como tu houve poucos na História
Não vieste para desempenhar
Tarefas menores
Rotineiras
Vieste para reinar
Reclama o trono
Não queriam o fim do mundo?
Aqui o tem,
Profeta do apocalipse
Poeta sem limites
Senhor das quintas e dos quintais
Vieste mesmo
Infernizar-lhes a vida
Julgavam-te um amigo do povo
Um esquerdista inofensivo
Mas tu odeias a gentalha
Odeias realmente a gentalha
E as suas conversas primárias e imbecis
No fundo, és um aristocrata
Um menino que teve necessidade
De criar mundos
Para combater o tédio
Serás sempre o menino
E por isso acreditam em ti
Mesmo quando fazes asneiras
Começas a assustá-los, sabes?
És mesmo um fora da lei
Não suportas os controleiros
E os polícias
Mesmo que aparentemente os respeites
És perigoso
Consegues ser fascista
Mostras o teu lado bom
Mas, no fundo, és terrível
Usas as pessoas
Encanta-las
Quando vens choramingar
Ouve, menino,
São os teus demónios que te falam
A tua escrita obedece-nos
És o grande maldito
Se quiseres
Aqui te juramos o nosso amor
Vitória ou loucura
Escolhe
Vê bem o que vieste fazer
Prepara-te
Vem aí a grande revolução.
Vilar do Pinheiro, 24.12.12
Wednesday, December 19, 2012
A LIBERTAÇÃO
Ouço as conversas. Tão pobres. Só falam de dinheiro e de posses. Definitivamente fogem ao essencial. À nossa libertação. À nossa libertação do jugo do grande mercado, da máquina, da castração. Eles- governos, poder financeiro, grandes media- querem impedir-nos de viver, querem castrar a nossa liberdade, a nossa individualidade. Esta é a verdade. Desde a infância que eles nos tentam fazer a cabeça. Querem reduzir-nos ao pensamento único, à felicidade da maioria, à ignorância. Querem que nos deixemos levar, que não os questionemos, que não os punhamos em causa. E se realmente não nos revoltarmos, não apenas uma mas várias vezes, as vezes que for necessário, seremos sempre enganados, seremos sempre escravos, por muito dinheiro e posses que tenhamos.
Friday, December 14, 2012
A MORTE EM VIDA
Às vezes questiono-me sobre o que é que determinadas pessoas vêm fazer à vida. Na infância ainda brincam mas depois começam a ser encaminhadas para o mercado. Na escola, de uma maneira geral, salvo umas asneiras, acabam por ser alinhadas com o sistema. Refugiam-se nos grupos, na moda, fazem parte da manada. E ainda que questionem tudo isso, esse questionamento é passageiro. Depois começam a entrar no mercado de trabalho, a integrar-se na máquina, hoje cada vez mais castradora, mais privadora de liberdades. A cabeça é feita pelos media, por aparelhos simplificadores, por programas e canções imbecis. O espírito crítico vai sendo destruído. A rebeldia ficou para trás, completamente minada. Casam-se ou não. Têm filhos. Transmitem aos filhos a sua ignorância ou até o desamor. Trabalham, produzem, consomem. Correm para casa para ligar o ecrã. Raramente são autênticos, raramente são vivos, raramente têm um gesto de grandeza, celebram apenas nas datas marcadas. Normalmente são mesquinhos, invejosos, intriguistas, merceeiros. Querem "subir na vida" e acumular dinheiro, passar por cima do parceiro se preciso for. Perdem o espírito crítico, nunca colocam as grandes questões. Estão sempre às ordens do chefe, do governo, do especulador. Fazem do futebol a religião. Coscuvilham sobre a vida alheia. Serão sempre homens e mulheres pequenos, como dizia Nietzsche, sem luz, sem nobreza, sem grandeza, sem liberdade, sem poesia, quase sem amor. Chegam a velhos e o que fizeram? Alguma vez celebraram verdadeiramente a vida? Alguma vez questionaram o sentido da vida? Alguma vez puseram a máquina em causa? O que fazem aqui? Porque vieram? Serão realmente humanos?
Friday, December 07, 2012
HOMEM LIVRE
Penso que hoje poderia passar dia e noite a escrever. Posso até gerar estrelas de tal forma me sinto grávido. Posso também ouvir os meus semelhantes que se queixam e estão mortos por chegar a casa. Chegar a casa. Chegar a casa, ligar a TV e olhar para as imagens, as imagens que vivem por nós em vez das imagens que podemos gerar, de tudo o que podemos gerar. Ó senhores, que “vida” levais? Sois escravos, todos vós. Ainda não percebestes que nada está acima da vida, da vida autêntica. Seres de luz vêm ter comigo e dizem-mo. Para alcançar a glória basto-me a mim mesmo. Para alcançar a glória basta-me estar aqui nesta confeitaria de Vilar do Pinheiro. Peregrinações virão a Vilar do Pinheiro. Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Estou louco. Não vedes? Absolutamente louco, absolutamente criança, absolutamente sem limites. O que fazer mais hoje? O que fazer mais aqui? Danço com o super-homem. Brindo, celebro. Estou louco, mãe. Porque me trouxeste para aqui? Parecia que vinha para a vida regrada mas não vim. Aos 17/18, aos 19, aos 20, tornei-me outro. Em Braga, nos bares, na Rádio Clube do Minho. Os Doors, os Joy Division, os UHF. A TV sempre a martelar. Mas eu era diferente, tornei-me diferente. Ah! Não me atirem dívidas, contas, economistas! Eu estou para lá. Eu nasci para lá. Reinos esplendorosos, reinos de luz. Sou tão louco, mãe. Eu inventava jogos, personagens. Eu criei mundos. Eu naveguei por mares jamais navegados. Eu brincava com as meninas. Tinha uma namorada, a Gina. Dava-lhe a mão, dava-lhe beijos. Já nem sei quem sou, mãe. Sei que não pertenço a este mundo. Poucos e poucas realmente me compreenderam. Velhos amigos, à noite, no bar. Onde irei dar? Estou realmente próximo de atingir o que quero. Mas que quero eu senão o mundo? O mundo de aquém e o de além.
Homem livre, és verdadeiramente tu. Homem livre, porque adormeces e agora regressas à vida? Homem livre, eles realmente acham-te estranho, diferente deles. Não és da mesma tribo, talvez até nem sejas da mesma espécie. Não lutas na mesma guerra. Não são teus os tambores que ouves. Homem livre, és daqui e não és. Tanto podes ser rei como podes acabar nas ruas. Continuarás o teu percurso pelos bares e pelas tascas. Este é o teu tempo. Olha, a mulher da confeitaria olhou para o “Socialismo Científico” de Marx, Engels e Lenine que acabaste de ler hoje. Há livros que ainda podem ser explosivos. Tu és explosivo, homem livre. Com ou sem óculos. Poderias realmente passar o dia e a noite a escrever. Voltaste a ser o único cliente da confeitaria. A mulher não pára de trabalhar. Tens publicado textos falhados ou semi-falhados. Este não é um deles.
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