Saturday, April 28, 2012

Não há Deus nem deuses o único deus é o homem alguns homens capazes de criar de pensar de construir um novo mundo não há Deus nem deuses só nós, aqui sós, "ilimitados e libertos" á espera do sorriso do abraço da ternura companheiras, companheiros, na demanda de nós mesmos senhores sem escravos frágeis soberbos prontos para a caminhada. Vilar do Pinheiro, "Sonhos de Verão", 28.4.2012

Friday, April 13, 2012

DO TIAGO MONTENEGRO

Para o António Pedro RibeiroPosted: Abril 12, 2012 in Uncategorized
Etiquetas:António Pedro Ribeiro 0tenho medo ó Poeta

tenho medo que o Poeta morra.
tenho medo que matem o Poeta.
tenho medo que o progresso
impeça o bailarino de dançar.
tenho medo de um novo super-homem
agrilhoado pelas parangonas quotidianas.
tenho medo pelo sábio preso em paredes pintadas,
tenho medo pelo maestro das letras
tropeçando em paralelos quebrados
nessa avenida aos ziguezagues da História.
tenho medo pelo soberano da vida,
tenho medo por ti ó Poeta,
tenho medo por todos nós que viemos de ti
mas que não vivemos por ti
porque só tu por ti viverás.


http://tiagomontenegro.wordpress.com

ESCREVER


Escrever para me manter vivo
escrever porque é o único caminho
contra a máquina
contra a solidão
contra a depressão
escrever porque não sou escravo
de ninguém
porque não delego em ninguém
os meus poderes
porque quero continuar
juíz de mim mesmo
porque quero continuar
na estrada do excesso e da loucura
escrever porque não aceito
escrever porque desejo
escrever porque quero o beijo
escrever porque sou
um homem livre.

Wednesday, April 11, 2012

A VERDADEIRA VIDA É POÉTICA


Como diz Eggar Morin, "a verdadeira vida é poética". Com a poesia vive-se para viver e não para sobreviver. Segundo Novalis, "a poesia é a religião originária da humanidade". E a poesia traz consigo o amor e a liberdade. Estabelece uma oposição à vida prosaica, ao utilitarismo, à mundialização tecno-económica, através do encantamento, da paixão, da festa. Para o capitalismo, para a tecnocracia nada escapa ao cálculo, ao quantificável, à busca do lucro. Os seus propagandistas, os comentadores, os economistas estão convencidos ou tentam convencer os outros de que não há alternativas ao mercado e ao capitalismo dos mercados. São profetas da morte, inimigos da vida, atiram para a valeta todos os que são rejeitados pela máquina mas têm contra si todos os que vivem a condição humana, todos os que procuram o sentido da vida. Estes últimos estão do lado da poesia e da vida, revoltam-se em Atenas e Barcelona, não aceitam a ditadura dos mercados, a sua máquina de propaganda nem a mera sobrevivência.

Wednesday, April 04, 2012


Crio
belo
brilho
todo eu sou
criação e
loucura

não espereis de mim
bom senso
comércio
economia
ardem em mim
deuses interiores
demónios
fantasmas
todos eles se guerreiam
e fazem a alma
que voa livre
superior
desmesurada.

AOS TROCOS NO PIOLHO


15% de desemprego. O país está a saque. Nem Passos, nem sacrifícios, nem coisa nenhuma. E eu aqui no Piolho a beber finos. Ainda posso beber finos. Contudo, metem-me nojo aqueles que roubam, facturam e enchem os bolsos enquanto eu estou aqui a contar os trocos. De que reino vêm eles? De que reino vêm eles que não é o meu? Nem alma possuem esses indivíduos. E eu aqui a contar os trocos para ir ao Pinguim dizer umas baboseiras. Os políticos guerreiam-se a troco de ninharias e eu aqui aos trocos. Deveria reclamar as quintas de Braga e Cabeceiras. Que são eles mais do que eu? Não nasci sob o mesmo sol, não fui iluminado pelas mesmas estrelas. Tiroteio em Ockland, Califórnia, USA. Terrorismo na América. Quem sou aqui à espera da dama? Sempre á espera da dama de porcelana. Porque não aparece um mecenas que financie a revolução? Há-de haver por aí um mecenas. Quem sou eu? Que guerrilha é a minha? Quantos guerrilheiros tenho do meu lado? Para quê viver aqui dizer poesia quando muitos já estão mortos?

Viveis mortos
amais mortos
obedeceis mortos
assim permanecereis
por mil anos
até ao romper
do feitiço.

O que vai valendo é a cerveja. Bebo e produzo. Se bebesse todos os dias, todas as noites, mais produziria. Porque é que as mulheres não se aproximam mais de mim? Terão medo? Quem sou eu? Um xamã, um enviado dos céus? Quem me engrandece a alma? Quem me dá luz no Piolho? Quem sou eu? Que venho aqui fazer? Porque não ganho dinheiro como os outros? É uma espécie de maldição ou é uma bênção? Continuarei a viver de rendas? Quem sou eu? Diz-me tu. Entre Álvaro de Campos e Che Guevara. Entre a Goreti e a Márcia Vara. Entre amigos e inimigos. Quem sou eu? Que venho aqui fazer? Onde estás tu, hoje? Quem vem dançar comigo? Quem vem comigo até ao fim do mundo? Quem sou eu, louco, maldito, filho do fogo? Que me dais hoje? Onde vou parar? Tanto faz, tanto faz. Que é feito desse rapaz que percorria as ruas de Braga? Que é feito desse rapaz? Não suporto mais as conversas. Não suporto mais as conversas. Estou para lá. Sou de lá. Sou da Sé, como o Che. Tantas noites. Tantas farras. Quem és tu, hoje, esta noite, em Braga, no Porto, em Almada?

Monday, April 02, 2012

COMO O JAIME E COMO O PACHECO


Estou no Piolho. Não espero ninguém. Apareceu o Toni Simões de Braga. Pagou-me dois finos. De facto, estou como o Luíz Pacheco, como o Jaime Lousa. Vou cravando uns trocos. Sou o poeta do Piolho. Aqui permaneço. Aqui reino. Começa a ser tempo de publicar um livro novo. O fernando Alvim encomendou-me um manual de instruções sobre a Revolução. Já comecei a escrevê-lo. Tenho de reler Marx, Proudhon, Bakunine. Vou também ver o jogo do Braga a ver se o Braga passa para primeiro. Estou mesmo como o Jaime e como o Pacheco. Um poeta que vive como poeta. Um poeta do amor louco. Um poeta que escreve à mesa do Piolho enquanto as mulheres não vêm. Gostava mesmo que o Braga ganhasse. Sou de lá, mesmo que vá lá menos vezes agora. Nunca mais vi o Rocha. Fazem-me falta as suas análises sociológicas. De resto, o debate intelectual anda muito pobre. Mais vale um homem dedicar-se à escrita. Enquanto houver papel, caneta, mesa e cadeiras está-se bem. Olha, o Sebastião Alba escrevia nos bancos de jardim à luz dos candeeiros. Espero não chegar a esse ponto. Se estivesse na Grécia antiga era tratado como um rei. Agora tenho de gramar cretinos como o Mourinho na televisão. Talvez me passem a pagar para escrever ou para dizer poesia. Estou mesmo como o Jaime e como o Pacheco. Oxalá o Braga ganhe.

Queria entrar na televisão
e beijar todas as mulheres belas
na boca.