Friday, December 07, 2012

HOMEM LIVRE

Penso que hoje poderia passar dia e noite a escrever. Posso até gerar estrelas de tal forma me sinto grávido. Posso também ouvir os meus semelhantes que se queixam e estão mortos por chegar a casa. Chegar a casa. Chegar a casa, ligar a TV e olhar para as imagens, as imagens que vivem por nós em vez das imagens que podemos gerar, de tudo o que podemos gerar. Ó senhores, que “vida” levais? Sois escravos, todos vós. Ainda não percebestes que nada está acima da vida, da vida autêntica. Seres de luz vêm ter comigo e dizem-mo. Para alcançar a glória basto-me a mim mesmo. Para alcançar a glória basta-me estar aqui nesta confeitaria de Vilar do Pinheiro. Peregrinações virão a Vilar do Pinheiro. Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Estou louco. Não vedes? Absolutamente louco, absolutamente criança, absolutamente sem limites. O que fazer mais hoje? O que fazer mais aqui? Danço com o super-homem. Brindo, celebro. Estou louco, mãe. Porque me trouxeste para aqui? Parecia que vinha para a vida regrada mas não vim. Aos 17/18, aos 19, aos 20, tornei-me outro. Em Braga, nos bares, na Rádio Clube do Minho. Os Doors, os Joy Division, os UHF. A TV sempre a martelar. Mas eu era diferente, tornei-me diferente. Ah! Não me atirem dívidas, contas, economistas! Eu estou para lá. Eu nasci para lá. Reinos esplendorosos, reinos de luz. Sou tão louco, mãe. Eu inventava jogos, personagens. Eu criei mundos. Eu naveguei por mares jamais navegados. Eu brincava com as meninas. Tinha uma namorada, a Gina. Dava-lhe a mão, dava-lhe beijos. Já nem sei quem sou, mãe. Sei que não pertenço a este mundo. Poucos e poucas realmente me compreenderam. Velhos amigos, à noite, no bar. Onde irei dar? Estou realmente próximo de atingir o que quero. Mas que quero eu senão o mundo? O mundo de aquém e o de além.
Homem livre, és verdadeiramente tu. Homem livre, porque adormeces e agora regressas à vida? Homem livre, eles realmente acham-te estranho, diferente deles. Não és da mesma tribo, talvez até nem sejas da mesma espécie. Não lutas na mesma guerra. Não são teus os tambores que ouves. Homem livre, és daqui e não és. Tanto podes ser rei como podes acabar nas ruas. Continuarás o teu percurso pelos bares e pelas tascas. Este é o teu tempo. Olha, a mulher da confeitaria olhou para o “Socialismo Científico” de Marx, Engels e Lenine que acabaste de ler hoje. Há livros que ainda podem ser explosivos. Tu és explosivo, homem livre. Com ou sem óculos. Poderias realmente passar o dia e a noite a escrever. Voltaste a ser o único cliente da confeitaria. A mulher não pára de trabalhar. Tens publicado textos falhados ou semi-falhados. Este não é um deles.

2 comments:

Jânio Lima said...

"HOMEM LIVRE" essa busca implacavel nunca acaba...

A. Pedro Ribeiro said...

obrigado, amigo. Abraço.