Thursday, November 22, 2012

SEGUE A TUA ESTRELA

Os debates dos políticos e dos economistas incomodam-me. Só se fala de economia, não se discute o homem integral. O homem que quer crescer, que quer o paraíso na terra. O mundo está cheio de castradores, de forças que querem destruir a nossa individualidade, a nossa alma. Governos, especuladores, máquinas de propaganda. Todos eles nos querem roubar o amor, todos eles nos querem separar, isolar, impedir que dêmos as mãos. Entram nas mentes, nos corações das pessoas, tornam-nas falsas, dissimuladas, frias. E depois elas tratam-nos mal, enganam-nos, querem mandar em nós. O capitalismo e a sua máquina destroem as pessoas, tornam-nas competitivas, negociantes, merceeiras, manipuladoras. Convencem-nos também de que não há alternativa possível, que até é possível ser feliz debaixo das suas condições. Mas nós queremos realmente crescer no amor, na liberdade, na poesia. Queremos voltar ao xamã, ao grande espírito. Sabemos que é uma luta constante. Eles vêem-nos sós, deprimidos, desanimados e tentam apoderar-se de nós, mandar em nós. De forma a que aceitemos ser governados, submetidos, manipulados. Mas depois há uma estrela em nós, dentro de nós, uma estrela que nos diz que nós não somos como eles, que nós não viemos para servir nem para andarmos cabisbaixos. Não temos de andar atrás da selecção nacional, não temos de andar atrás da publicidade, não temos de seguir governo nenhum, não temos de andar atrás do grupo, nem da massa, nem da maioria. Não temos de ser direitinhos, alinhadinhos. Somos pensamento, somos vida. No papel expressamos o que somos. Somos também a música que nos eleva. "The End" dos Doors ou "Love Will Tear Us Apart" dos Joy Division. Estamos aqui para nos questionarmos. Estamos aqui para dizer que não aceitamos a vossa "felicidade", essa que nos vendeis todos os dias, mesmo que venha acompanhada das imagens das mulheres mais belas, mesmo que, por vezes, quase nos deixemos levar por ela. Não, a felicidade não é isso. A felicidade é poder dialogar com Jesus, Sócrates e Nietzsche, a felicidade é conversar, discutir com os amigos e as amigas, a felicidade é celebrar a noite e o dia, subir ao palco, dizer a palavra, a felicidade é amar livremente, sem castrações nem máquinas de propaganda, a felicidade é aumentar a alma e a vida, é tomar parte do banquete permanente. Vivamos o banquete, derrubemos a máquina. Aí seremos plenos, criadores, super-homens. As nossas potencialidades serão infinitas. Vive o homem livre, o homem nobre, companheiro, companheira. Apaga a televisão. Não te deixes mais levar pela conversa. Não te deixes tornar naquele que eles querem que sejas. Torna-te naquele que és. Naquele que se descobre, naquele que se encontra. Sê verdadeiramente revolucionário. Segue a tua estrela.

Friday, November 09, 2012

DA VIDA

Edição 82, 9 Novembro 2012 DA VIDA Não se tem de andar constantemente de pistola na mão a apelar à revolta e à revolução. Contudo, penso que, nos tempos que correm (e em todos os tempos...), não faz sentido que o poeta, o escritor e o intelectual não se pronunciem de forma crítica sobre a sociedade em que vivem. Temos de denunciar que a vida assim não é vida. Que há forças que se escondem por detrás das medidas fascizantes dos governantes. Que há essa entidade a que chamam os mercados, a quem todos obedecem. Que há os "credores", os especuladores, a bolsa, os banqueiros, os economistas, os grandes empresários, essa gente altamente recomendável. É preciso dizer que todos eles nos chulam, nos roubam, nos vão dando cabo da vida. E a vida é o que realmente interessa, como dizia Henry Miller. A vida é respirar, é estar vivo, é estar aqui mas é também gozar o instante, construir o presente, amar o próximo e o longínquo, mexer os dedos e a caneta, andar à solta sem imposições, sem castrações, sem culpas. A vida é certamente a liberdade livre de Sade e dos surrealistas, não o trabalho, não o sacrifício, não o que nos obrigam a fazer. A vida é certamente acordar contigo, ouvir as fontes e os pássaros, dançar em redor da fogueira, como cantava Morrison. A vida é certamente tirar todos esses imbecis do poder, caciques locais de Câmara e de Junta incluídos. A vida é ajudar esta gente a sair da cegueira, como fazia Sócrates, como fazia Shakespeare. Café São Cristóvão, Braga, 2.11.2012 --- EU ACUSO! Todo o percurso que fiz até aqui. O rapaz que era. A timidez. A dificuldade de me relaciionar com as raparigas. Os versos que então escrevia. Já então pensava muito. Depois veio a noite, os copos, os concertos. Descobria a liberdade no Tuaregue, no Deslize, em Braga, na Rua Nova de Santa Cruz. Tornei-me então outro, aquele que sobressaía, que provocava, que dançava. Mas as grandes depressões travaram a minha caminhada. Fiquei inerte, insoluvelmente melancólico, incomunicável. Passavam-se os meses dolorosamente e, aos poucos, readquiria a vida. Fui para o palco, cantei, recitei, fiz a festa. Agora estou aqui, aos 44 anos, mais sábio, mais virtuoso, mas ainda desejoso de passar para o outro lado. Ainda morrisoniano, nietzscheano, consciente de que a vida não se resume a uma fórmula única e irreversível. Consciente de que os medíocres que nos governam e querem controlar não passam de uns imbecis sem alma nem coração, sem inteligência. Consciente de que posso chegar ao palco e dizê-lo. Consciente de que nada há a perder, de que fiz o meu percurso e de que não devo nada a ninguém. Posso estar aqui sozinho na confeitaria com os meus livros mas acuso esses medíocres do poder de destruírem a vida, de matarem de fome, tédio e depressão, de darem cabo de tudo quanto é arte, belo, exuberância, de assassinarem a juventude e a infância, de amputarem a liberdade e o amor. Acuso-os de não fazerem parte da humanidade, nem da vida. --- A NOVA ERA A verdadeira vida é poética. Rimbaud disse que no mundo da prosa, "a verdadeira vida está ausente". O estado prosaico é utilitário e funcional e inclui, nas palavras de Edgar Morin, o sobreviver, o ganhar a vida, "o trabalho opressor, monótono, parcela, na ausência ou no recalcamento da afectividade". É o mundo da economia, do acumular dinheiro, da exploração, dos mercados, do tédio. Em contrapartida, a poesia é celebração, comunhão, embriaguez, dança, canto, música, transe, êxtase, maravilhamento com o belo e, claro, amor. A revolução só pode estar do lado da poesia, do amor, da liberdade, como diziam os surrealistas. É aí que o homem renascido se realiza. Não no sacrifício, não na culpa, não no pecado. Não numa "vida" sem novidade, sem curiosidade, sem descoberta. Não faz sentido vir ao mundo para sofrer, para ser humilhado, para andar deprimido, para pensar constantemente no suicídio. Abracemos a dádiva da vida, construamos um mundo de amor e poesia. Não nos deixemos derrotar pelos cinzentos, pelos pregadores da morte, pelos destruidores da vida. Não trabalhemos mais para eles. Celebremos Dionisos e o homem livre. Quem disse que era impossível? Unamo-nos. Ocupemos as praças. Nós não somos como eles. Nós não viemos explorar ninguém. Não viemos enganar ninguém. O mundo é nosso. Eles não podem roubá-lo mais. Eles não podem destrui-lo mais. Este é o início de uma nova era. Este é o renascimento do homem. Este é o banquete permanente. O homem veio para se ultrapassar, não para andar atrás de migalhas, não para ser escravo de outros homens ou da máquina. O homem veio para se transcender, para abrir novas vias, novos reinos. Todos nós podemos ser deuses. Amamos profundamente a vida. Queremos gozá-la sem entraves. Eles não podem impedir-nos. Eles não podem roubar-nos a poesia. Eles não podem roubar-nos a infância. www.jornalfraternizar.pt.vu

A VERDADEIRA VIDA

Não me convence o Lobo Antunes. Demasiado descritivo. Entretanto, prossigo os meus dias em Braga entre a Sandra e a Goreti. Não consigo dormir. As ideias vêm-me, vêm-se. Volto a ter excelentes motivos para me levantar da cama. O amor acena. O "Um Poeta a Mijar" seria um excelente livro não fossem três ou quatro poemas que precisavam de ser revistos. Talvez o "Queimai o Dinheiro" seja o mais autênt...ico, à semelhança do "Café Paraíso". Enfim, não sei, já vou para o 11º livro. Ainda não criei "a obra" mas hei-de lá chegar. Sinto-me um filósofo ou, pelo menos, um aprendiz. Não acho estupidez nenhuma recorrer ao àlcool ou às drogas. Sobretudo se eles nos ajudam a alcançar um certo paraíso num mundo que os mercadores e os merceeiros têm destruído. Sou, portanto, a favor da legalização das drogas. Já o sou desde os tempos do PSR. Tenho um percurso político de mais de 20 anos. Já poderia ter sido eleito deputado. Mas, enfim, há-de chegar a hora. Ao menos eu vivo aquilo que escrevo. Não estou com grandes floreados. É a minha vida que está nas prosas, nos poemas. Aos quatro anos deixei a infantil ou a pré-primária porque pensava que sabia tudo o que lá se dava. Agora não sei tudo. Desconheço muitos pensadores e artistas. Contudo, cheguei a um ponto em que sou capaz de fazer uma síntese. Cheguei a um ponto em que estou convicto de que a vida não vale a pena se não for vivida, se não for gozada, se não for celebrada. Um homem que passe a vida a fazer contas ou cheio de medo ou cheio de tédio não vive, sobrevive. E muita gente, a maioria clara da população portuguesa limita-se a sobreviver, a tratar da vidinha ou nem isso. Portanto, é claro para mim que o culto da economia e do safanço, aliados à austeridade e aos cortes na saúde, na educação e na segurança social traduzem a não-vida que reina na mente dos imbecis que nos governam e nos querem controlar. Tudo isto acrescido da "overdose" de telenovelas e de futebóis, de imbecilidades como a "Casa dos Segredos" contribui para que sejamos cada vez mais espectadores passivos de um espectáculo que não controlamos. Felizmente, nos últimos tempos, sobretudo no 15 de Setembro, tem subido o número daqueles que protestam contra o governo mas também contra o roubo da verdadeira vida. Isso pode ainda não estar totalmente claro mas há sinais visíveis nos cartazes, nos confrontos com a polícia, nas palavras de ordem, de uma reivindicação não apenas económica mas também vital. "Queremos o mundo e exigimo-lo agora!", volto a Jim Morrison. Queremos de volta a vida que nos tiraram ou nos estão a tirar, queremos aquilo por que viemos à terra, queremos a idade do ouro, o paraíso perdido. Queremos dançar e celebrar sem estar a fazer contas, sem contabilistas.

Thursday, November 08, 2012

VELHOS AMIGOS, ONDE ESTAIS?

"Velhos amigos, onde estais?", canta António Manuel Ribeiro dos UHF. A vida separa-nos. Seguimos um percurso comum. Celebrámos junto a existência com vinho, amizade, cumplicidade. E depois, sem saber porquê, pelas razões mais diversas, desencontramo-nos. Às vezes estupidamente. Às vezes reencontramo-nos passado 10, 20 anos e é a festa. Prometemos novos encontros, telefonemas, mas eles não vêm, não vêm mais. Alexandre, Paula, Zé Né. Onde estais? Esta vida dura, apressada separa-nos.