Wednesday, April 04, 2012

AOS TROCOS NO PIOLHO


15% de desemprego. O país está a saque. Nem Passos, nem sacrifícios, nem coisa nenhuma. E eu aqui no Piolho a beber finos. Ainda posso beber finos. Contudo, metem-me nojo aqueles que roubam, facturam e enchem os bolsos enquanto eu estou aqui a contar os trocos. De que reino vêm eles? De que reino vêm eles que não é o meu? Nem alma possuem esses indivíduos. E eu aqui a contar os trocos para ir ao Pinguim dizer umas baboseiras. Os políticos guerreiam-se a troco de ninharias e eu aqui aos trocos. Deveria reclamar as quintas de Braga e Cabeceiras. Que são eles mais do que eu? Não nasci sob o mesmo sol, não fui iluminado pelas mesmas estrelas. Tiroteio em Ockland, Califórnia, USA. Terrorismo na América. Quem sou aqui à espera da dama? Sempre á espera da dama de porcelana. Porque não aparece um mecenas que financie a revolução? Há-de haver por aí um mecenas. Quem sou eu? Que guerrilha é a minha? Quantos guerrilheiros tenho do meu lado? Para quê viver aqui dizer poesia quando muitos já estão mortos?

Viveis mortos
amais mortos
obedeceis mortos
assim permanecereis
por mil anos
até ao romper
do feitiço.

O que vai valendo é a cerveja. Bebo e produzo. Se bebesse todos os dias, todas as noites, mais produziria. Porque é que as mulheres não se aproximam mais de mim? Terão medo? Quem sou eu? Um xamã, um enviado dos céus? Quem me engrandece a alma? Quem me dá luz no Piolho? Quem sou eu? Que venho aqui fazer? Porque não ganho dinheiro como os outros? É uma espécie de maldição ou é uma bênção? Continuarei a viver de rendas? Quem sou eu? Diz-me tu. Entre Álvaro de Campos e Che Guevara. Entre a Goreti e a Márcia Vara. Entre amigos e inimigos. Quem sou eu? Que venho aqui fazer? Onde estás tu, hoje? Quem vem dançar comigo? Quem vem comigo até ao fim do mundo? Quem sou eu, louco, maldito, filho do fogo? Que me dais hoje? Onde vou parar? Tanto faz, tanto faz. Que é feito desse rapaz que percorria as ruas de Braga? Que é feito desse rapaz? Não suporto mais as conversas. Não suporto mais as conversas. Estou para lá. Sou de lá. Sou da Sé, como o Che. Tantas noites. Tantas farras. Quem és tu, hoje, esta noite, em Braga, no Porto, em Almada?

No comments: