Sunday, December 11, 2011

A LINGUAGEM DO INÍCIO DO MUNDO


A LINGUAGEM DO INÍCIO DO MUNDO

Pensar todo o pensável. Exercitar o pensamento. Poderia passar a vida a pensar. Mas depois há o amor, a liberdade. Acabo por não me fechar totalmente no meu pensamento. Lanço pontes para o mundo. Tenho necessidade de comunicar. Poderia passar os dias aqui em Braga com a Gotucha e dedicar-me ao livro. Ao livro que já está, em parte, em “Nietzsche, Jim Morrison, Henry Miller…” mas que importa continuar a construir. Ao livro que pretende construir o homem. O homem que, apesar das suas fragilidades, se eleva e se enobrece no café. O homem que aspira a ser santo. Que vê o mundo com novos olhos. Cujo pensamento se liberta. Que ainda é o poeta beat mas que dele se afasta. Sou feliz aqui em Braga. Posso dizê-lo. Não sinto isto em mais nenhum lugar. Espero a Gotucha. Ela dá-me o amor. Já não estou deprimido. Estou curado, ouço a voz do meu pai. Não te inquietes mais com o que tens de comer ou de beber. Segue a via. Continua na via que tens seguido e vai-te aperfeiçoando. Lê os mestres. Segue a via que conduz a si mesmo. Áquele que eras quando nasceste. Afasta-te da publicidade e da propaganda. Sê puro cada dia. Não ouças a voz da populaça. Bem sabemos que ainda ligas às glórias do mundo. Bem sabemos que amas o aplauso. Todavia, há em ti a sede de infinito. Há em ti o desejo de ser único. O desejo de beber o cálice sagrado, de o partilhares com as eleitas. Há em ti a vida abundante, a vida pela vida, fora do mercado, mesmo que aparentemente sejas apenas o homem à mesa. Vibras, explodes no acto da criação. Há espíritos que dançam em ti, ó poeta. Não, no fundo, nunca te deixaste enganar pelo ecrã. Não precisas de mediadores, tens-te a ti e à Gotucha. Tens um mundo dentro de ti. Estás inundado de vida plena. Hoje, 10 de Setembro, às 4:20 da tarde, no “Doce Convívio”. Compreendes a linguagem das crianças. Falas a linguagem do início do mundo. Tantas vezes não a conseguiste expressar, tantas vezes tropeçaste nas palavras e agora estás aqui com o olhar inaugural. Cedeste por vezes mas não caíste. Chegaste aqui. Estás no Uno. És único. Agarras a liberdade absoluta. Nada tens a ver, de facto, com os poetas menores. Conhecês-te-os, ouviste-os, mas não és deles. Nunca deste grande importância às flores mas agora começas a ama-las. És, de facto, o poeta. Aquele que vive a obra. Que não passa a vida a pensar na próxima refeição. Aquele que esquece as horas e está com a que esquece as horas. Aquele que toma café despreocupadamente porque está no início do mundo. Aquele que já não tem constrangimentos. Que pode ser aquele que realmente é, sem máscaras. Que tem o universo à sua mesa.

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