Wednesday, December 28, 2011

GORETI

Sou capaz de escrever textos muito bons, geniais segundo alguns. Mas também escrevo textos menores. Ou, pelo menos, repetitivos. Hoje ou amanhã, provavelmente amanhã, faz 19 anos que conheci a Goreti. Aquela menina mudou a minha vida. Para sempre. Aquela menina é um amor quando não desatina.

Monday, December 26, 2011

A MENINA


Uma menina ao fundo. Bonita. Come. Bebe meia-de-leite. Eu olho para ela. As obras na "Motina" nunca mais acabam. Fico-me pelos "Sonhos de Verão". Vai pagar a menina. Vai embora. Não sei o que lhe diria se me sentasse à sua mesa. Passa por mim. A imagem de Jesus na casa em frente. O jornal de hoje não me interessa. Só fala do Natal. A menina parte no seu carrinho. Não me sinto mal no dia a seguir ao Natal. Até julgo que me livrei de um fardo. Há quem comece a trabalhar bem cedo como o puto da confeitaria. Eu, definitivamente, não fui feito para isso. Apenas para escrever estas coisas e outras. Continuo a escrever no caderno. Continuo a escrever nos cafés e nas confeitarias. A ouvir as conversas do povo. A alimentar-me delas.

SOBRE A CRÍTICA DO ALEXANDRE TEIXEIRA MENDES A "CAFÉ PARAÍSO"

O Alexandre Teixeira Mendes situou-me entre o urbano, o beat, os situacionistas e a ebriedade. Penso que me situou bem. De facto, estou nos antípodas do lirismo e do bucolismo. Só uma parte dos meus escritos são realmente bons. Mas quem não tem escritos menores? Sim, sou essencialmente o poeta da urbe, dos cafés, da cidade, fundamentalmente do Porto e de Braga. A aldeia onde moro, Vilar do Pinheiro, é suburbana. Raramente canto as àrvores, as flores, os animais. Depois enquadro-me na filosofia beatnick, na rejeição do mundo do dinheiro, da gravata, do instituído, da norma. Estou com os situacionistas na rejeição da sociedade da troca e do tédio, na construção de um mundo livre, da liberdade absoluta em oposição às prisões quotidianas. Sou da ebriedade, de Dionisos, da loucura, da celebração, da festa, em ruptura com a normalidade, com o vazio deste mundo, com a ditadura dos mercados e da finança.

Saturday, December 24, 2011

TRIP NO PIOLHO

TRIP NO PIOLHO (texto de ANTÓNIO PEDRO RIBEIRO)
[texto de antónio pedro ribeiro]

TRIP NO PIOLHO

Sou o maior poeta vivo. Poderia dizê-lo. Ainda estou vivo e não vejo outros melhores. Talvez esteja a exagerar. Mas o que é que me impede? Pelo menos, tal como Pessoa, escrevo a um ritmo frenético. Sou o maior poeta vivo. Bem, morto não estou. A médica fala-me de AVC's e de ataques cardíacos. Mas eu vou prosseguindo a viagem. Mesmo que venham dilúvios eu vou permanecer aqui. A conversa dos outros é a matéria-prima. Gostava das minhas primas mas já não as vejo há muito tempo. Segui o meu caminho. Para alguns, o caminho da perdição. Já me apelidaram de maldito. Os outros bebem e eu não. Não preciso. Estou com o pedal todo. D. Sebastião em Alcacer-Quibir com um exército de fantasmas. Sou o maior poeta vivo. O que ganho com isso? Ninguém paga a minha arte. Continuo a escrever. É isso que sei fazer. Poderia escrever continuamente durante horas e horas. Gasto tinta e papel. Têm um preço. Mas um valor muito superior. Porque raio é que uma maluca qualquer não vem falar comigo? Sou obrigado a ver jogos em cima de jogos? Sou o maior poeta vivo. Ser ou não ser, eis a questão. Só não utilizo palavras herméticas. Dama oculta, vem ter comigo esta noite. Dá-me o teu coração e a tua beleza. Estou no Piolho à tua espera, antes que chegue o chato do costume. Um homem puxa tanto pela cabeça e é esta a recompensa que tem? Estou lúcido como Álvaro de Campos. Pensar é a minha profissão. Passo os pensamentos para o papel. Hoje sou absolutamente capaz de o fazer. Não há limites, ó velhote do boné. No piolho escrevo o poema infinito. Escreverei até morrer. Emendo aqui e ali. Escrita automática et voilá. Eia, Breton, eia, Péret, eia, Artaud. Volto aos surrealistas. Por um lado, ainda bem que as mulheres não vêm. Nem elas nem ninguém. Produzo livremente. Olha, sou um trabalhador da palavra! E esta, ein, ó Fernando Pessa? Um operário da palavra. Um proletário, logo eu. Tantas vezes acusado de preguiça, de desleixo, de vadiagem. Sou vadio mas produzo. Vou montar uma fábrica. Empresário, eu? Deus me livre! E o que é que Deus tem a ver comigo? E o que é que é Deus? Porque se fala tanto em Deus? Deus morreu. Deus nunca existiu. Sou o maior poeta vivo. Bebo copos com ninguém. Estou em tertúlia comigo próprio. Olho as horas. Penso. Todo eu sou pensamento. Mas a miúda da mesa do lado fala. Existe. O velhote do boné também e o Adriano e os outros empregados e o sr. Martins e a Via Láctea e o Universo talvez até Deus
Poderia passar a vida a ler lia, comia, bebia, mijava, cagava e nem sequer fodia porque não me faria falta aliás, acho que se dá demasiada importância ao sexo posso viver como Fernando Pessoa posso julgar-me ao nível dele acho que vou voltar aos crofts e às macieiras há vinte anos em Ofir estava num determinado caminho de excesso a seguir uma via muito própria era único mas depois desviei-me as moedas em cima da mesa chegam para o café as duas miúdas que entraram são engraçadas o ministro das Finanças deprime-me se tivesse a carteira recheada ficava noite fora a beber tive dinheiro em Junho mas fiquei com tonturas por causa dos quadrados e dos rectângulos no chão ouço os meus semelhantes mas eles não me conseguem surpreender porra a merda do café também dá cá um speed imagina se passasse a tomar seis ou sete por dia o que não seria? Passar o dia inteiro a produzir sou o maior poeta vivo sou o pateta da caneta sou aquele que espera e não cai vou parar um pouco vou mijar interromper a obra-prima já disse, não vejo as minhas primas há muito tempo até gostava muito de uma mas enfim, não lhe liguei armei-me em poeta há qualquer droga que me faz escrever assim ou vem tudo da mente? Demente já fui agora sou um cidadão respeitável que vem escrever para o Piolho e que não deixa dívidas há 20 anos andei aqui aos berros por causa do Fidel o Tintin no ecrã o capitão Haddock com mil raios etc e tal chegarei a casa vivo ou desfalecerei exausto de trabalho? Tomai lá, ó obreiristas! Quem me explora? Onde está o meu salário?

[texto de antónio pedro ribeiro]

"CAFÉ PARAÍSO" NA "BRASILEIRA" DE BRAGA


As palavras são de António Pedro Ribeiro, na Brasileira de Braga, numa casa cheia, saboreando o “Café Paraíso” e partilhando poemas de café com amigos: “Faço declarações de amor a Braga e à Brasileira. Sou o poeta da Brasileira e do Piolho. (…) A cidade está viva e eu também.“. O jornalista Alexandre Praça contou histórias de tempos revolucionários e a fotógrafa Ângela Berlinde elogiou a poesia de António Pedro Ribeiro, o único poeta de café e um homem do mundo.

Friday, December 16, 2011

NA PÓVOA


Na Póvoa, de novo. Escrever é fazer parte do mistério. É cantar o mundo, cantar a vida. É estar aqui parado a puxar pela cabeça, é ir ao fundo do problema.
É também estar aqui a beber cerveja. A observar os outros. A agarrar a vida. Hoje tenho cacau nos bolsos para desbundar. Sou um escritor. Escrevo. Vivo das palavras. Venho ao local de encontro com duas horas de antecedência. Vou até Montalegre filmar. Bebo. Sou contra o mundo. Não aceito os mercados nem os governos dos mercados. Não tenho de alinhar com os alinhados. Sou um poeta maldito. Bebo. Estou à mesa. Começo a ficar farto dos poemas de café. Quero ser um poeta maior. Farto-me que digam que sou o último dos poetas de café. Quero ser maior. Como Rimbaud, como Shakespeare. Quero escrever como um bardo. Estou a caminho do reconhecimento em vida. Sim, agora sinto-o. Estou na via. Apesar das doenças, estou na via. Não me tirais isso, ó vendilhões. Não me tirais isso, ó merceeiros. Bebo. Estou ébrio de vida. Celebro a vida. Sou o poeta à mesa que aguarda o Conde Ferreira. Bebo porque tenho o direito de beber. Bebo porque estou à mesa vivo. Os outros abandonaram o café. Eu estou vivo. Mais vivo do que nunca. Escrever é a minha missão. Sou o homem que escreve em frente ao copo. Nada mais. Se tivesse mais dinheiro passava o dia a beber. Claro, conversava com as minhas amigas. Não, não alinho nessa estratégia de esconder-me do mundo, nesse colocar-me totalmente à margem. Sou de mim. Sou dono do copo. Escrevo o que me apetece, o que me dá na real gana. Não sou, de facto, inferior a alguns que andam por aí a pavonear-se. Venho dos grandes. Nada tenho a ver com o BPN nem com o Cavaco. Sou um homem livre, pronto a enfrentar o mundo. Estou aqui na Póvoa. A Póvoa já me deu muito. Estou como o Jaime com dinheiro para a cerveja. Já não sou do Bloco de Esquerda. Mas ainda tenho opiniões políticas. Não quero bancos. Não gosto de bancos. Nem sequer tenho conta bancária. Os mercados fodem-me a cabeça. A Europa a ruir e eu aqui. Sou louco, muito louco. Estou-me nas tintas para a Merkel! Quero a Europa a cair de vez. Esta Europa. Também não atino com governos de banqueiros e tecnocratas. Estou farto. O que é que o Lobo Antunes diz mais do que eu? Eu escrevo sobre mim próprio. Fernando Pessoa também o fazia. Não estou em crise. Não atireis a crise para cima de mim. Sou escritor. Publico livros. Ganho algum dinheiro com os livros. Não tenho que obedecer ao governo, não tenho de dar o benefício da dúvida ao governo. Odeio o governo. Defendo um golpe militar como o Otelo. Não me domesticais. Estou à mesa e escrevo. Faço disso a minha vida. Aqui na Póvoa, hoje, proclamo a minha soberania. Não me atireis Cavacos! Não me obrigueis a ouvi-lo. Estou farto desses chacais. Sou o homem do mundo. Sou o homem que dança. Bebo. Com todo o direito. Já não sou nenhum puto. Bebo, porra! Não me venhais dizer o que tenho de fazer. Bebo, sou bêbado, tenho todo o direito a sê-lo. Não me atireis cavacos. Não me atireis conversa fiada. Estou farto do Passos e do Cavaco. Quero que caiam! Estou farto do paleio da economia. Não, não conteis comigo. Eu estou na estrada certa. Eu estou na estrada larga. Sou de Whitman, de Miller. Não sou dos menores. Estou farto de menores. Escrevo. Faço horas neste café à espera do Conde Ferreira, como em Paredes de Coura. Vivo. Tenho palavras, solto palavras. Sou o anjo maldito. Não sou dos mercados. Quero que os mercados se fodam e o Paulo Bento também! Basta! Estou farto de mediocridades. Estou farto de poetas menores. Sinceramente, depois do décimo livro, já não me situo no clube dos poetas menores. Sinceramente já percorri um caminho. Não sou dos que se andam para aí a pavonear-se. Sou Deus. Eterno e omnipresente. Nada tenho a perder. Tenho tudo a ganhar. Não, não me atireis os escritores da moda. Estou farto deles. Escrevo melhor do que eles. Sou capaz. Eu sei que sou capaz. Não, nada de menoridades. Sinceramente, ao décimo livro, atingi um patamar. Não sou o poeta da moda. Não sou o poeta “in”. Vou até ao fim. Farto-me de futeboleiros.

Sunday, December 11, 2011

A LINGUAGEM DO INÍCIO DO MUNDO


A LINGUAGEM DO INÍCIO DO MUNDO

Pensar todo o pensável. Exercitar o pensamento. Poderia passar a vida a pensar. Mas depois há o amor, a liberdade. Acabo por não me fechar totalmente no meu pensamento. Lanço pontes para o mundo. Tenho necessidade de comunicar. Poderia passar os dias aqui em Braga com a Gotucha e dedicar-me ao livro. Ao livro que já está, em parte, em “Nietzsche, Jim Morrison, Henry Miller…” mas que importa continuar a construir. Ao livro que pretende construir o homem. O homem que, apesar das suas fragilidades, se eleva e se enobrece no café. O homem que aspira a ser santo. Que vê o mundo com novos olhos. Cujo pensamento se liberta. Que ainda é o poeta beat mas que dele se afasta. Sou feliz aqui em Braga. Posso dizê-lo. Não sinto isto em mais nenhum lugar. Espero a Gotucha. Ela dá-me o amor. Já não estou deprimido. Estou curado, ouço a voz do meu pai. Não te inquietes mais com o que tens de comer ou de beber. Segue a via. Continua na via que tens seguido e vai-te aperfeiçoando. Lê os mestres. Segue a via que conduz a si mesmo. Áquele que eras quando nasceste. Afasta-te da publicidade e da propaganda. Sê puro cada dia. Não ouças a voz da populaça. Bem sabemos que ainda ligas às glórias do mundo. Bem sabemos que amas o aplauso. Todavia, há em ti a sede de infinito. Há em ti o desejo de ser único. O desejo de beber o cálice sagrado, de o partilhares com as eleitas. Há em ti a vida abundante, a vida pela vida, fora do mercado, mesmo que aparentemente sejas apenas o homem à mesa. Vibras, explodes no acto da criação. Há espíritos que dançam em ti, ó poeta. Não, no fundo, nunca te deixaste enganar pelo ecrã. Não precisas de mediadores, tens-te a ti e à Gotucha. Tens um mundo dentro de ti. Estás inundado de vida plena. Hoje, 10 de Setembro, às 4:20 da tarde, no “Doce Convívio”. Compreendes a linguagem das crianças. Falas a linguagem do início do mundo. Tantas vezes não a conseguiste expressar, tantas vezes tropeçaste nas palavras e agora estás aqui com o olhar inaugural. Cedeste por vezes mas não caíste. Chegaste aqui. Estás no Uno. És único. Agarras a liberdade absoluta. Nada tens a ver, de facto, com os poetas menores. Conhecês-te-os, ouviste-os, mas não és deles. Nunca deste grande importância às flores mas agora começas a ama-las. És, de facto, o poeta. Aquele que vive a obra. Que não passa a vida a pensar na próxima refeição. Aquele que esquece as horas e está com a que esquece as horas. Aquele que toma café despreocupadamente porque está no início do mundo. Aquele que já não tem constrangimentos. Que pode ser aquele que realmente é, sem máscaras. Que tem o universo à sua mesa.

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Monday, December 05, 2011

O MEDO DE VIVER


O MEDO DE VIVER

por: António Pedro Ribeiro

A nossa sociedade está dominada pelo medo.
Como diz Joaquín EStefanía em "A Economia do Medo":
"hoje não se trata somente dos temores tradicionais da morte, do inferno, da doença, da velhice, do terrorismo, da guerra, da fome, das radiações nucleares, dos desastres naturais, das catástrofes ambientais, mas também do medo de um novo poder denominado de ditadura dos mercados, que tende a reduzir os benefícios sociais e as conquistas da cidadania do último meio século".
A ditadura dos mercados, entidade sem rosto, reduz-nos, via media, ao medo e à impotência.
Todos lhe prestam vassalagem, mesmo que aparentemente a critiquem, desde os governantes europeus e nacionais aos politiqueiros da oposição moderada.
E o medo impõe-se por todo o lado,
"o medo é uma emoção que imobiliza, que neutraliza, que não permite actuar nem tomar decisões com naturalidade",
ainda Estefanía:
"os que exercem o poder submetem os medrosos e injectam-lhes a passividade e a privatização das suas vidas quotidianas, levando-os a refugiarem-se no lar".
Daí que tenhamos uma sociedade ao estilo da do "Big Brother" de George Orwell onde todos desconfiam de todos, onde o companheirismo, a espontaneidade, o comunicar com o desconhecido começam a rarear.
Todos se fecham na sua concha.
É a sociedade-espectáculo de Guy Debord onde nos limitamos a ser espectadores de um filme que não controlamos, onde mulheres de sonho se passeiam pelos ecrãs sem que as possamos tocar.
É a sociedade da compra e venda em que por detrás de uma aparencia de alguma afabilidade se escondem os monstros da ganância, da rapina, da contabilidade, do economês, do medo: do medo de ficar desempregado, do medo dos jovens não arranjarem trabalho por muito que estudem, do medo de empobrecer, do medo de gastar o que temos porque aparentemente nem sequer é nosso.
Segundo Joaquín Estefanía:
"para nossa desgraça isto cada dia se parece mais com a Grande Depressão. Nunca antes tão poucos deveram tanto dinheiro a tantos".
Eis no que deu o capitalismo, eis no que deu a ditadura dos mercados: no medo de viver, no medo de existir.
É absolutamente trágico.

Saturday, December 03, 2011

SOPHIA

«Os ricos nunca perdem a jogada
Nunca fazem um erro. Espiam
E esperam os erros dos outros
Administram os erros dos outros
São hábeis e sábios
Têm uma larga experiência do poder
E quando não podem usar a própria força
Usam a fraqueza dos outros
Apostam na fraqueza dos outros
E ganham
Tecem uma grande rede de estratagemas
Uma grande armadilha invisível
E devagar desviam o inimigo para o seu terreno
Para o sacrificar como um toiro na arena.

Sophia de Mello Breyner Andersen
(Os Gracos. I Acto. II Cena – Obras completas - 1968)

Friday, December 02, 2011

A NOSSA HORA


A NOSSA HORA

Senhores sem escravos
eis a nossa sina
somos lúcidos, porra!
Discernimos
o bem da porcaria
vimos de outros lugares
da santa loucura
cremos na honra
cavaleiros do caos
e da nova aurora
não somos da moeda
mesmo que a usemos
somos lúcidos, porra!
Não vimos cantar as florzinhas
nada devemos a ninguém
caminhamos de cabeça erguida
bebemos o cálice da honra

cometemos erros, é certo
mas não temos
de carregar a cruz
bebemos com honra
nada temos que ver
com o vosso calendário
com o vosso quotidiano
com a vossa hora

fomos nobres outrora
reis, profetas
arautos da glória
odiamos o pequeno
a pequena intriga
vimos de Shakespeare, de Sócrates,
de Nietzsche
amamos a sabedoria
queremo-la como à mulher
ao balcão
que se insinua
loucos divinos
eis o que já disseram de nós
afastai de mim
esses versejadores menores
temos a honra, porra
Jaime, Carlos
temos a honra
meu pai
temos a glória
bem podem tentar
encerrar-nos no manicómio
bem podem tentar
converter-nos à máquina
nós fraquejamos
mas voltamos sempre
não somos da bola
somos eternos
magníficos
capazes da maldade
e da ternura
não, não nos confundais
com os menores
amamos o abismo e a loucura
combatemos ao lado
dos leões e das àguias
rompemos correntes
não, não espereis de nós
benevolência
sabemos ser amáveis, é certo
mas trazemos a espada
queremos as nossas damas de volta!
Queremos, como os aqueus,
a nossa Helena
estamos prontos para a guerra
tremei, ó menores,
chegou a hora.

Vilar do Pinheiro, Café Central, 1.12.2011



OS CEGOS E OS IMBECIS



Segundo a "Transparência Internacional", organização global da sociedade civil, a corrupção no sector público é um dos principais factores da crise da dívida em Portugal. Ainda de acordo com a organização, "os países da zona euro que sofrem crises da dívida, em parte devido à falha das autoridades públicas em combater o suborno e a evasão fiscal que são motores fundamentais dessa mesma crise" estão entre os estados da União Europeia com pontuações mais desfavoráveis.
Eis a origem da "nossa" dívida. Passos Coelho anda a sacar os subsídios aos reformados e aos funcionários públicos, anda a empobrecer os portugueses, em nome de dívidas contraídas por corruptos e burlões da política e da economia. Eis a moral dos governantes, dos mercados e dos banqueiros. Não temos de pagar dívida nenhuma. Não contraímos dívida nenhuma. Passos Coelho, Cavaco e os burlões que paguem a dívida. Deixemos, de uma vez por todas, em Portugal, como na Itália, como na Grécia, de acreditar nas patranhas que esses senhores nos vendem todos os dias. Deixemos de acreditar no Pai Natal e na banha da cobra. Acordemos de uma vez por todas. O império está a cair. Já mal disfarça. Deixemos de ser os cegos que se deixam dominar por este bando de imbecis, como dizia Shakespeare. Elevemo-nos, tornemo-nos senhores, cavaleiros, como outrora. Nada paga a nossa honra.


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