Friday, November 11, 2011

A. PEDRO RIBEIRO NA WORLD ART FRIENDS


A. Pedro Ribeiro ou António Pedro Ribeiro nasceu no Porto no Maio de 68. Tem permanecido em Braga, Porto, Trofa e Vilar do Pinheiro (Vila do Conde). Está a lançar o livro de crónicas e pensamentos "Nietzsche, Jim Morrison, Henry Miller, os Mercados e Outras Conversas" (Corpos/World Art Friends" e publicou as obras de poesia "Um Poeta no Piolho" (Corpos, 2009), "Queimai o Dinheiro" (Corpos, 2009), "Um Poeta a Mijar" (Corpos, 2007), "Saloon" (Edições Mortas, 2007), "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro" (Objecto Cardíaco, 2006), "Sexo, Noitadas e Rock n' Roll" (Pirata, 2004), "Á Mesa do Homem Só. Estórias" (Silêncio da Gaveta, 2001) e "Gritos. Murmúrios" (Com Rui Soares, Grémio Lusíada, 1988). É fundador da revista literária "Aguasfurtadas". Colaborou o colabora nas revistas "Piolho", "A Voz de Deus", "Cráse", "Bíblia", entre outras. Actuou como diseur/performer nos Festivais de Paredes de Coura de 2006 (ao lado de Adolfo Luxúria Canibal e Isaque Ferreira) e de 2009 (com a banda Mana Calórica) e nas "Quintas de Leitura" do Teatro Campo Alegre em Outubro de 2009 com o espectáculo "Um Poeta no Sapato", local onde regressa a 26 de Maio com a performance "Se me Pagares uma Cerveja estás a Financiar a Revolução", acompanhado de Susana Guimarães. Coordena, com Luís Carvalho, as sessões de "Poesia de Choque" no Clube Literário do Porto e tem dinamizado as sessões de poesia dos bares Púcaros e Pinguim, no Porto. Foi activista estudantil na Faculdade de Letras do Porto e no Jornal Universitário do Porto. É licenciado em Sociologia e é cronista em jornais. Há quem lhe chame provocador, agitador profissional.

És um dos poetas portugueses com maior ascensão mediática da atualidade. O que significa para ti estar na moda?


R:Eu não sei se estou na moda. Mas sei que nestes tempos de agitação nacional e internacional os meus poemas e textos têm uma maior receptividade, sobretudo junto da juventude. Julgo que fenómenos como os "Homens da Luta" ou os Deolinda não tem acontecido por acaso, se bem que não se possam comparar a Zéca Afonso, José Mário Branco ou, claro, aos Doors. Contudo, creio que não podemos andar sempre agarrados ao passado. Penso que estamos a atravessar uma fase é que há muita gente que se começa a fartar dos políticos cinzentos, escravos dos mercados e de Bruxelas e mesmo da própria linguagem financeira, que só alguns iluminados entendem. Daí que um certo tipo de escrita mais subversiva, que apele à liberdade e à vida plena, entre mais nas pessoas. Acrescento, no entanto, que a moda e a fama, como há vários exemplos na história da arte, podem ser perigosas e criar ilusões desmedidas.

Uma das tuas facetas mais conhecidas é a declamação. Consegues reunir à tua volta mesmo quem por norma não gosta de Poesia. Fala-nos deste fenómeno.

R: Penso que isso também tem que ver com a resposta anterior. Eu não escrevo só textos subversivos ou sarcásticos mas creio que no contexto actual há um conjunto de pessoas que não se revê em certa poesia mais lírica, que eu respeito, e que aderem mais a algo que tenha a ver com a revolução interior, com as questões que colocam a si próprias no dia-a-dia, com a revolta pura e simples perante um mundo que não serve. Digo poesia há mais de 22 anos, já fui vaiado, já tive recepções indiferentes, mas também tive, digamos assim, noites de glória, onde há pessoas que se comovem e que vem falar comigo no fim. Eu não vou dizer que falo a linguagem do cidadão comum, nem sequer ando atrás de maiorias, mas penso que, e este último livro é também um livro de reflexão, que a minha linguagem, talvez por influência do jornalista que já fui, não é hermética nem difícil e fala da vida concreta, não a vida da mecearia, mas, muitas vezes, a vida do homem que vai ao café ou ao bar e observa os outros, sendo também actor. Por outro lado, para dizer bem um texto meu ou de outro, eu tenho de senti-lo. Penso que é também por viver sobretudo os meus textos que as pessoas aderem mais.

Onde entra, na tua carreira artística, o A.Pedro Político?

R:A política, para mim, não faz sentido sem a arte. Como diziam os surrealistas é impossível separar os problemas do amor, da liberdade, da revolução. Fui militante do PSR e do Bloco de Esquerda e candidato a várias coisas mas fartei-me da separação dirigentes/dirigidos e duma linguagem eleitoralista, quase sempre económica, que não questiona o que estamos a fazer aqui, o sentido da vida. Eu intervenho na praça pública. Ainda há dias fui dizer poemas contra os mercados e os banqueiros para a Avenida dos Aliados. Tenho colaborado com organizações anarquistas. Mas sei que o essencial é a construção de um homem novo, na esteira de Nietzsche, Jim Morrison, Henry Miller e mesmo Jesus, um homem livre que dance e cante, que ultrapasse o homem pequeno dos mercados, da competição e da mercearia. É por esse homem que me bato

Qual foi para ti o momento mais alto, até agora, da tua carreira?

R: O momento mais alto da minha carreira foi a actuação no Festival de Paredes de Coura 2006 ao lado do Adolfo Luxúria Canibal e do Isaque Ferreira. Foi no Centro Cultural. Estavam 500/600 pessoas. Eu improvisei. As pessoas riam, divertiam-se, tive uma ovação enorme. Depois veio a bad trip. A fama subiu-me à cabeça...ouvia vozes, tive alucinações.

Fala-nos dos teus projetos futuros.

R: Quero que os meus livros andem por todo o lado, como a Bíblia.


Obras marcantes:
"Assim Falava Zaratustra", Nietzsche.
"Plexus", Henry Miller.
"Os Cantos de Maldoror", Lautréamont.

Fonte de inspiração:
Algumas mulheres.
Tudo o que me rodeia.

Filme Preferido:
"Appocalipse Now", Francis Ford Coppola.

Canção de Eleição:
"The End" dos Doors.

Imagem:
a morte de Che Guevara.

Palavra:
Livre.

Jantar:
com aquela que amo.

Thursday, November 10, 2011

OS CHACAIS E OS ABUTRES


"A crise continua a ser aproveitada pelos maiores investidores, entre os quais Warren Buffett. A Berkshire Hathaway investiu 23,9 mil milhões de dólares (17,4 mil milhões de euros) no terceiro timestre do ano, o montante mais elevado dos últimos quinze anos. Na informação revelada em comunicado à SEC, regulador do mercado de capitais norte-americano, a Buffett revela que a maior parte do investimento se concentrou em empresas cotadas dos sectores comercial, industrial e outros."
(Jornal de Notícias, 8/11/2011)

Eis os respeitáveis investidores. Eis o rosto dos mercados, as aves de rapina, os chacais, os abutres, que jogam no casino global e nos sugam o sangue. Warren Buffett, Berkshire Hathaway, afinal há nomes. É a estes senhores que os governos de Obama, Merkel, Sarkozy, Passos Coelho obedecem. É em nome destes senhores que nos pedem a pele e sacrifícios sobre sacrifícios. Que se sacrifiquem o Buffett, o Obama, a Merkel, o Passos, o Sarkozy. Deixemos de lhes confiar o voto e a carteira. Desobedeçamos de uma vez por todas. Declaremos-lhes guerra. Não podemos suportar mais facadas. Não permitamos que nos transformem em macacos iguais a eles. Esqueçamos os futebóis e a propaganda que nos vendem nos media. "O carvalhal é nosso!" Eles estão a roubar o que é nosso. "Contra a pilhagem da volúpia, a volúpia da pilhagem", como dizem os Mão Morta.

CAFÉ PARAÍSO


‎1- "Café Paraíso" surge no seguimento de outros livros que publiquei como "Á Mesa do Homem Só", "Saloon", "Um Poeta no Piolho", que têm como pano de fundo a vivência dos cafés e também dos bares. É uma homenagem às figuras do café: o gerente, os empregados de mesa, a mulher que passa, que se passeia ou que está ao balcão, a que às vezes ofereces poemas e que raramente é tua, o bêbado, os teóricos... de café, os revolucionários de café, as tertúlias com poetas, escritores e outros. É também o retrato da cuscovilhice das mulheres, dos homens que passam a semana a falar de futebol sem outro assunto, do louco que berra, dos programas da tarde imbecis que passam na TV. É também o homem à mesa, o poeta, que escreve, lê e observa, que se revolta com o mundo dos mercados e da finança.
LANÇAMENTO ANTÓNIO PEDRO RIBEIRO, PIOLHO, SÁBADO, 12, 18,30H APRESENTAÇÃO CARLOS MAGNO

Friday, November 04, 2011

POETA MALDITO


Ei, tu aí, Wall Street,
julgas-te toda-poderosa
mas não passas de uma treta
ei, vós, bolsas, mercados,
não sois mais
que tigres de papel
ei, multinacionais,
telejornais,
políticos
eu estou aqui
não me deixo levar
pela conversa
o caminho é meu
sofro
mas depois subo
não me condenais
prefiro ir
até ao inferno
ao menos lá
sou autêntico
ao menos lá
sou sincero
parto vidros
ameaço
ponho o país a arder

prefiro ser só
único
irrepetível
vou até ao fim
não me levais
a Europa está perdida
atirais palavras
ao caos
morreis aos poucos
não tendes futuro
"no future"
com os Clash
e os Sex Pistols
agora sou punk
pilho supermercados
não espereis de mim
moderação
estou farto
daquelas histéricas
na televisão
o caos aí à porta
e elas a dar prémios
absurdo
é absurdo
tendes pés de barro
sou o poeta
que vos desafia
hoje, 4 de Novembro
de 2011
cuspo-vos na cara
atiro-vos pedras
como em Atenas
sou o único
basto-me a mim próprio
sou soberano de mim
e das minhas ideias
sou vontade
posso
possuo
crio
destruo
sou eu próprio Deus
não quero notícias
não quero marcas
não quero mentiras
deixai-me a sós
com o meu espírito
deixai-me a sós
com Hamlet
não vos reconheço
não vos cumprimento
na rua
sou de mim
regresso a mim
não trabalho
não quero trabalhar
ide vós trabalhar
16 horas por dia
para o governo
eu não vos pertenço
eu permaneço
aqui neste café às moscas
é noite lá fora
e eu estou iluminado
abençoado pelos deuses
a escrita flui
cavalga
hoje nem sequer espero a mulher
a potência voltou
não sou o Rodrigues dos Santos
nem o Sousa Tavares
eu sou a POTÊNCIA
embriago-me sem álcool
dialogo com Sócrates e Jesus

Ei, Wall Street
ei, Bruxelas
ei, Frankfurt
olhai, sou um pássaro
sou uma luz
bem sei que nem sempre
dou importância à forma
mas este é o poeta maldito
não o queríeis?
Pois, é ele
aqui está
a assustar as velhinhas
e as vizinhas
ele aqui está
mais saudável do que nunca
mais lúcido do que nunca
o café é o seu castelo
daqui combate os inimigos
daqui abraça os amigos
a sua arma é a caneta.

UM ESCRITOR QUE SE PREZE

Um escritor que se preze deve aproveitar a inspiração. Um escritor que se preze deve fazer a revolução. Um escritor que se preze deve permanecer à mesa, deve escrever para o mundo em redor. Um escritor que se preze deve cantar o amor.

Wednesday, November 02, 2011


Poderia talvez escrever um texto épico mas não sei se sou capaz. Poderia invocar os deuses, iluminar-me a meio da tarde chuvosa.
Não consegui passar da segunda página do Lobo Antunes. Não sei se tenho algum problema com o homem. Serei "o homem livre na terra livre"? Não sei, há coisas que me reprimem. As iluminações não vêm. Tenho de escrever o que vem. A mente está bloqueada. Deseja a mulher ao balcão. Poderia escrever um texto épico. Tomei quatro cafés mas não fazem efeito. Estamos a meio da tarde e eu aqui. Acordei demasiado cedo. A Gotucha diz que faço bem em dedicar-me à filosofia e à literatura. O "Café Paraíso" está quase pronto. Não há motivos para andar deprimido. Está um pouco mais de luz lá fora. Não suporto o pimba televisivo da tarde. Possivelmente serei candidato à presidência de uma Câmara. Escrevo desta forma, aparentemente desconexa, como alguém disse. É a minha forma de escrever, pronto. Que querem? Não sou o Lobo Antunes. Tenho lido mais filosofia do que literatura. Procuro um livro que me encante. Sou único. Não sou o homem. Escrevo ao sabor dos ventos. Escrevo porque nada mais há a fazer. Escrevo porque não quero morrer. Estou aqui. Existo. Tenho todo o direito a estar aqui. Sou o único, porra. Outros trabalham, eu dedico-me à literatura. Escrevo. Não sou menos do que ninguém! Antes pelo contrário. Olho as horas. Gasto a caneta. As horas vão passando. Mais logo dá o Benfica. Não gosto de fado. Sou louco. Nada a fazer. Sou louco, porra! Não me barres a entrada, ó Sampaio! Estava alucinado, porra. é proibido ter alucinações? O país cai e eu subo. O país arde e eu também. Vou para a rua dançar.

REGRESSO À ALDEIA


O poeta regressa à aldeia. Escreve. Ninguém o ameaça. O "crash" das bolsas fá-lo feliz. A chávena de café à sua frente. Está ainda sonolento. Pensa na Gotucha. Pensa passar a tarde a ler e a escrever. É capaz de actos de loucura como recentemente em Braga. Não esperem dele respeitabilidade permanente. Já teve várias namoradas. Funga o nariz. Está constipado. É único, segundo Stirner. A televisão foi à vida. O poeta rejubila. Prefere o silêncio.