Thursday, October 06, 2011

A ARTE DE VIVER

A ARTE DE VIVER


A arte de viver, eis o essencial. Neste momento, não posso viver plenamente porque o olho esquerdo está vermelho e não o posso forçar. De qualquer modo, ainda posso expressar as minhas ideias e trocar impressões com os empregados do "Guarda-Sol". Expressar ideias, cultivar-se e trocar opiniões, eis três aspectos fundamentais da arte de viver. Não é apenas o activismo, é o facto de estar à mesa, beber um copo e trocar impressões. Ouvir os outros que mostram preocupação pela evolução catastrófica da sociedade, eis outro aspecto a ter em conta. Mas estaria sem dúvida melhor se pudesse ler à vontade a "Carta a Louis Pauwels sobre as Pessoas Inquietas..." de Paul Sérant. Porque também estou inquieto. Porque sou um homem que se preocupa com a sua felicidade e com a dos outros. Mas o mundo de hoje afasta a felicidade dos homens, da esmagadora maioria dos homens. Uns porque, como diz Nietzsche, apenas se dedicam à sobrevivência e ao sustento, outros porque são exigentes mas todos os dias são atacados pela máquina de propaganda capitalista. É difícil assim conduzir a arte de viver, a menos que nos tornemos loucos. Recomendo ainda assim o máximo de folia com amigos e amigas, o filosofar espontâneo, a convivência com os mestres e com aqueles que nos ensinam alguma coisa. Se o conseguirmos, já estaremos a desafiar a máquina de propaganda e a ditadura dos mercados e da linguagem da economia.





O APROFUNDAMENTO DO VIVO


Raoul Vaneigen tem razão. Temos de aprofundar o vivo em detrimento da economia. Nascemos para a vida. É ridículo passar a vida num emprego entediante, atrás de um salário que cada vez dá para menos. Nós viemos para o conhecimento, para o auto-conhecimento e para a bondade, não para o negócio. Temos de viver em função da vontade de viver, do viver por nós mesmos. Vaneigen abre-me a mente. A economia faz-se em função da redução, da austeridade, da poupança, da culpa, da mesquinhez, e contraria tudo o que é exuberante e grandioso. O capitalismo rouba-nos a infância, a juventude, a descoberta, a própria vida. "Nada mata mais uma pessoa do que contentar-se com sobreviver", diz Vaneigen. É da arte de viver que falamos. Da arte de gozar o instante, de o eternizar. Por isso, somos também poetas vadios. Construimo-nos na vida quotidiana. Às vezes, como agora, atingimos a criança sábia. às vezes parece que há anjos que nos tocam, que somos tocados pela beleza. Então amamos desesperadamente a vida, o milagre de estarmos aqui vivos. Não o cumprir um trabalho ou uma tarefa mas o estar aqui, sem castrações nem regras. É também o acto de dar a nossa arte ao mundo. A dádiva. Sem exigir quaisquer recompensas.

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