Saturday, January 15, 2011

REVOLUÇÃO NA TUNÍSIA


Tiros nas ruas, supermercados saqueados e incendiados, motins nas prisões: o caos e a desordem estão instalados em Tunes, capital da Tunísia, e um pouco por todo o país, onde vigora o estado de emergência decretado ainda antes da fuga para o exílio do ditador Zine El Abidine Ben Ali, no poder durante 23 anos.
As agências Reuters e Associated Press descrevem cenas de violência e pilhagens nos arredores da capital (Zohra Bensemra/Reuters)

As forças policiais assumiram o controlo do aeroporto internacional, que está em funcionamento, e barraram a avenida Habib Bourguiba, principal eixo da capital. Os edifícios dos ministérios estão a ser protegidos por tanques do exército, e nas ruas há centenas de soldados e polícias. As ruas estão praticamente desertas, com o comércio fechado, mas ainda se ouve o som de tiros.

As agências Reuters e Associated Press descrevem cenas de violência e pilhagens nos arredores da capital: em Ariana e Bizerte, respectivamente a 20 e 50 quilómetros de Tunes, os supermercados foram saqueados e incendiados.

Na localidade turística de Monastir, um incêndio deflagrou numa prisão, matando pelo menos 42 reclusos, confirmou à AFP o chefe do serviço de medicina legal do hospital Fatouma Bourguiba. O fogo terá sido ateado por um prisioneiro, que incendiou um colchão num dormitório que albergava 90 indivíduos. Testemunhas relataram à Reuters que dezenas de prisioneiros tinham conseguido fugir da prisão.

Um outro motim numa prisão com 1200 reclusos, em Mahdia, a 140 quilómetros de Tunes, resultou na morte de “dezenas de pessoas” que foram atingidas pela polícia quando os prisioneiros tentavam escapar. “Os prisioneiros estavam a fugir e a polícia abriu fogo sobre eles. Agora há dezenas de pessoas mortas, e os presos fugiram todos”, contou um homem que mora a 200 metros da prisão à Reuters.

“Já destacamos todos os meios e não nos pouparemos a esforços para restabelecer a ordem em todo o território”, garantiu o primeiro-ministro cessante, Mohammed Ghannouchi, que assumiu o poder depois da fuga de Ben Ali, antes da reunião do Conselho Constitucional.

Este órgão acabou depois por nomear o presidente do Parlamento, Fouad Mebazza, para a função de Presidente interino, esclarecendo que essa é a ordem prevista na Constituição. O anúncio foi feito na televisão estatal, juntamente com a confirmação que Ben Ali, exilado na Arábia Saudita, já foi oficialmente destituído do cargo. Num prazo máximo de 60 dias, serão convocadas eleições presidenciais.

Pouco depois de tomar posse, Fouad Mebazza encarregou o primeiro-ministro cessante de formar um novo governo provisório de unidade nacional, “no interesse superior do país”. “Todos os tunisinos, sem excepções e sem exclusivos, serão envolvidos no processo político”, prometeu Mebazza, sublinhando que a sua missão enquanto Presidente interino era consagrar o pluralismo e democracia no país.

O líder do partido trabalhista União da Liberdade, Mustafa Ben Jaafar, disse à Reuters que já tinha mantido uma conversa preliminar com Ghannouchi e que negociações estavam marcadas para amanhã. “Discutimos a ideia de um governo de coligação”, esclareceu.

Numa curta entrevista à cadeia televisiva Al Jazeera, Ghannouchi considerou “inaceitáveis” as cenas de saque e destruição, e denunciou a “infiltração de determinados partidos nas manifestações de rua”, escusando-se contudo a nomeá-los.

Comissão de inquérito vai investigar responsabilidades
O primeiro-ministro cessante informou também que “foram tomadas medidas preventivas” para lidar com a família de Ben Ali, suspeita de corrupção. Ghannouchi deu a entender que já teriam sido feitas várias detenções, mas não disse de quem. “Uma comissão de inquérito vai ser criada para estabelecer as responsabilidades de cada indivíduo”, adiantou.

A Liga Árabe divulgou um comunicado apelando à calma e pedindo a “todas as forças políticas, representantes da sociedade tunisina e oficiais do Governo para se manterem unidos, assegurar a paz nacional e consagrar os progressos reclamados pela população”. “É preciso encontrar um consenso nacional que permita ao país ultrapassar a crise e garantir o respeito pela vontade expressa pelo povo da Tunísia”, dizia o comunicado

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