Tuesday, November 09, 2010

PORQUÊ?


O homem fuma à porta do Piolho. Que pensa? Até onde vai o pensamento do homem? Em que pensa o homem para lá da luta pela existência? Será que a luta pela existência se resume à luta pela sobrevivência? O que é a existência? Porque será que há coisas que estranham e depois encantam, como a escrita de Borges? Porque será que não me dedico em exclusivo ao pensamento? Porque será que não vivo disso? Porque continuo a olhar para as gajas e não as mando foder? Porque é que o bebé chora? Porque é que o homem e a mulher se mascaram tanto e eu próprio me tenho de mascarar? O que é que está para lá disto tudo? Porque é que alguns são tão limitados? Quem sou eu, que não era há 20 anos? O que é que eu sou mais? Porque é que continuo a ter medo? Porque é que sou outro quando me exponho publicamente? Que força me dá? Porque perco o medo? Porque sou, por vezes, tão agressivo? Que raiva me dá? Até onde sou capaz de ir? Porque não paro de escrever? Porque recusei a imbecilidade? Porque é que o Rocha se afastou de mim? Porque não me limito a ser como a maioria? Porque me incomodo tanto, porque sou tão sensível? Porque estou sempre a cair e a levantar-me? Sim, a diferença é que há uns anos atrás custava mais a levantar-me. Sempre aparecem umas gajas bonitas e isto não parece tão podre. Os outros levam uma vida tão ocupada e eu aqui a ouvir a conversa do casal do lado mesmo que não queira. Fala-se da imagem. Qual é a minha imagem? Sou tímido e desajeitado mas permaneço aqui. Às vezes perco a vontade mas permaneço aqui. Estou aqui melhor do que na aldeia apesar da Gotucha ter ido e de estar sozinho. Tenho tanta legitimidade de estar aqui como outro imbecil qualquer. Sempre se vêem umas gajas bonitas e ainda não vieram cá os praxistas. Escreve-se contra a morte, para matar o tempo. Nem sequer tenho que seguir um fio lógico. Estou aqui vivo. Ponto final. Não tenho que pedir autorização a ninguém para estar vivo. Vim para cá, é aqui que quero estar. Já conheci outros mundos em sonhos e delírios. Mas agora estou aqui no Piolho. Até pode ser que este texto se perca, como outros. Mas está escrito. E eu tenho estado aqui, vivo, a escrevê-lo. Outros dão pontapés na bola e têm mais seguidores. Qual é o sentido disto, daquilo e das outras coisas todas? Será que é mesmo preciso um sentido? Porque é que as gajas se exibem para nós? Porque é que agora olhas em desafio e há pouco estavas cagado de medo? Que é que te deu para te tornares outro? Porque és tão sensível aos estímulos? Qual é a magia para lá da doença? Porque é que agora duvidas do punho erguido? Porque não tens plateia hoje que precisavas realmente dela? O que é que te faz escrever tanto? Será que a literatura se mede ao metro? Porque não te safas como os outros? Porque não estás na mesma corrida? Será que a doença é uma bênção? Porque não fazes corte e costura? Porque é que, no fim de contas, te deixas levar pela onda? Que fizeste de brilhante hoje? Porque é que te centras tanto em ti próprio?

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