Sunday, March 28, 2010


Às vezes sinto-me mal porque não reajo logo às solicitações dos meus semelhantes. Uma saudação que fica por fazer em resposta, um cumprimento mais efusivo, uma palavra a propósito. Demoro a aquecer, a reagir. Mas não é por mal. Sei que tenho um fundo de bondade. Se vejo o bem, o bom e o belo eu respondo com bondade. Mais tarde ou mais cedo. Tenho as minhas defesas, claro. Já fui muito ingénuo e continuo a sê-lo às vezes. Era muito puro aos 16, 17, 18 anos. Claro que tinha a minha inteligência, jogava com isso. Depois adquiri vários vícios: vícios dos bares e da vida nocturna. Descobri a arte e o palco e tornei-me vaidoso. Fui confrontado com os efeitos da estrada do excesso, provoquei e fui provocado, ameacei e fui ameaçado, agredi e fui agredido. Senti o ódio e o apelo da destruição. Conheci a grande solidão e a longa depressão. Mas depois vieram anjos e trouxeram-me a bondade, a vontade, a própria verdade. Continua a travar-se dentro de mim um duelo entre o ódio e o amor. O ódio a tudo quanto tenta castrar a minha liberdade; o amor a tudo quanto me aproxima da criação, do conhecimento do homem, da bondade, da verdade.

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