Wednesday, June 17, 2009

HENRY MILLER


Nós ainda não estamos preparados para nos misturarmos com os deuses, ainda não estamos dispostos a isso. Os homens dos tempos antigos conheciam os deuses, viam-nos cara a cara. O homem não estava distanciado, em percepção, quer das ordens mais elevadas, quer das mais inferiores da Criação. Hoje o homem está isolado. Hoje o homem vive como escravo. Pior: somos escravos uns dos outros. Criámos uma condição até agora desconhecida, uma condição absolutamente única: tornámo-nos os escravos dos escravos. Não duvidem, no momento em que verdadeiramente desejarmos a liberdade seremos livres. Nem um milésimo de segundo antes! Agora pensamos como máquinas porque, a bem dizer, nos transformámos em máquinas! Àvidos de poder, somos as vítimas indefesas do poder...No dia em que aprendermos a exprimir amor conheceremos o amor- e tudo o mais desaparecerá.(...)
O mal só existe como ameaça ao reino eterno de amor que apenas vislumbramos vagamente. Sim, homens têm tido visões de uma humanidade liberta. Têm tido visões de caminharem na terra como os deuses que outrora foram. (...)
Todos os caminhos, quer acreditem quer não, acabam por conduzir àquela fonte vivificante que é o centro e o significado da Criação. Como Lawrence disse, com o último alento de vida: "Para o homem, a imensa maravilha é estar vivo. Para o homem, como para a flor, o animal e a ave, o supremo triunfo é estar muito vivamente, muito perfeitamente vivo..." Tornemo-nos inteiramente vivos.
(Henry Miller, "Plexus")

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