Thursday, March 26, 2009

AS GAJAS DA TV


As gajas da TV exibem-se na TV. Até que não me importava de ser entrevistado por uma gaja dessas. O meu anarquismo permite esses desvios. Deixei de ser rígido nas minhas convicções. Até simpatizo mais com o Dali. Para lá da pintura, que é genial. Mas esse mundo "avida dollars" também é o mundo que eu combato. Como posso querer dinheiro se quero queimar o dinheiro? Com as minhas ideias tenho que me manter à margem. Mas se fosse convidado para ir à televisão não recusaria o convite. Diria para lá, quando menos se esperasse, umas das boas. Umas das boazonas. Quando começo a falar das boazonas o pessoal ri-se. Nada tenho a ver com a guerra entre televisões. A minha guerra é outra. Sou da guerrilha. Sou do Che e de Sade. Quero uma revolução que seja mundial. QUero acender o rastilho. Quero pegar fogo a esta merda. Às gajas boas, não. Sou o poeta que recomeça. Sou o poeta que tropeça e se levanta. Sou o poeta que tu queres apanhar. Sou o poeta à beira do mar. Sou o poeta que olha para as gajas e fica á espera. Sou o poeta que desespera. Sou o poeta em pé de guerra. Sou o poeta que fica. Sou o poeta que arde. Sou o poeta que queima e teima. Sou o poeta que te rodeia.

CÂNTICO DA VIDA


Eis no que deu a ganância, eis no que deu o capitalismo. Um sistema que premeia a rapina, que premeia a negociata, que premeia o lucro, que premeia o passar por cima do outro a qualquer preço não poderia durar eternamente. É desumano, é cruel e agora entrega-se nas mãos do Estado. Não é mais possível o homem lobo do homem. Não escondemos que nos dá gozo ver os capitalistas e os aprendizes de capitalistas aos papéis. Quereis o capitalismo, não quereis? Aí o tendes. O barco está a afundar-se. Salve-se quem puder. Eis onde o sistema havia de chegar. O mundo baseado na troca mercantil deu o que tinha a dar. Chegamos ao caos. Há que cantá-lo. Eis no que deu o cântico dos profetas da morte! Eis no que deu o império do mercado.
Agora há que cantar a vida. A vida para lá da não-vida, da sobrevida, do discurso e da prática financeira e economicista. Há que cantar o amor e a liberdade. O amor e a liberdade sem limites. O amor e a liberdade que vêm do espírito, que vêm da divindade. Não mais a morte! Não mais os cifrões! Não mais a ganância! Revolução!

PROFECIA


Apetece-me berrar bem alto como um profeta. Dizer a toda a gente que estamos no caos. Dizer a toda a gente que este é o fim de uma era. Dizer às gajas que as amo loucamente a ver se as saco. Sobressair no anonimato. DIzer as coisas que ninguém tem a coragem de dizer. Dizer que era necessário chegar até aqui. Dizer que um novo mundo está à porta. Dizer que para chegar ao novo mundo é necessário passar pela loucura. Dizer que vem aí o reino do Amor e da Liberdade. Dizer que para entrar no reino temos de estar livres de preconceitos. Dizer que estamos à porta da era do espírito.

Monday, March 23, 2009

MAIO DE 68 E A INTERNACIONAL SITUACIONISTA


Maio de 68 e a Internacional Situacionista

Elisa Klüger, dezembro de 2006



O abalo do cotidiano pelo meio estudantil

“O que queremos de fato e que as idéias voltem a ser perigosas”





Introdução
“A imaginação no poder”.

“A felicidade é o poder estudantil”.

A proposta desse trabalho é coletar e articular informações que nos permitam entender a singularidade e a criatividade do movimento de maio de 68, buscando analisar o papel da juventude nesse processo, entendendo-na como o fator determinante da trajetória e das idéias da revolução.

Quais as forças sociais e os processos históricos que deram origem ao maio de 68? Qual foi o papel dos jovens e dos situacionistas? Em que medida as proposições do movimento estavam associadas à forma de inserção deles na sociedade? Que novos questionamentos e proposições foram feitos no maio de 68? Quais foram seus desdobramentos? Houve uma originalidade na forma de fazer política e de pensar o cotidiano proposta por essa revolução? O que a tornou mundialmente influente?

Esse tema e essas questões foram escolhidos por proporcionarem um esclarecimento sobre a história e as perspectivas transformadoras de movimento estudantil permitindo a reflexão, a crítica e o aperfeiçoamento decorrente. Especialmente interessantes para alguém que inicia sua inserção nesse meio.

Levantes revolucionários

“A liberdade do outro amplia a minha ao infinito” (Bakunin).

“Não reclamaremos nada. Não pediremos nada. Tomaremos. Ocuparemos”.

“Uma revolução não ocorre apenas sob o efeito de um conflito interno entre opressores e oprimidos, mas advém do momento em que se apaga a transcendência do poder, no momento em que se anula sue eficiência simbólica” (Matos). Em maio de 1968 a transcendência do poder foi questionada, e se não foi essa uma revolução institucional definitiva, foi certamente uma revolução da forma de fazer política e do cotidiano que é também cerceado pelo poder.

Maio de 68 foi o maior levante revolucionário da Europa ocidental desde a Comuna de Paris. Estudantes batalharam intensamente com a polícia, milhões de trabalhadores estiveram em greve. “A bandeira vermelha e a bandeira preta tremularam sobre fábricas ocupadas, universidades, canteiros de obras, estaleiros, escolas primárias e secundárias, entradas de minas, estações ferroviárias, lojas de departamento, navios transatlânticos ancorados, teatros, hotéis. Praticamente todos os setores da sociedade francesa se envolveram em certa medida. Centenas de milhares de pessoas de todas as idades discutiram todos os aspectos da vida em reuniões lotadas e ininterruptas em todas as salas de aula ou auditórios disponíveis” (Solidarity). Fez-se história, de maneira não passiva, o que e a essência de uma revolução.

Mesmo assim não se concretizou a revolução. (no sentido de instalar uma nova estrutura institucional que permita a transformação da economia e da sociedade) e questiona-se se isso poderia ter sido feito. Os estudantes, por mais numerosos, mobilizáveis e desproporcionalmente eficazes que fossem não podiam fazê-la sozinhos. Porque sendo um grupo relativamente pequeno, transitório e sem o poderio econômico da riqueza, que permite a dominação (burguesia) ou o poder de abalar a acumulação, por serem parte constitutiva dela (operários) não tinham os meios materiais e políticos necessários para autonomamente implementar um novo sistema. A efetividade política deles estava em sua capacidade de agir como sinais e detonadores para grupos maiores que se inflamavam com menos facilidade, provocando paralisações temporárias da economia de países inteiros, que mostraram que a revolução socialista em um país fortemente industrializado era uma questão real.

Contexto mundial

“Nosso modernismo não passa de uma modernização da polícia”.

“Por favor, deixe o PC (Partido Comunista) tão limpo ao sair quanto voceê gostaria de encontrar ao entrar”.


Primeiramente é importante situar o ano de 68, no período da guerra fria, conflito político-ideológico entre os defensores do capitalismo e os defensores do socialismo, que compreende o período entre o final da Segunda Guerra Mundial e a extinção da União Soviética. Particularmente no período de distensão que se segue a crise dos mísseis, no qual começam aos poucos negociações entre os dois blocos, e no período da guerra do Vietnã, que é um objeto de repúdio global do meio estudantil, o qual influencia todas as revoltas do período.

Outra especificidade do período abordado é a modificação pela qual as esquerdas passam apos o XX congresso de PCUS em 1956, conhecido como desestalinização. Três anos após a morte de Stalin, Kruschev divulga seu “relatório secreto” apontando os crimes de Stalin.

Pode-se dizer também que “esse foi o início de uma nova era do capitalismo, que manifestava uma correlação demográfica nova, em que o peso da juventude era maior, acompanhada de transformações na maneira de produzir, que tornavam obsoletas as maneiras anteriores da divisão social do trabalho. O peso específico da classe operária começava a decrescer e o controle soviético sobre a esquerda no mundo já não era o mesmo”. (Schwartz).

Era notável, que o mundo aumentava o seu caráter tecnoburocrático. Havia uma oposição entre a modernização técnica e econômica e as formas de organização social cultural arcaica cuja função era manter as tradições e princípios e não permitir mudanças.

Há uma ruptura entre a produção de conhecimento e a utilidade social do indivíduo e do conhecimento adquirido, no contexto da vertiginosa transformação das tecnologias e obsolescência do modo de produção. Isso afeta a universidade e a lógica do desenvolvimento de conhecimento. O saber produzido em forma de ciência e técnica é determinado pelas necessidades da produção de mercadorias, e o produzido em forma de ciência social estava a serviço do poder instituído.

Movimento internacional
“Viva os estudantes de Varsóvia”. (Paris)

“Somos todos judeus alemães”.

A Extraordinária explosão de maio de 68 em Paris foi o epicentro de um levante estudantil mundial, caracterizado pela simultaneidade, mas não pela coordenação.

“A revolta estudantil de fins da década de 60 foi a última arremetida da velha revolução mundial. Foi revolucionária tanto no antigo sentido utópico de buscar uma inversão permanente nos valores, uma sociedade nova e perfeita, quanto no sentido operacional de procurar realizá-la pela ação nas ruas e barricadas, pela bomba e pela emboscada na montanha. Foi global não só porque a ideologia da tradição revolucionária de 1789 a 1917, era universal e internacionalista, mas porque pela primeira vez, o mundo, ou pelo menos o mundo em que viviam os ideólogos dos estudantes, era verdadeiramente global. (livros, telecomunicações, avião, turistas). Os estudantes de final da década de 1960 não tinham dificuldades para reconhecer o que acontecia na Sorbonne, em Berkeley, em Praga, como parte do mesmo acontecimento, na mesma aldeia global”. (Hobsbawn)

A juventude que participou desse movimento talvez tenha aprendido a não mais se identificar com as fictícias fronteiras, a não mais idolatrar nenhuma civilização superior. Esses jovens tiveram no Vietnã seu tema de unificação e passaram a fazer reivindicações comuns nas diversas partes do globo, pois as opressões que viviam eram muitas vezes semelhantes.

Há uma interconexão entre as atuações dos jovens que ocorreram no período em diversos paises. O que as unia era uma semelhança na contestação da sociedade estabelecida, que esteve acima das diferenças de contexto sócio-político-econômico. Para analisar essa relação faz-se pertinente a descrição de algumas ocorrências fora da França.

Nos EUA, era central a recusa da guerra do Vietnã, e de todas as conseqüências negativas por ela trazidas. O movimento foi caracterizado pela deserção, desobediência civil e recusa da sociedade de consumo, simbolizado pela contracultura e pelo movimento hippie. A arte veio a tomar o lugar da política, provocando inversões das significações habituais, flower power.

Berlim Ocidental, a “Vitrine fora de moda” do mundo “livre”, o instrumento de propaganda do sistema capitalista, passou por uma renovação cultural inspirada em pensadores antiautoritários.

Na Polônia, especificamente em Varsóvia, como reação a repressão cultural (cujo estopim foi a proibição de uma peça de teatro), houve uma ocupação da universidade pelos estudantes, acompanhada de greve estudantil que a policia reprimiu com a ocupação das dependências da universidade.

Na Tchecoslováquia o eixo do movimento foram os protestos contra o stalinismo e a burocracia, marcado fortemente pela ideologia “conselhista”. Era uma busca pela liberdade política, contra o dogmatismo da interpretação oficial do marxismo.

O Japão por sua proximidade com China e Vietnã se envolvia na geopolítica estabelecida para a região, servindo de base aérea para as forcas americanas, o que interferia no cotidiano do país. Os estudantes fazem denúncias dos acordos comerciais e militares nipoamericanos, pois rejeitam-nos.

O foco de ação espanhol foi a luta contra a ditadura franquista. Ocorreu o levantamento de barricadas e a criação de assembléias sindicais ilegais. A polícia reage ocupando o interior da universidade.

Na Itália estão pautados: a luta contra o autoritarismo na universidade e contra a mercantilização da cultura e do homem.

No Brasil, e na América Latina como um todo, a resistência contra as ditaduras e contra a influencia norte-americana dá origem aos movimentos de contestação cultural, como o tropicalista, e as ações que radicalizam os métodos, como a guerrilha.

Monday, March 16, 2009

ZEITGEIST

Terceira Parte: Don't Mind The Men Behind The Curtain (Não se importe com os homens por detrás da cortina)



A terceira parte do filme focaliza-se no sistema bancário mundial, que supostamente tem estado nas mãos de uma elite de famílias burguesas que detém o verdadeiro poder sobre todos os países a eles associados, e na sua conspiração para obter um domínio mundial total eles tem modelado toda a mídia e cometido diversos crimes, muitos deles encenações para fins ocultos. O filme denuncia que a Banco Central dos Estados Unidos da América foi criada para roubar a riqueza dos Estados Unidos e também demonstra, como exemplo, o lucro que foi obtido pelos bancos durante a Primeira Guerra Mundial, Segunda Guerra Mundial, Guerra do Vietnã, Iraque, Afeganistão, e a futura invasão à Venezuela para obtenção de petróleo e comércio de armamento. O filme descreve a conspiração destes banqueiros, argumentando que o objetivo deles é o controle sobre toda a raça humana através da implantação de um chip localizador e identificador através do qual todas as operações e interações humanas serão realizadas, escravizando por fim a humanidade. Estão secretamente criando um governo unificado, com exército unificado, moeda unificada, e poder unificado, e que servirá apenas aos interesses dessa elite. Segundo o filme, o aspecto mais impressionante disso tudo é que tais mudanças serão aceitas pelo próprio povo naturalmente, pois está sendo manipulado pelos media







O Movimento Zeitgeist não é político. Não reconhece nações, governos, raças, religiões, credos ou classes. Chegamos à conclusão de que estas distinções são falsas e desactualizadas e estão longe de serem factores positivos ao verdadeiro potencial e crescimento humano colectivo. As suas bases estão na divisão do poder e estratificação, e não na união e igualdade, que são nossos objectivos. Embora seja importante entender que tudo na vida é uma progressão natural, devemos também reconhecer que a espécie humana tem a habilidade de retardar drasticamente e paralisar o progresso através de estruturas sociais obsoletas, dogmáticas, e, por conseguinte, em desarmonia com a natureza. O mundo que vemos hoje, cheio de guerras, corrupção, elitismo, poluição, pobreza, epidemias de doenças, abusos aos direitos humanos, desigualdade e crime, é o resultado desta paralisia.

Este movimento é sobre consciencialização, em defesa de um progresso evolucionário fluente, tanto pessoal como social, tecnológico e espiritual. Ele reconhece que a espécie humana naturalmente caminha para a unificação, derivada de um comunal reconhecimento de compreensões fundamentais e quase empíricas de como a natureza funciona e de como nós, humanos, nos adaptamos / somos parte deste descobrimento universal que chamamos de vida. Embora este caminho exista, infelizmente ele está obstruído e é desconhecido pela grande maioria dos humanos, que continuam a perpetuar comportamentos e associações ultrapassadas e, portanto, degenerativas. É essa irrelevância intelectual que o Movimento Zeitgeist espera superar por meio de educação e acções sociais.

O objectivo é revisar a sociedade no mundo de acordo com o conhecimento actual em todos os níveis, não apenas consciencializando sobre as possibilidades sociais e tecnológicas que muitos foram condicionados a pensar serem impossíveis ou contra a “natureza humana”, mas também para fornecer meios de superar os elementos que perpetuam estes sistemas obsoletos na sociedade.

Uma importante associação, de onde muitas das ideias deste movimento derivam, advêm de uma organização chamada “Projecto Vénus”, dirigida pelo engenheiro social e industrial Jacque Fresco. Ele trabalhou praticamente toda a sua vida para criar as ferramentas necessárias para auxiliar no projecto do mundo que poderia eventualmente erradicar as guerras, a pobreza, o crime, a estratificação social e a corrupção. As suas ideias não são radicais ou complexas. Elas não exigem uma interpretação subjectiva de sua formação. Neste modelo, a sociedade é criada como um espelho da natureza, com as variáveis pré-definidas, inerentemente.

O movimento em si não é uma construção centralizada.

Não estamos aqui para conduzir, e sim para organizar e educar.



Objectivos

Os Meios são o Fim

Pretendemos restaurar as necessidades fundamentais e a consciência ambiental da espécie revogando a maioria das ideias que temos de quem e o que realmente somos, juntamente com a ciência, a natureza e a tecnologia (em vez de religião, política e dinheiro) são a chave para o nosso crescimento pessoal, não só como seres humanos individuais, mas como civilização, estrutural e espiritualmente. As percepções centrais dessa consciência são o reconhecimento dos elementos Emergentes e Simbióticos das leis naturais e de como o alinhamento dessa compreensão como base para nossas instituições pessoais e sociais, a vida na Terra transformar-se-á em um sistema que crescerá continuamente, onde consequências negativas sociais como camadas sociais, guerras, preconceitos, elitismo e actividades criminosas serão constantemente reduzidos e, esperamos, venham a deixar de existir no comportamento humano.

Claro que, para muitos humanos, é uma possibilidade muito difícil de se considerar, uma vez que fomos condicionados pela sociedade a pensar que crime, corrupção e desonestidade são “como as coisas são”, que sempre haverá pessoas que querem abusar, ferir e tirar vantagem dos outros. A religião reforça fortemente essa propaganda, já que a mentalidade “nós e eles”, “bem e mal” promove essa falsa suposição.

A verdade é que vivemos numa sociedade que produz escassez. A consequência dessa escassez é que os humanos devem-se comportar de modo a se preservar, mesmo que isso signifique enganar e roubar para conseguirem o que querem. A nossa pesquisa concluiu que a escassez é uma das causas mais fundamentais de desvios de comportamento humano, além de levar a formas complexas de neurose. Uma análise estatística do vício em drogas, da criminalidade e da população carcerária demonstra que a pobreza e condições sociais não saudáveis são parte da experiência de vida das pessoas que adoptam tais comportamentos.

Seres humanos não são bons ou ruins... Eles são o resultado da experiência de vida que os influenciam, e estão sempre mudando, sempre em movimento. A “qualidade” de um ser humano (se existisse algo assim) está directamente relacionada a como foi criado e aos sistemas de crença aos quais ele foi condicionado.

Esse simples fato vem sendo gravemente ignorado, e hoje em dia as pessoas pensam primitivamente que competição, ganância e corrupção são elementos “embutidos” no comportamento humano, e portanto, precisamos ter prisões, polícia e consequentemente uma hierarquia de controle diferenciado para que a sociedade possa lidar com essas “tendências”. Isso é totalmente ilógico e falso.

O xis da questão é que para melhorar as coisas, você fundamentalmente precisa trabalhar nas raízes do problema. O actual sistema de “punição” usado pelas sociedades é ultrapassado, desumano e improdutivo. Quando um assassino em série é preso, a maioria das pessoas faz manifestações exigindo a morte dessa pessoa. Isso está errado. Uma sociedade realmente sã, que entende o que somos e como sistemas de valores são criados, pegaria esse indivíduo e aprenderia sobre os motivos por trás de seu comportamento violento. Essas informações passariam então por um departamento de pesquisa, que consideraria modos de evitar que factos como esse ocorressem através da educação.

É hora de pararmos de remediar. É hora de começarmos uma nova abordagem social, actualizada com os conhecimento actuais. Tristemente, a nossa sociedade é amplamente baseada em determinações e resoluções ultrapassadas e supersticiosas. É importante ressaltar que não há utopias ou conclusões. Todas as evidências indicam infinitas actualizações em todos os níveis. Por sua vez, são as nossas acções pessoais de todo dia que moldam e perpetuam os sistemas sociais que adoptamos. No entanto, paradoxalmente, são as influências do ambiente que criam as nossas perspectivas e, portanto, nossas visões de mundo. Logo, a verdadeira mudança nascerá não só do ajuste de nossas decisões e compreensões pessoais, mas também da mudança das estruturas sociais que influenciam essas decisões e compreensões.

Os sistemas elitistas de poder são pouco afectados por protestos tradicionais e movimentos políticos. Devemos dar um passo além dessas “rebeliões do sistema” e trabalhar com uma ferramenta muito mais poderosa: parar de apoiar o sistema, ao mesmo tempo em que propagamos o conhecimento, a paz, a união e a compaixão. Não podemos “lutar contra o sistema”. Ódio, ira e a mentalidade de “guerra” são um modo ineficaz de obter mudança, pois eles perpetuam a mesma ferramenta que os sistemas de poder corruptos estabelecidos utilizam para manter o controle.

Distorção e Paralisia

Precisamos entender que todos os sistemas são Emergentes e estão constantemente em evolução, juntamente com a realidade de que todos nós estamos Simbioticamente conectados à natureza e uns aos outros de modo simples, porém muito profundo, levando à percepção de que nossa integridade pessoal é equivalente à do resto da sociedade. Então, perceberemos o quão distorcido e invertido é a nossa sociedade actual e como sua perpetuação é a causa maior de sua instabilidade. Por exemplo, o Sistema Monetário é há muito tempo considerado uma força positiva na nossa sociedade graças à sua alegação de que produz incentivos e progresso. Na verdade, o sistema monetário tornou-se um veículo para a divisão e o controle totalitário.

Ele é a expressão máxima do lema “Dividir e conquistar”, pois em seu núcleo estão as suposições de que (1) Devemos lutar uns com os outros para sobreviver (2) Seres humanos precisam de um “estímulo” recompensador para fazer coisas significativas.

Quanto ao Número 1 (Devemos lutar uns com os outros para sobreviver), essa característica da competição no sistema é o que produz corrupção em todos os níveis da sociedade, pois parte do “nós contra eles”. Muitos argumentam que o sistema de “livre comércio” é bom... Mas ele é corrupto nos dias de hoje, graças a políticas ruins, favorecimento, auxílios financeiros, etc. Eles supõem que se um mercado livre “puro” fosse instituído, as coisas seriam melhores. Isso é falso, pois o que você está vendo hoje é o livre mercado em funcionamento, com todas as suas desigualdades e corrupção. Não há lei que vá impedir vendas privilegiadas, conspirações, monopólios, abuso de mão-de-obra, poluição, obsolescência calculada e coisas do tipo... Isso é o que o sistema baseado em competição cria com eficiência, pois é baseado na premissa de tirar vantagem dos outros para obter lucro. Ponto final.

Precisamos começar a abandonar esses ideais opressivos e caminhar em direcção de um sistema projectado para cuidar das pessoas... Não para forçá-las a lutar por sua sobrevivência. Quanto ao Número 2 (“Seres humanos precisam de um ‘estímulo’ recompensador para fazer coisas significativas), essa é uma perspectiva triste e incrivelmente negativa do ser humano. Supor que uma pessoa precise ser “motivada estruturalmente” ou “forçada” a fazer algo é simplesmente absurdo. Lembre-se de quando você era criança e não tinha a menor ideia do que fosse dinheiro.
Você brincava, era curioso e fazia muitas coisas... Por quê? Porque você queria. No entanto, conforme o tempo passa em nosso sistema, a curiosidade e auto-motivação naturais são extirpadas das pessoas, pois elas são forçadas a se ajustar a um sistema de trabalho especializado, fragmentado, quase predefinido para poderem sobreviver. Por sua vez, isso costuma criar uma revolta interior natural nas pessoas devido à obrigação, e foi assim que separamos os momentos de “lazer” e de “trabalho”. A preguiça que aqueles que defendem o sistema monetário (por alegar que ele cria estímulo) não reconhecem. Numa sociedade verdadeira, as pessoas seguem suas inclinações naturais e trabalham para contribuir para a sociedade – não porque são “pagas” para isso, mas porque têm uma consciência maior de que colaborar com a sociedade ajuda tanto a si próprias quanto a todas as outras pessoas. Esse é o estado elevado de consciência que esperamos transmitir. A recompensa por sua contribuição para a sociedade e o bem-estar daquela sociedade... o que, por consequência, é também o seu bem-estar.

Agora, colocando as coisas em perspectiva, é importante entendermos que nosso mundo é actual e inegavelmente conduzido por um pequeno grupo de homens dominadores em altos cargos nas instituições dominantes em nossa sociedade – Negócios e Finanças. O funcionamento do governo é regido pela influência e poder das corporações e dos bancos. O elemento vital é o dinheiro, que na verdade é uma ilusão e hoje tem pouca relevância para a sociedade, servindo como meio de manipulação e desunião num tipo de organização social que gera elitismo, crime, guerras e camadas sociais.

Ao mesmo tempo, as pessoas aprendem que ser “correcto” é o que lhes atribui valor como seres humanos. Este conceito de “correcto” está directamente ligado aos valores vigentes na sociedade. Logo, aqueles que aceitam o apoiam as visões do sistema social são considerados “normais”, enquanto aqueles que discordam são “anormais” ou “subversivos”. Seja isso o dogma de uma tradição social ou o alinhamento com uma religião mundialmente estabelecida, a base é a mesma: o Materialismo Intelectual. Quando percebemos que o conhecimento e, consequentemente, as instituições estão em constante evolução, vemos que qualquer sistema de crença que declare “saber” tudo, sem espaço para o debate, é uma perspectiva errónea. A religião, baseada na fé, é a grande agente de distorção, já que alega ter respostas definitivas sobre as origens mais complexas da humanidade, e isso simplesmente não é possível num universo emergente.

Compreendendo isso, percebemos então que as pessoas que foram condicionadas a aceitar completamente esses ensinamentos estáticos são tão perigosas quanto as Estruturas de Poder Estabelecidas, pois se tornam “guardiãs voluntárias do status quo”. Isso se aplica a todos os sistemas, principalmente ao político, ao financeiro e ao religioso. Uma vez que a identidade das pessoas se associa às doutrinas da ética de um País, Religião ou Empresa, torna-se muito difícil mudá-la, já que sua identidade está misturada às das ideologias que lhe foram impostas. Assim, eles seguem perpetuando a doutrina da instituição, simplesmente para manter sua integridade pessoal como eles a percebem. Precisamos quebrar esse ciclo, pois ele paralisa nosso crescimento não só como indivíduos, mas como sociedade.

Verdade e Transição

Uma vez que nós compreendamos que a integridade de nossa existência como pessoa está directamente relacionada à integridade da Terra, da vida e de todos os outros seres humanos, teremos então um caminho predefinido para nós. Além disso, quando percebermos que são a ciência, a tecnologia e, portanto, a criatividade humana que trazem progresso para nossas vidas, seremos capazes de reconhecer nossas verdadeiras prioridades para crescimento pessoal e social e para o progresso. Posto isso, podemos ver que a Religião, a Política e o sistema de Trabalho baseado em Dinheiro/Competição são modos desatualizados de operação social, e que agora precisam ser abordados e transcendidos. Nossa meta é um sistema social que funciona sem dinheiro ou política, ao mesmo tempo em que permite que as superstições percam terreno à medida que a educação avança. Ninguém tem o direito de dizer ao outro em que acreditar, pois nenhum ser humano tem a compreensão completa de nenhum assunto. Entretanto, se prestarmos atenção aos processos naturais da vida, podemos ver como eles se alinham à natureza e assim nosso caminho fica mais claro. Por exemplo, muitas pessoas estão preocupadas com o crescimento populacional, enquanto comentários assustadores de gente como Henry Kissinger sugerem que seja necessário algum tipo de “redução”. Porém, a pergunta principal continua sendo: o crescimento populacional é tão ruim assim? A resposta é: em uma perspectiva científica, o planeta pode aguentar muito mais pessoas se necessário, desde que haja investimentos em alta tecnologia. 70% do nosso planeta é coberto de água e cidades sobre o mar (um dos muitos projectos de Jacque Fresco) são o próximo passo. Por sua vez, a educação sobre o funcionamento da vida informará às pessoas sobre as consequências de seus interesses reprodutivos, e o crescimento populacional será reduzido naturalmente à medida que as pessoas percebam como elas estão ligadas com o planeta e com sua capacidade de sustentação.

Na verdade, o único verdadeiro “governo” que pode haver é o gerenciamento da Terra e de seus recursos. A partir daí, todas as possibilidades podem ser consideradas. Por isso, é necessária uma unificação intelectual entre os países, pois as informações mais valiosas que podemos ter como espécie são uma avaliação detalhada e completa do que temos nesse planeta. Assim como você avalia o solo e os recursos antes de plantar algo, precisamos fazer o mesmo com o planeta para otimizar aquilo que podemos fazer enquanto espécie, em termos de recursos.

Naturalmente, muitos que analisarem as idéias apresentadas acima vão perguntar: “Como podemos fazer isso, considerando o sistema de valores distorcidos em vigência? Como fazemos essa transição? Essa é a pergunta mais difícil. A resposta: temos que começar de algum lugar. Há muitas coisas que podem ser feitas por uma única pessoa ou comunidade que podem começar a moldar essa visão. O passo mais importante é a educação.

Em 15 de Março de 2009 (o Dia Z, como foi chamado em 2008) haverá uma série de acções mundiais para aumentar a consciência sobre esse caminho sociológico. Nossa esperança é termos encontros regionais em tantas cidades, estados e países quanto for possível. Nós aqui do zeitgeistmovement.com vamos trabalhar para oferecer material em todas as línguas que pudermos, e faremos o possível para ajudar cada subgrupo. Nós nunca pediremos dinheiro. Estamos aqui para ajudar, pois entendemos uma verdade central que está esquecida há muito tempo: quanto mais você dá, mais você recebe.



Zeitgeist Addendum 1/12
(legendado em português)

CAOS


CAOS

voltei a interessar-me pelos jornais
por causa da grande crise financeira
confesso que me dá um gozo tremendo
ver os bancos a fechar
a bolsa a arder
o capital a saque
é o caos,
meu caro Hakim Bey,
grande profeta anarquista,
é o caos
que tenho de cantar.

WE WANT THE WORLD AND WE WANT IT NOW!


"O capitalismo sempre foi uma extraordinária máquina inventiva. O pior agora é que queremos salvar o capitalismo do capitalismo."
(Pedro Lomba, Jornal de Notícias, 19/9/2008)

Salvar o capitalismo do capitalismo? O capitalismo contra o capitalismo? Os capitalistas a foder outros capitalistas. Estão aqui os tempos negros. Mas está aqui também o caos. O caos de Morrison, de Hakim Bey e de Dionisos. É tempo de cantar o caos, de ir para a rua celebrar o caos. Nada há a perder, a não ser...o capitalismo. Finalmente a merda do caos! E, quem sabe, a revolução. Façam-se fogueiras. Incendeiem-se automóveis! Vamos todos dançar numa rave. WE WANT THE WORLD AND WE WANT IT NOW! Camarada, não ligues ao discurso obreirista, não ouças essa patranha que diz que o trabalho dignifica o homem. O trabalho é sacrifício e exploração. Não te sacrifiques! Não trabalhes! Sacrifica-te apenas para a revolução. Não ouças os profetas da morte. Não ouças os que te falam em concórdia, em empreendorismo, na competividade, no mercado sacrossanto. Manda foder o mercado! Queimemos o dinheiro! Organizemos uma grande festa, uma grande orgia e queimemos o dinheiro. Acabemos com os podres todos desta merda. Construamos um novo mundo. Um mundo novo nascerá dos escombros. Um mundo de paz e amor. Sim, e aí falaremos do amor, do amor, do amor, da merda do amor.

NADA A PERDER


NADA A PERDER

Não vim ao mundo
para agradar a toda a gente
não vim ao mundo
para receber as palmas
e as honras desta corte
nem venho com palavras conciliadoras
embora às vezes as use
para não ficar sempre em guerra
não vim ao mundo
para ganhar dinheiro
não faço amor com notas de cinco
e acho essa estória do trabalho
e do sacrifício uma grande treta

Não vim ao mundo
para falar dos vizinhos
nem de automóveis nem de assaltos
nem de polícias
não vim ao mundo
para olhar para a TV
fartei-me de imbecilidades
sou o gajo que abandonou o jogo
de livre vontade
por achar que o jogo era absurdo
que foi vaiado pelo estádio inteiro
e pelos próprios colegas de equipa
que se fartou de ser espectador
eu sou o gajo que nada tem a perder.

Vilar do Pinheiro, 19.9.2088

PERFORMER


Depois de ler acerca das performances de Alfred Jarry e dos futuristas só me apetece chocar o público. Não sou um diseur tradicional. Sou um performer. Vou começar a levar tomates para distribuir pelo público. Só não gostarem de mim que os atirem. Aquele público estático que bate ou não bate palmas já me cansa. Só aquelas grandes ovações é que valem a pena. Estou a pensar levar uns objectos para o palco. Isto de toda a gente se dar com toda a gente é de desconfiar numa sociedade como esta. Há bocado o caralho do homem do café ia fodendo o poema com a merda da conversa. E o bêbado foi buscar mais uma garrafa ao supermercado. Antes beber...

GROSZ


Eh! Vocês, filhos-da-puta, materialistas,
comedores de pão, comedores de carne,
vegetarianos,
professores, aprendizes de carniceiro,
chulos!
Corja de vagabundos!

(George Grosz)

O Dada dá-vos pontapés no cu e vocês gostam!

NA IDADE DO OURO


Afinal há quem se lembre de mim. Do meu nome, da minha obra. Queimemos o dinheiro! Queimemos o dinheiro porque o dinheiro e o mercado dão cabo de nós. À sociedade-espectáculo demos espectáculo. Ao caos demos o caos. E celebremos o eu. Nada está acima de mim, da minha liberdade. Não temos de ser materialistas nem meros batedores de palmas. E gritemos! Gritemos como loucos. Demos cabo dos ouvidos ao público. Um mundo novo. Um mundo novo que se abre. A Idade do Ouro. És livre. Faz o que quiseres. Parte vidros. Assalta comboios. Caga na ignorância. Já não tens de viver reprimido nem deprimido. Já não tens de obedecer a nada. Já não tens de andar direitinho como o teu vizinho. És um homem livre. Ninguém te pode tirar isso. Ninguém te prende. Não dependes de ninguém. Já não há rebanho. Cantas o que queres. Estás na Idade do Ouro.

MAIAKOVSKI

MAIAKOVSKI

Maiakovski (1893-1930)

Não acabarão com o amor,
nem as rusgas,
nem a distância.
Está provado,
pensado
verificado.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e faço o juramento:
Amo
firme
fiel
e verdadeiramente.


Tradução de E. Carrera Guerra

MANIFESTO DA CRIAÇÃO


MANIFESTO DA CRIAÇÃO

Fino após fino vou bebendo. Os estudantes fardados celebram. Sinto saudades do meu tempo de estudante. Essa coisa de não estudar ou estudar muito pouco e ir beber copos com os amigos. As merdas culturais e políticas em que me meti. As noitadas. Houve muitos projectos por concluir, merdas quiméricas. O amor que ficou. A santa loucura como diz o AMR que vou ver amanhã. O regresso à Faculdade de Letras. O regresso em triunfo. Essas coisas todas. E o divino Ulisses. Ítaca que nunca mais vem. Os praxistas gritam lá fora. E os empresários da bola esfregam as mãos.
Eu deveria ser pago à letra. Olha o que te digo, deveria ser pago à letra. Qual a diferença entre fazer um verso e fazer uma finta? E as coisas grandes, realmente grandes, àparte as gajas boas, vêm do espírito, da alma. E as coisas realmente grandes, àparte as gajas boas, são criações do Poeta, do Artista. Quem foi o artista que criou as gajas boas? O Poeta é um privilegiado porque é um criador. Na sociedade do dinheiro deveria ser pago a peso de ouro. Deveria ser adorado como na Grécia e em Roma. Deveria ostentar a coroa de louros. Mas também deve gritar no meio da multidão, cantar a sua canção. O seu papel é agitar, provocar, mostrar o novo mundo. Não deve temer a loucura. Deve segui-la, amá-la até ao fim. Deve estar em pé de guerra, com intervalos para descansar. Deve ser imoderado em busca da sabedoria. Deve estar para lá dos bens materiais. Nunca deve mendigar. O único deus que respeita é o seu irmão Dionisos. Os outros são ficções. Deve dizer e fazer coisas incongruentes, non sense, para baralhar amigos e inimigos. Deve ter uma atitude de gozo perante a realidade. Deve situar-se além do bem e do mal e para lá de todos os preconceitos, como defendia Nietzsche. Deve cantar o caos. Deve amar loucamente a mulher amada, como preconizava Breton. Pode até divinizá-la , seja ela a empregada de mesa ou a "porno-star". Deve encarnecer, gozar com a sociedade-espectáculo, tanto com os produtores do espectáculo como com os batedores de palmas. Deve explorar todas as potencialidades da net e das Zonas Autónomas, à boa maneira de Hakim Bey. Deve ser um xamã, um profeta, um pirata, um filósofo, um provocador, um criador, um Homem Superior.

Porto, 24.9.2008

SÓCRATES E PLATÃO


Falam Sócrates e Íon

Todos os poetas épicos, os bons poetas, não é por efeito de uma arte, mas porque são inspirados e possuídos, que eles compõem todos esses belos poemas; e, igualmente, os bons poetas líricos, (...) não dançam senão quando não estão em si, também os poetas líricos não estão em si quando compõem esses belos poemas; mas, logo que entram na harmonia e no ritmo, são transformados e possuídos como as bacantes que, quando estão possuídas, bebem nos rios o leite e o mel mas não quando estão na sua razão, e é assim a alma dos poetas líricos.
O poeta é uma coisa leve, alada, sagrada e não pode criar antes de sentir a inspiração, de estar fora de si e de perder o uso da razão. Enquanto não receber este dom divino, nenhum ser humano é capaz de fazer versos ou de proferir óraculos.
E se a divindade lhes tira a razão e se serve deles como ministros, como dos profetas ou dos adivinhos inspirados, é para nos ensinar, a nós que ouvimos, que não é por eles que dizem coisas são admiráveis- pois estão fora da sua razão- mas que é própria divindade que fala e que se faz ouvir através deles.
Os poetas não passam de intérpretes dos deuses, sendo possuídos pela divindade, de quem recebem a inspiração.
Quando te fazem ouvir um canto desse poeta (Homero), animas-te imediatamente, a tua alma agita-se e as ideias chegam-te em catadupa. (...) Não é por uma arte nem por uma ciência que tu falas de Homero como falas, mas por um privilégio divino e por uma possessão divina, tal como os Coribantes que apenas são sensíveis à música do deus que os possui e que encontram com facilidade gestos e palavras para se acomodarem a essa música, enquanto permanecem insensíveis às outras.

LEVI CONDINHO


LEVI CONDINHO

Com um abraço ao Anthero Monteiro

DIREITO À PROPRIEDADE


Sou contra a propriedade privada
há no entanto objectos que são mesmo meus
um garrafão de vinho sempre disponível
discos do Bach do Archie Shepp ou do Zappa
o «Pela Estrada Fora» do Jack Kerouac
as «Poesias» de Álvaro de Campos
o «Ulisses» do Joyce
o «Outono em Pequim» do Boris Vian
o «Eros e Civilização» do Marcuse
a «Apresentação do Rosto» do Herberto Helder
os «Trópicos» do Henry Miller
o «Diário de um Ladrão» do Genet etc. etc.
sobretudo sobretudo
os 3 simpáticos companheiros
que tenho no meio das pernas


retirado de http://doriff.blogspot.com

DEUS E DEUSES


Chego à "Motina" e a Joana sorri radiante e trata-me como se eu fosse uma estrela. Antes assim. Nunca tinha sido antipática comigo mas hoje...
Sabes, essa estória do Deus e dos deuses...compreendo que as pessoas acreditem num deus ou em vários deuses. Os antigos acreditavam que o sol era um deus porque nós dá a luz. É natural. É natural que se procure um sentido para a existência, a causa primeira de todas as coisas. E aí as pessoas acreditam em Deus ou em vários deuses. É compreensível. Henry Miller dizia que o céu só pode estar aqui na Terra, tal como o inferno já está, e que não faz sentido procurá-lo no além. Henry Miller dizia que esse céu, esse "deus" está dentro de nós, Poetas. Platão também diz que somos enviados, intérpretes dos deuses. Somos caminheiros dos céus. Loucos divinos. E temos a grande responsabilidade de dizer aos outros que também somos deuses e que todos podemos ser deuses.

O POVO TRABALHADOR

Toda a gente, até o mais analfabeto dos homens, sabe lidar com o dinheiro. Só eu não sei ganhar dinheiro. Não nasci com esse "dom" nem me preocupo com ele. Posso vir a acabar como o Jaime Lousa ou como o Sebastião Alba. Nestes cinco anos habituei-me a andar sem trabalho fixo. A verdade é que nestes cinco anos mudei. Vejo a organização do dinheiro e do trabalho duma forma muito mais crítica. Como já disse, essa história da glorificação do povo trabalhador não me diz nada. Que se foda o povo trabalhador se for imbecil! Não cantarei hinos ao povo trabalhador. O povo trabalhador vê-me a mim, poeta, como um parasita. O povo trabalhador passa a vida a maldizer o vizinho do lado, em vez de criticar os ladrões capitalistas. O povo trabalhador tem uma mente muito estreita. O povo trabalhador agarra-se ao dinheirinho. O povo trabalhador só pensa no dinheirinho. O povo trabalhador não pensa na revolução.

PREGAÇÃO


PREGAÇÃO

Ontem fui pregar ao "Púcaros". As pessoas riem, reagem mas não vêm ter comigo no final. Tem piada. Achava que as pessoas iam ficar muito sérias, perturbadas, e afinal desataram a rir. Outros dizem que não estou neste mundo quando digo que os poetas, bem, alguns poetas deveriam ser pagos a peso de ouro. Não é verdade que somos emissários, enviados dos deuses como diz Platão? A verdade é que estou e não estou neste mundo. Porque raio hei-de aceitar a realidade se ela me oprime? Mas, por outro lado, quero o mundo e quero-o agora, como o Jim. É este mundo que eu quero e não o mundo dos sonhos ou dos céus. Eu quero o reino dos céus aqui. Será que devo pregar isso na rua? Será que devo dirigir-me ao povo? Ou será que devo continuar a pregar nos bares à espera de seguidores? Come, follow me, cross the sea, endlessly.

A REVOLUÇÃO DIONISÍACA


Aqueles que tanto pregam a lógica, a racionalidade são os mesmos que nos impõem um sistema sem sentido que gira ao sabor das bolsas e dos mercados, entidades abstractas que obedecem a leis transcendentes sem lógica aparente, a não ser a própria rapina, o lucro, a especulação, a agiotagem. Aqueles que pregam o mercado são os mesmos que pregam a morte, ou seja, a vidinha quotidiana sem qualquer ponta de novidade que se reduz ao tédio, à rotina, à própria morte. A este estado de coisas opomos uma revolução dionisíaca, uma revolução sem dirigentes nem dirigidos, uma revolução que nasce do caos, que em boa parte prescinde da racionalidade, que vai ao espírito, ao Uno Primordial do Homem. Uma revolução que combate os grupos fechados, que age na vida quotidiana, que provoca esteticamente, que procura o Homem enquanto criador, enquanto poeta, que questiona o mundo do trabalho e do dinheiro. À morte opomos a vida, a vida autêntica, a busca do prazer não artificial, não consumista, o prazer criador, sem preconceitos. Os espíritos livres dionisíacos infiltram-se na sociedade de consumo e de mercado e combatem-na.

DYONISOS


DYONISOS


Vem, Dyonisos,
vem reinar
entre as bacantes

Vem, Dyonisos,
traz-nos o prazer
e o vinho

Vem, Dyonisos,
afasta o tédio e a morte
faz da vida
uma festa permanente

Vem, Dyonisos,
atravessa os mares
atravessa os séculos
traz-nos os céus.

ESTRATÉGIA REVOLUCIONÁRIA

ESTRATÉGIA REVOLUCIONÁRIA

Escrevo e bebo. Volta a velha sina. Estou num café ao lado da sede do PCP e por isso vou falar de política. São legítimas as preocupações do PCP com os baixos salários, com a luta dos professores. Mas falta alguma coisa. Falta dizer que o capitalismo não serve. Há que dizer que as palavras mercado, dinheiro, investimento, empresário só por si metem nojo. Perante esta crise há que pôr tudo em causa. Há que questionar a mentalidade do proletariado e da pequena burguesia que tudo aceitam passivamente na vida quotidiana. Não chega exigir aumentos salariais. Há que ir mais além, muito mais além, questionar a essência do capitalismo: a avidez, a ganância, o lucro, a filha da putice. É impossível o homem ser pleno dentro deste sistema. Só a revolução, a revolução dionisíaca nos salvará.

O ANALISTA


O Rocha diz que eu não percebo nada de economia. Talvez tenha razão. Definitivamente, fiquei traumatizado pela minha passagem pela Faculdade de Economia do Porto. Ganhei asco a tudo o que seja contas, gráficos, dinheiro, produtividade, rentabilidade, bolsa, orçamento, défice. Só de ouvir a palavra "empresário" fico em pulgas. Sou visceralmente anti-capitalista e anti-mercantilista. O Rocha não. O Rocha discorre sobre tudo. Do futebol da "playstation" à crise financeira, do Marx ao FC Porto, do Miss Simpatia à estratégia individual de sucesso, do Freud à história do cinema. O Rocha é um analista sublime, o Rocha explica o desemprego mas não consegue arranjar emprego. O Rocha é um comunicador exímio mas está sempre só. Eu, pelo contrário, ando por aí, a fazer-me a esta e àquela, a ver se alguma cai na cantiga. Ando para aí, no meio desta merda, à procura de uma saída.

FORA DE MIM

Escrevo sem parar. De novo. Estou a caminho da Cláudia. Mas o comboio demora. O império dos economistas prevalece mas vai cair. Vai cair, tem que cair. Extermínio imediato dos ministérios da Finança e da Economia! Extermínio imediato do primeiro-ministro! Morte ao lucro e à especulação! Não aos okupas convertidos! Eu sou aquilo que escrevo. Não preciso de organizações. Não preciso de comités centrais nem de direcções. "Sou o homem da liberdade. Tal foi a sorte que tive". I'm the freedom man, that's how lucky I am. Mete isto na tua cabeça se quiseres. Mete isto na tua cabeça. O homem tem um lado divino. Explicai lá isto, ó economistas! Fazei lá um gráfico. Inundai-nos de gráficos! Eu sou a minha loucura. Eu sou a minha loucura. Engoli lá esta! Comei-a ao pequeno almoço! Eu sou o homem que vem. Eu sou o homem que virá. Eu sou tudo o que está para lá da economia. Eu sou o homem que canta, dança e celebra. Sou o homem que dança, canta e celebra! Eu sou a palavra infame. eu sou a palavra infame. Dead cats, dead rats. Não tenho explicação. Estou fora de mim.

O AMOR

O que é realmente importante não é o dinheiro nem o trabalho nem a sobrevivência mas o que nós sentimos. É o que está dentro de nós, o amor, o coração, que nos faz correr, saltar, romper fronteiras. "Reunir-se e fundir-se no ser amado, por tal forma que ambos passassem a ser uma só pessoa. É essa aspiração ao todo, essa busca incessante, que tem o nome de amor", escreveu Platão. O amor é uma busca incessante, que aspira ao todo, ao sublime. O amor só pode ser divino. "Todo o homem bafejado pelo amor adquire o dom da poesia", prossegue Platão. Fui bafejado pelo teu amor. Sou um poeta. Devo cantar o amor. É claro que, às vezes, posso cantar o caos. Mas devo principalmente cantar o amor. Por ti. Pela Humanidade. Mesmo que a Humanidade não o mereça. Sócrates diz que "todo o homem deve prestar homenagem ao amor". O amor não deve ser pregado nas igrejas nem através de religiões. Só o amor vencerá as fronteiras entre os homens, só o amor vencerá a inveja, a competição, o lucro, a podridão. Passei por tanta coisa, por tantos desertos, por tantos infernos e é aqui que chego. Para quê partidos? Para quê políticos? Para quê guerras? Se temos a divindade à nossa disposição. Se temos o divino amor dentro de nós.

MULHERES DE SONHO INACESSÍVEIS

As mulheres de sonho inacessíveis da televisão.
Será que são assim tão inacessíveis?
Será que serão reais?
Será que as posso tocar?
Deuses, dai-me uma só para namorar!
Falar-lhe-ia das minhas teses acerca do amor, falar-lhe-ia do caos e da revolução dionisíaca que aí vem, falar-lhe-ia da minha loucura.

CRIADOR


CRIADOR

Acorda!
Levanta-te!
Hoje vais criar
o pensamento flui
as ideias explodem
dançam na cabeça
e já vês a beleza
onde antes tudo era negro
Acorda!
Nasceste para criar
essa é a tua missão
venha quem vier
as mulheres sorriem
e gostam de ti
mesmo sem te compreenderem
o mundo parece melhor
mesmo que estejas só
Acorda!
Nasceste para criar
é para isso que aqui estás
é uma espécie de bênção
cantar o mundo
e as coisas que andam à volta
e já começas a olhar para as flores
e já te apetece cantar
Acorda!
Nasceste para criar
os casais vêm de mão dada
o amor existe, afinal
isto não é assim tão mau.

OS POETAS


OS POETAS



Descemos à cave

para celebrar o poema

trazemos o fogo

que roubámos aos deuses

brindamos à vossa mesa



Somos da raça dos malditos

dos renegados de todas as eras

connosco as damas não estão seguras

connosco o sangue ferve de raiva



Os negócios dos homens nada nos dizem

entre faunos e sátiros

erigimos a nossa morada

o homem vulgar não nos atinge



Os nossos festins não conhecem limites

estamos irmanados com a loucura



O nosso grito é inumano

Vem do centro da Terra

O riso é satânico dionisíaco



Não usamos relógios

a nossa hora é o Grande Meio-Dia

as regras dos homens nada nos dizem

só as seguimos, quando as seguimos,

por conveniência



Entramos no espírito dos homens

convertemos as mulheres em bacantes

semeamos o caos e a anarquia



O sossego e o tédio amolecem-nos

tornam-nos tímidos

mas o vinho robustece-nos

torna-nos xamãs

irmãos dos deuses

Poetas.





Vilar do Pinheiro, Motina, 11.11.2008

SE NÃO BEBO


Ontem o Púcaros estava quase às moscas. Mesmo assim deu para ouvir umas coisas novas e conversar com os amigos. Enfim, melhores dias virão. As gajas, não sei porquê, começam a aproximar-se de mim. Agora vêm ter comigo no fim dos espectáculos como nos dias gloriosos de outrora. Talvez por eu ser uma espécie de cavaleiro do apocalipse, de arauto do caos e da desordem, de profeta da revolta à minha escala. Dizem que gostam de mim porque eu digo a verdade. Grande responsabilidade para quem não quer responsabilidades. Na sociedade-espectáculo um gajo tem de ter a noção do espectáculo. Não se vai pôr aos berros para uma plateia de cinco gajos. Sou um gajo repentista, não sou um estudioso no sentido clássico, embora dedique grande parte do meu tempo ao estudo e à leitura. Sou um gajo dionisíaco que se apaga perante a rotina e que renasce com a ruptura. Não sou um teórico como o Rocha que desenvolve teses sobre tudo e mais alguma coisa, que tem os livros na ponta da língua. Por vezes, consigo expressar-me melhor através da escrita do que através da fala. É claro que tenho o meu lado racional, racionalista mas o espírito dionisiaco não o suporta, combate-o com todas as forças, sobrepõe-se quando menos se espera e chega a ficar sem controle.
Se não bebo fico mole, triste, convencional. É triste dizê-lo mas hoje isto parece-me inquestionável. Se não bebo começo a perder a conversa com os gajos e com as gajas. Se não bebo começo a tornar-me enfadonho, tímido, rotineiro. Por muito que custe há que dizê-lo.

POETA DIVINO


Poeta divino
queres o agora
poeta divino
queres o céu na Terra
fartaste-te da vida previsível
do governo e dos economistas
fartaste-te do grande tédio
que traz o deus-dinheiro
poeta divino
amas a vida
poeta divino
queres que o sangue corra
fartaste-te do rebanho
e da vidinha
poeta divino
és o menino e o bailarino
procuras o banquete permanente
e a alegria
poeta divino
os deuses amam-te
afastam-te da razão
dão-te a sabedoria
poeta divino
o futuro que se foda!

A SOCIEDADE DO DINHEIRO

A SOCIEDADE DO DINHEIRo

Qual é o sentido da vida? Não há Deus nem deuses, apenas o Homem. Que sentido há em estar sempre atrás do dinheiro? Que sentido há em estar sempre atrás da bola? O que é que isso tem de belo, de bom, de transcendente? A vida não pode ser isso! A vida é a volúpia, o prazer, a alegria, o amor, a criação, a celebração. A vida é a conquista da felicidade. Não podemos ser felizes se andamos sempre a fazer contas, não podemos ser felizes se somos escravos do dinheiro, da bola, do que quer que seja. O capitalismo e o mercantilismo são inimigos da liberdade e da felicidade. O capitalismo e a sociedade do dinheiro condenam o homem ao tédio e à depressão. O capitalismo e a sociedade do dinheiro castram os instintos vitais. O capitalismo e a sociedade do dinheiro são a morte. O capitalismo e a sociedade do dinheiro transformam tudo em merda. É com a nossa vida que eles jogam. É a nossa vida que eles destroem. É da nossa vida que vos falo. É a nossa vida que eles nos tiram.

CONSIDERAÇÕES METAFÍSICAS ACERCA DE UMA TOSTA-MISTA


CONSIDERAÇÕES METAFÍSICAS ACERCA DE UMA TOSTA-MISTA

Sento-me na confeitaria
e a palavra não sai
penso em reis, criadores, artistas
naqueles que andam na corda-bamba
e entra um homem que insulta o mundo
e que pede uma tosta-mista
de que magia se faz o poema?

A D. Rosa dormita diante da folha de papel
porque raio será que isto tem de ter uma lógica?
Deveríamos passar a vida a dançar
a fazer coisas sem sentido e sem objectivo
a D. Rosa escreve um poema
medita longamente
mas a coisa lá vai saindo
que ganho eu com isto,
para além de umas presumíveis palmas
no Púcaros e noutros tascos?
Que é isto senão a arte pela arte,
a criatividade pela criatividade?
O homem come a tosta-mista
e a D. Rosa escreve o poema
cisma
demora uma eternidade
e a coisa começa a dar-me gozo
o gozo com que o homem
devora a tosta-mista
e paga
o dinheiro circula
das mãos de uns para a caixa registadora
de outros
será isto a vida?
A D. Rosa levanta-se
também dá dinheiro para a caixa registadora
a caixa registadora é sagrada
todos se lhe dirigem
e prestam vassalagem

De repente, as pessoas soltam a língua
falam de casas, dos tubos entupidos,
do 2º andar
e das paredes que rebentam
a coisa torna-se violenta
apesar das iluminações natalícias
começam a dissertar acerca da pobreza,
dos pobres de juízo, da Maria Badalhoca
aprende-se muito por estas bandas

Levanto-me
também eu presto vassalagem
à caixa registadora.

A. Pedro Ribeiro, "Motina", 4.12.2008

NIETZSCHE, zaratustra


IX
Zaratustra dormiu muito tempo e por ele passou não só a aurora mas toda a manhã. Por fim abriu os olhos, e olhou admirado no meio do bosque e do silêncio; admirado olhou para dentro de si mesmo. Ergueu-se precipitado, como navegante que de súbito avista terra, e soltou um grito de alegria porque vira uma verdade nova. E falou deste modo ao seu coração:

“Um raio de luz me atravessa a alma: preciso de companheiros, mas vivos, e não de companheiros mortos e cadáveres, que levo para onde quero.

Preciso de companheiros, mas vivos, que me sigam — porque desejem seguir-se a si mesmos — para onde quer que eu vá.

Um raio de luz me atravessa a alma: não é à multidão que Zaratustra deve falar, mas a companheiros! Zaratustra não deve ser pastor e cão de um rebanho!

Para apartar muitos do rebanho, foi para isso que vim. O povo e o rebanho irritam-se comigo. Zaratustra quer ser acoimado de ladrão pelos pastores.

Eu digo pastores, mas eles a si mesmos se chamam os fiéis da verdadeira crença!

Vede os bons e os justos! a quem odeiam mais? A quem lhes despedaça as tábuas de valores, ao infrator, ao destruidor. É este, porém, o criador.

O criador procura companheiros, não procura cadáveres, rebanhos, nem crentes; procura colaboradores que inscrevam valores novos ou tábuas novas.

O criador procura companheiros para seguir com ele; porque tudo está maduro para a ceifa. Faltam-lhe, porém, as cem foices, e por isso arranca espigas, contrariado.

Companheiros que saibam afiar as suas foices, eis o que procura o criador. Chamar-lhes-ão destruidores e desprezadores do bem e do mal, mas eles hão de ceifar e descansar.

Colaboradores que ceifem e descansem com ele, eis o que busca Zaratustra. Que se importa ele com rebanhos, pastores e cadáveres?

E tu, primeiro companheiro meu, descansa em paz! Enterrei-te bem, na tua árvore oca, deixo-te bem defendido dos lobos.

Separo-me, porém, de ti; já passou o tempo. Entre duas auroras me iluminou uma nova verdade.

Não devo ser pastor nem coveiro. Nunca mais tornarei a falar ao povo; pela última vez falei com um morto.

Quero unir-me aos criadores, aos que colhem e se divertem; mostrar-lhes-ei o arco-iris e todas as escadas que levam ao Super-homem.

Entoarei o meu cântico aos solitários e aos que se encontram juntos na solidão; e a quem quer que tenha ouvidos para as coisas inauditas confranger-lhe-ei o coração com a minha ventura.

Caminho para o meu fim; sigo o meu caminho; saltarei por cima dos negligentes e dos retardados. Desta maneira será a minha marcha o seu fim!”

O POEMA


Quando vou dizer poesia
não vou apenas dizer poesia
vou passar mensagens
sinto que estou próximo
de escrever "o poema"
o poema à Nietzsche, divino,
que vá muito para lá das bolas de Natal
que incorpore a raiva, a revolta
que vai nas ruas de Atenas
e que se vai estender por toda a Europa
o poema que está no sexo, nas mamas das gajas
que permanentemente se insinuam para mim
e me acendem
o poema que está nas vozes dos deserdados da vida,
dos que dormem à chuva e ao frio nas ruas,
nas cabines telefónicas, onde calha
o poema dos poetas malditos que insultam a vida imbecil
dos burgueses, que dizem não às convenções e às normas,
que sobem à montanha da àguia e da serpente porque estão fartos
do rebanho e da populaça, porque estão fartos dos cegos
que se deixam governar por imbecis, como dizia Shakespeare
o poema daqueles que não se contentam com a lógica do dinheirinho
e do trabalhinho, daqueles que vão ao fundo deles mesmos e do mundo,
daqueles que odeiam o mercado e os contabilistas que governam,
daqueles que se tornam neles mesmos e que dizem que o melhor governo
é não existir governo nenhum
o poema daqueles que amam o caos porque sabem que é do caos
que nasce a criação, daqueles que amam as alturas e o perigo,
daqueles que se entediam com o paleio imbecil do dinheiro
e do sucesso mediático
o poema daqueles que amam vertiginosamente sem limites, daqueles que
procuram o sublime, o céu na Terra e que sabem que pode estar ao virar
da esquina
o poema daqueles que amam a vida, a vida pura, autêntica, a vida que não está
nos bancos nem nos governos nem nas Igrejas nem no quotidiano imbecil
e previsível
o poema daqueles que vivem em rebelião, que não suportam mais a existência quadrada e vazia, a existência de percentagens, bolsas e estatísticas que esses cabrões
contabilistas nos vendem
o poema daqueles que já nada têm a perder, que atiram pedras e cocktails molotov
aos cães da polícia, aos representantes dos contabilistas e dos economistas, que
combatem a morte em nome da vida e que sabem que só assim a coisa é possível, sem
dirigentes nem vanguardas, sem negociações, mediações ou sindicatos,
já se fizeram todas as negociações possíveis, já se esgotaram todos os entendimentos,
as negociações quase mataram o Homem, quase tornaram o Homem numa espécie falhada
é tempo de reagir
agora ou nunca!
WE WANT THE WORLD AND WE WANT IT NOW!
Não aqui meios-termos
não há meias palavras
ou...ou...
ou és nosso ou és deles
estou a falar da vida
estou a falar da celebração
estou a falar da liberdade
estou a falar do amor
do amor que não está nos negócios, do amor que não está no mercado, do amor que não está no dinheiro, no amor que não está no senso comum
este é o poema
o poema que não está no mercado
o poema que não vale 4,3% nem 9%, nem 15,5% nem 18 valores
o poema que não é nota, o poema que não vai a exame
o poema que vai ao mar e se deixa levar
o poema que te ama
e que não quer saber do Natal
o poema que dança
e que não grama prisões
o poema que canta
e não quer saber de cifrões
o poema armado
que vai à luta
que vai até ao fim
o poema que vai à lua
que não tem fim
o poema que te chama
que te acena
ao lado de Merlin
o poema que procura
que anda às turras
até encontrar
o poema que conquista
que se lança ao mar
sem medos
o poema-torpedo
o poema que perfura
até conseguir
o poema que incomoda
que não está na moda
e que, se calhar, até está
o poema que cria
o poema que destrói
o poema que inaugura
e que dói

olha, alguns fogem
viram a cara
outros ficam
siderados, talvez
nunca tinhas escrito bem assim...

Vilar do Pinheiro, "Motina", 16.12.2008

O POETA E AS GAJAS BOAS


O POETA E AS GAJAS BOAS

E cá está o poeta de café, só, diante da folha que já não é branca. E cá está o poeta a olhar, a ver se gajas que o entusiasmem, que o façam cavalgar. As gajas boas são as musas que lhe dão tesão, que o fazem sair da letargia. Mesmo que nunca as conheça, que nunca fale com elas, o poeta depende das gajas. São elas que se insinuam, são elas as ancas que gingam, são elas as mamas que abanam. O poeta sem as gajas não é nada. O poeta não cria, o poeta não escreve, o poeta não vibra sem as gajas. O poeta pensa no assunto e bebe. Bebe cada vez mais, fino após fino mas as gajas boas não aparecem. Só entram gajas feias e engravatados. O poeta aborrece-se e bebe. Bebe, bebe, bebe, até que rebenta.
- A culpa é vossa, gajas boas,
só aparecestes agora que o poeta está rebentado, feito em pedaços
olhai que perda para a Humanidade
olhai que se tivesses aparecido a tempo
o poeta teria escrito a obra imortal
de agora em diante ide, ide pelos campos
à procura dos poetas
ide dar-lhes de comer e de beber
a vida dos poetas está na vossa mão
e nas vossas mamas
e na vossa pássara
sede dignas dos poetas, ò gajas boas.

GAJAS BOAS


GAJAS BOAS

Gajas boas, vós amais o poeta
deixai os bares e as discotecas da moda
deixai as passerelles e as revistas cor-de-rosa
deixai as conversas superficiais e os futebolistas
gajas boas, ide ter com o poeta
olhai que ele se afoga no àlcool e na solidão
olhai que ele se perde no riso do Do Vale
olhai que ele está prestes a cair ao chão
gajas boas, vós amais o poeta
ide ter com ele aos tascos,
aos cafés, às esplanadas
falai com ele
animai-lhe o espírito
dai-lhe beijos na boca
gajas boas,
estais na Terra para salvar o poeta
deixai os executivos
dai-lhe amor
de vós depende a Obra
gajas boas, fornicai o poeta

Saturday, March 07, 2009

ASSIM FALAVA ZARATUSTRA, NIETZSCHE


Conhecer é uma alegria para quem tem a vontade do leão!

Querer liberta: porque querer é criar: é isto o que eu ensino. E não deveis aprender senão para criar!

Vede, pois, como estes mesmos povos imitam agora os merceeiros: para juntar as mais pequenas vantagens, dão a volta a todas as sujidades!

O seu sustento- é o único assunto com que se sabem entreter; que tenham, portanto, a vida dura!

E que para nós seja considerado perdido o dia em que não dançámos!

A palavra é uma loucura encantadora: com ela o homem dança acima de todas as coisas.

Tirai-nos este Deus! Mais vale não haver Deus, mais vale cada um fazer o seu destino guiando-se pela sua cabeça, mais vale ser cada um de nós o seu próprio Deus!

Viver segundo a minha vontade ou não viver.

E preferi o desespero à submissão. E, na verdade, amo-vos porque não sabeis viver hoje, ó homens superiores!

Este hoje é o da populaça.

Louvado seja esse espírito de todos os espíritos livres, tempestade que ri e atira poeira para os olhos de todos os pessimistas e de todos os que estão cheios de úlceras!

Ó homens superiores, aprendei, portanto, a rir!

Não se mata pela cólera, mas pelo riso.

Tornámo-nos homens- queremos, pois, o reino da Terra.


NIETZSCHE, "ASSIM FALAVA ZARATUSTRA"

DEMOS CAOS AO CAOS


“Nestes tempos de crise das bolsas, dos bancos, dos negócios, nestes tempos de falência, de desemprego em massa, em que a vida perde o seu valor, a mensagem de Nietzsche e de Jim Morrison ganha uma actualidade única. Ao homem-mercadoria, ao homem-percentagem, ao homem-número, ao homem vencido, há que opôr o homem criador, o homem que diz sim à vida, não à vidinha da submissão, não à vidinha da rotina, não à vidinha do rebanho, mas sim à vida plena, à vida alegre, à vida autêntica. É possível passar do sub-homem ao super-homem se acreditarmos que, como disse Jim Morrison, isto não passa de um jogo, de um jogo imbecil. Se num desafio de futebol um jogador, uma estrela qualquer, decidir, de repente, pontapear a bola para fora e, pura e simplesmente, abandonar o campo toda a gente vai dizer: ponham esse palhaço na rua! Mas ele responde: ora, isto não passa de um jogo, da merda de um jogo, não sei porque lhe dão tanta importância. E o que temos de fazer é isso: abandonar o jogo, não deixar que façam de nós escravos, imbecis. Temos de fazer alguns sacrifícios, seguir a nossa via ("solitário, segue o caminho que conduz a ti mesmo", diz Nietzsche), descurar a sobrevivência, abandonar a máquina mas o ganho será muito superior: tornar-nos-emos livres, poetas, filósofos, super-homens. Temos de nos juntar, fazer a revolução, mas não uma mera revolução política como a de 1917, como a de 25 de Abril, uma revolução global do espírito, das consciências. Teremos de ser até algo irracionais contra a pretensa racionalidade das bolsas, dos bancos, das empresas, da economia. TEmos de derrubar todos os governos. Destruir para construir. Começar do zero. Não ouçamos os jogos eleitoralistas e tácticos dos partidos políticos, dos sindicatos e das outras organizações. Sejamos nietzscheanos, morrisonianos. Punhamos à prova os limites da realidade. SEjamos doidos! Sejamos poetas! Superemos o homem, superemos o real. Construamos a vida. Sejamos afirmadores da vida. Afastemos a morte! Afastemos Deus, o capital e o dinheiro! Brindemos a Dionisos. Construamos o Céu na Terra, o Paraíso na Terra. O mundo é nosso. Não há regras. Não há limites. Queimemos o dinheiro! Queimemos a economia! Calemos para sempre os economistas. Sejamos, como disse Nietzsche, "decifradores de enigmas". Tornemo-nos deuses em vez de carneiros. Demos caos ao caos.” A. Pedro Ribeiro

Monday, March 02, 2009

LOUÇÃ E A BOA NOVA


LOUÇÃ E A BOA NOVA
António Pedro Ribeiro

O Louçã tem razão acerca de quase tudo quanto diz sobre o Governo. No que toca ao desemprego, aos bancos, aos salários baixos. Louçã tem-se tornado uma espécie de profeta, de pregador que o povo ouve com redobrada atenção. Louçã parece infalível.
Também nós nos deveríamos converter numa espécie de pregadores. Não nascemos para trabalhar mas para pregar a Boa Nova, escrevemos já algures. Mas não temos de saber todos os pormenores técnicos como o Louçã. Nem queremos alcançar o poder como o Louçã. Devemos apenas dizer que há uma diferença de vida e de morte entre a sociedade mercantil e aquilo que desejamos. Que os economistas e os governos pregam a morte alicerçada em percentagens e estatísticas enquanto que nós falamos a linguagem da poesia, do amor, da liberdade. Contra a economia e o mercado propomos o espírito livre de Nietzsche, contra a sobrevida ou subvida ou sub-homem propomos a vida e o super-homem. Eis o que nos distingue do Louçã.