Saturday, February 28, 2009

TESES SOBRE A VISITA DO PAPA


Teses Sobre a Visita do Papa


1. Ó Estado, mais uma vez podes limpar as mãos à parede do cu do papa, ficarás com as mãos mais brancas para os teus crimes. Ó partidos, da esquerda e da direita, mais uma vez podeis beijar os pés ao papa, ficareis com a boca abençoada para mentir melhor. Explorados, escolhei o crime, escolhei a mentira. Sois livres. Tu poeta, range os dentes e indigna-te.
2. Que o Estado venere a Deus na figura do papa, que os partidos venerem o Estado na figura do papa; que os explorados venerem a Deus, o Estado, o Partido- a trindade omnipresente. Enfim, o poder temporal subordinado ao poder sobrenatural. Nem Deus nem senhor? Maldita incurável doença infantil do comunismo. Explorado, escolhe o explorador.
3. O Estado que te submete é republicano e reverencia a Igreja, o Partido em que militas é marxista e felicita o papa, o Sindicato onde estás inscrito é revolucionário e saúda a reacção. A greve geral é uma arma que não deve ferir o papa. Nada contra o obscurantismo. Paz ao inimigo. Quem disse que a religião é o ópio do povo? Explorados, que escolheis?
4. Sobretudo, nada de escândalo. Uma pedra branca sobre o crime, uma pedra negra sobre a crítica. Ecrasez l' infâme, dizia Voltaire. O silêncio dos ateus é o ouro do Vaticano. Explorado, escolhe a pedra para a tua cabeça.
5. Conquistar a liberdade de expressão para não usar a liberdade de expressão. Não denunciar o opressor, não ousar atirar-lhe à cara a revolta, sequer na forma de um cravo. Ver, ouvir, receber o papa com o medo do 24 de Abril. Explorado, porque não vomitas?
6. Explorado, sê manso e obedece. Pode ser que entres no reino dos céus, de camelo ou às costas de um rico. Obedece. Pode ser que vás para a cama com a pátria. Obedece. Pode ser que o teu cadáver ainda venha a ser estandarte glorioso do Partido. Nunca percas a esperança, explorado, jamais.
7. Abaixo a união livre. Viva a coexistência pacífica. O casamento do capital e do trabalho vai ser o grande casamento do século. Não haverá oposição dos pais nem da polícia. Sobretudo, tudo menos a erotização do proletariado. Felicidades, explorado.
8. Ouvi falar da luta de classes e da revolução e do mundo que o proletariado tem a ganhar e nada a perder. Ouvi falar das armas da crítica e da crítica pelas armas. Ouvi falar em transformar o mundo e mudar a vida. Ouvi falar de que enquanto um homem, um só que seja, e ainda que seja o último, existir desfigurado, não haverá figura humana sobre a terra. Nunca tinha ouvido uma sereia assim. Ouviste, explorado?
9. O diálogo? Que diálogo pode haver entre o condenado à morte e o carrasco que o conduz ao patíbulo? O diálogo é entre amantes, entre amigos, entre camaradas. Fora disso não há diálogo. Tens a palavra, explorado.

ANTÓNIO JOSÉ FORTE (1931-1988), in "Uma Faca nos Dentes", Revista Utopia nº 19/2005.

CARÊNCIA

carencia


A situaçao de carencia vivida no quotidiano das massas, onde nao ha nenhuma ocorrencia excepcional, onde o individuo tem que levantar-se cedo todas as manhas, apanhar um autocarro cheio, passar l´´a mais de uma hora, executar um trabalho maçador, relacionar-se superficialmente com os seus colegas de trabalho, ir cansado para casa, apanhar outro autocarro cheio e viajar mais tanto tempo, chegar a casa, jantar, sentar-se diante da TV, cochilar e por fim dormir, para ter no dia seguinte tudo outra vez, por uma vida toda, essa viv^^encia sem novidades, sem emoçoes, sem ocorrencias que fujam do quotidiano retiram ao sujeito o verdadeiro prazer de viver.
(Ciro Marcondes Filho, A Linguagem da Seduçao).

UM NÃO OU O POEMA DA NEGAÇÃO


Um Não ou o Poema da Negação


Um nao ao mercado global que tudo estrangula, que tudo sufoca, que tudo mata. Um nao ao capitalismo global que nos faz passivos, desempregados, famintos, miseraveis, subservientes. Um nao ao lucro e ao culto do lucro. Um nao rotundo do tamanho do mundo.

Um nao aos baroes da finança, aos banqueiros, aos que enchem a pança. Um nao aos governos joguetes do capital, aos heroinomanos do defice, aos senhores feudais, aos mandaretes locais.
Um nao aos vendedores da banha da cobra, aos vendilhoes do templo, aos especuladores profissionais. Um nao a economia de guerra, ao imperialismo, ``a felicidade fabricada. Um nao rotundo do tamanho do mundo.
Um nao as multinacionais, ao homem-mercadoria, a exploraçao. Um nao ao culto da competiçao.
Um nao as panelinhas, as capelinhas e as outras ias que ai vao. Um nao que incomoda. Um nao ao detergente da moda.
Um nao sem meias tintas, sem mediaçoes internacionais. Um nao sem negociaçoes sindicais, sem institucionalizaçoes partidarias, sem comites centrais. Um nao imenso de revolta. Um nao rotundo do tamanho do mundo.

Monday, February 23, 2009

DOIS ANOS

Este blogue já fez dois anos. Parabéns ao PSSL.

Thursday, February 19, 2009

O SUPER-HOMEM


A crise é culpa dos especuladores bolsistas, dos banqueiros e dos governos. É preciso dizê-lo sem rodeios. De nada adianta a atitude nihilista, pessimista de andar a lamentar a crise como se ela não tivesse culpados. Não demos ouvidos ao discurso assexuado, não vital dos economistas. Opunhamos a palavra aos números, às taxas, às percentagens. CElebremos a vida, a revolta, a palavra poética. Sejamos dandies, libertinos, libertários. CElebremos o individuo livre, o espírito livre de Nietzsche. DEclaremos guerra aos governos, aos capitalistas, aos banqueiros, aos especuladores bolsistas. Declaremos guerra aos que nadam e aldrabam em milhões, aos que nos querem reduzir ao sub-homem. Combatamos a lógica do rebanho, do sujeito dócil, frustrado, temente a Deus ou ao deus-dinheiro. Proclamemos o individuo soberano, o senhor sem escravos. O individuo que segue a via que conduz a si mesmo, que não quer governar nem quer ser governado. O individuo que se torna um deus que canta, dança e ri, o super-homem. O individuo que ri nas barbas do capitalismo. O individuo que incendeia a bolsa, os bancos e o mercado. Que queima o dinheiro. Sim, sejamos deuses contra os deuses do dinheiro e do mercado. SEjamos doidos, sejamos poetas. Afirmemos a vida contra o primado da economia. Combatamos a morte! Acabemos com a dependência face ao dinheiro. Acabemos com a morte! Rebentemos com o mundo deles. Pilhemos o mundo deles com terrorismo poético. Sejamos deuses, sejamos o super-homem!

Friday, February 13, 2009

TERRORISMO POÉTICO


Terrorismo Poético
Postado no Junho 13, 2008 por Renata Simões
DANÇAR BIZARRAMENTE A NOITE INTEIRA em caixas eletrônicos de bancos. Apresentações pirotécnicas não autorizadas. Land-art*, peças de argila que sugerem estranhos artefatos alienígenas espalhados em parques estaduais. Arrombe apartamentos, mas, em vez de roubar, deixe objetos Poético-terroristas. Seqüestre alguém & o faça feliz. Escolha alguém ao acaso & o convença de que é herdeiro de uma enorme, inútil e impressionante fortuna - digamos, cinco mil quilômetros quadrados na Antártica, um velho elefante de circo, um orfanato em Bombaim ou uma coleção de manuscritos de alquimia. Mais tarde, essa pessoa perceberá que por alguns momentos acreditou em algo extraordinário & talvez se sinta motivada a procurar um modo mais interessante de existência.

Coloque placas de bronze comemorativas nos lugares (públicos ou privados) onde você teve uma revelação ou viveu uma experiência sexual particularmente inesquecível etc.

Fique nu para simbolizar algo.

Organize uma greve na escola ou trabalho em protesto por eles não satisfazerem a sua necessidade de indolência & beleza espiritual.

A arte do grafite emprestou alguma graça aos horríveis vagões de metrô & sóbrios monumentos públicos - a arte - TP também pode ser criada para lugares públicos: poemas rabiscados nos lavabos dos tribunais, pequenos fetiches abandonados em parques & restaurantes, arte-xerox sob o limpador de pára-brisas de carros estacionados, slogans escritos com letras gigantes nas paredes de playgrounds, cartas anônimas enviadas a destinatários previamente eleitos ou escolhidos ao acaso (fraude postal), transmissões de rádio pirata, cimento fresco…

A reação do público ou o choque-estético produzido pelo TP tem que ser uma emoção pelo menos tão forte quanto o terror - profunda repugnância, tesão sexual, temor supersticioso, súbitas revelações intuitivas, angústia dadaísta - não importa se o TP é dirigido a apenas uma pessoa ou várias pessoas, se é “assinado” ou anônimo: se não mudar a vida de alguém (além da do artista), ele falhou.

O TP é um ato num Teatro da Crueldade sem palco, sem fileiras de poltronas, sem ingressos ou paredes. Para que funcione, o TP deve afastar-se de forma categórica de todas as estruturas tradicionais para o consumo de arte (galerias, publicações, mídia). Mesmo as táticas de guerrilha Situacionista do teatro de rua talvez tenham agora se tornado muito conhecidas & previsíveis.
Uma requintada sedução levada adiante não apenas pela satisfação mútua, mas também como um ato consciente por uma vida deliberadamente mais bela - deve ser o TP definitivo. O Terrorista Poético comporta-se como um trapaceiro barato cuja meta não é dinheiro, mas MUDANÇA.

Não faça TP para outros artistas, faça-o para pessoas que não perceberão (pelo menos por alguns momentos) que o que você fez é arte. Evite categorias artísticas reconhecíveis, evite a política, não fique por perto para discutir, não seja sentimental; seja impiedoso, corra riscos, vandalize apenas o que precisa ser desfigurado, faça algo que as crianças lembrarão pelo resto da vida — mas só seja espontâneo quando a Musa do TP o tenha possuído.

Fantasie-se. Deixe um nome falso. Seja lendário. O melhor TP é contra a lei, mas não seja pego. Arte como crime; crime como arte.

* Tipo de arte que usa a paisagem, normalmente natural, como objeto artístico, sendo a própria natureza (e seus fenômenos, chuva, vento, etc.) elementos constitutivos da obra.

Tradução de Jersson de Oliveira - texto original de Hakim Bey, in Caos, terrorismo poético & outros crimes exemplares, editado no Brasil pela Conrad
*encontrei no rizoma.net

>o terrorismo poético de Rafael na Belas Artes continua repercutindo. Saiu um ótimo texto da Camile no blog do Repique

Arquivado em: arte por toda parte, habemus histórias | Tagged: hakim bey, invasão de pixadores na Belas Artes, terrorismo poético

« arte como crime, crime como arte vampire weekend + flobots »

Sunday, February 01, 2009

DADAÍSMO E SURREALISMO


O dadaísmo floresceu em Zurique em 1915, após o início da I Guerra Mundial, por um grupo de jovens intelectuais contrários à guerra que se encontravam no Cabaré Voltaire, entre eles Hugo Ball, Emmy Hennings, Janco, Tristan Tzara, sendo este responsável pelos manifestos fundamentais sobre o dadaísmo. Já em Berlim iniciou em 1918, tendo uma característica diferente de Zurique, isto porque os dadaístas de Berlim provocaram uma genuína revolução, confrontando a arte, o pensamento, os sentimentos, a política e a sociedade nesta empreitada pela transformação.
Nesta época de turbulência, o dadaísmo procurava estabelecer uma ordem e por outro lado quebrar a ordem. Foi assim, que apareceu uma série de revistas com as opiniões dos integrantes deste segmento artístico.
Em 1918, o dadaísmo está no seu ápice em Berlim, ocorrendo o "Primeiro discurso dadá na Alemanha", o qual manifestam a sua simpatia pelo dadaísmo internacional, nascido dois anos antes em Zurique. A idéia deste discurso estava em contradizer ao expressionismo, futurismo, cubismo, arte abstrata, chegando à superioridade do dadaísmo, Huelsenbeck disse como "o manifesto é uma fonte literária na qual se podem injetar muitas das nossas sensações e diversos dos nossos pensamentos".
O dadaísmo buscava corrigir a arte que havia se destruído pelas várias tendências artísticas erradas, sendo que assim fundou-se o Clube Dadá. Era à busca de uma total participação e contestação de todos os valores, a começar pela arte. Inclusive, o nome Dadá é casual, escolhido abrindo-se um dicionário por acaso.


Salvador Dalí - "Natureza Morta", 1956

Até pouco tempo, contestava-se a quem atribuir as honras do legítimo nascimento do dadaísmo, a Richard Huelsenbeck ou Raoul Haussmann, utilizando-se sempre as siglas "R.H." para não acarretar um erro.
Richter afirma "é que os dois R.H., juntamente com Baader - a antiinibição personificada - unha e carne com Grosz e os irmãos Herzfelde, formavam a tropa de choque propriamente dita do movimento Dada berlinense: Huelsenbeck como emissário do Dada original de Zurique, e portanto representante da religião dadá; Haussmann como personalidade ilustre do Dadá artístico, dotado de um egocentrismo sombrio, documentado em inúmeras oportunidades; Baader como um saco cheio de dinamite, e os três outros na qualidade da ala esquerda. Em uma questão específica os Dióscuros R.H. e R.H. estavam de acordo: Dadá era a antiarte".
Apesar da proclamação da antiarte, muito do que Haussmann fazia ainda lembrava em muito a arte abstrata tão desprezada e, somente depois que começa a utilizar-se de colagens e fotomontagens, que tem o surgimento de uma nova arte, levando a uma nova imagem do mundo.
Era um momento de transformação e agitação, tendo uma função social que fez com o público despertar, mas em relação ao cultural, significava uma rebelião, o "Antitudo, o entusiasmo que dominava a maioria dizia respeito ao próprio EU, que, livre de culpa e penitência, encontrava a partir de si próprio as suas leis, sua forma e sua confirmação...porque as circunstâncias favoreciam e até mesmo provocavam a mais livre das rebeliões", afirma Richter.
O Dadá possuía um caráter totalmente anárquico, o qual refletia na vida real, mas com esta expulsão da arte para o lixo, acabou-se atenuando a luta contra as condições sociais alemãs, pronunciando o nazismo, e contestando a economia e a industrialização. Mesmo assim, o pano de fundo sempre foi a arte.
As manifestações deste grupo são sempre desconcertantes, desordenadas e escandalosas, o Dadaísmo é um contra-senso, isto porque nega a arte, sendo um movimento artístico, é a pura ação, onde não se valoriza a obra, mas sim a si próprio. Isto tudo teve como o estopim a guerra, que acarretou uma série de problemas psicológicos e sociais há sociedade daquela época.
Para Argan, o dadaísmo "propõe uma ação perturbadora, com o fito de colocar o sistema em crise, voltando contra a sociedade seus próprios procedimentos ou utilizando de maneira absurda as coisas a que ela atribuía valor. Renunciando às técnicas especificamente artísticas, os dadaístas não hesitam em utilizar materiais e técnicas da produção industrial".
Os pontos que mais fortaleciam os dadaístas em Berlim eram: o elevado número de mortes durante a guerra, o insucesso de uma revolução, a oposição reprimida, a pressão pelos comunistas, o sucesso do Dadá em Zurique e, por fim a falta de liberdade que tanto aguçava os ânimos para as oportunidades.
Os dadaístas berlinenses tinham tudo para continuar a sua luta, principalmente por terem Haussmann e Baader, como amigos e aliados frente aos entusiasmos para um levante ou o desencadeamento de uma situação revolucionária. Contrariando a todos aqueles que se opunham, continuando um caminho ativo do grupo Dadá e, muitas vezes com apresentações agressivas.
Mas, por volta de 1922, o Dadá começa a ter as suas primeiras perdas, e assim a esmorecer, onde alguns de seus personagens perdem a sua consciência com a comunidade, outros abandonam, até a volta de todos aos seus antigos afazeres.
Logo, em seguida aparece o Surrealismo que teve como ponto de partida o ano de 1924, com a reunião de um grupo em torno de André Breton que tinha como preceitos, os conceitos ligados ao inconsciente, aos sonhos e a fantasia. Não havia regras ou formas estéticas, os surrealistas buscavam o sentido mais puro do espírito e o que este proporcionaria ao poeta ou ao artista.
Contudo, os surrealistas buscaram parte de seus valores éticos e morais, no Marquês de Sade, escritor do século XVIII que serviu de inspiração para o teatro, o cinema, a literatura e as artes plásticas. Segundo Fernando Peixoto "seu pensamento, embora com certo nível extremista, é igualmente um grito de revolta eloqüente. Um grito desesperado e angustiado, o incontrolável extremo de um individualismo absoluto que limita bastante o alcance ou o significado de suas idéias, a ânsia de libertação, gigantesco protesto em favor do homem livre, a denúncia de uma civilização fundamentada nos instintos planejadamente reprimidos, baseada na hipocrisia, no preconceito, na corrupção, na injustiça, na divisão social e na feroz crueldade".
Para os surrealistas a influência do Marquês de Sade antecipou a Psicologia moderna com Freud, por meio dos estudos sobre o sonho e os caminhos explorados no inconsciente.
De acordo com as informações proporcionadas por Sade e Freud, André Breton definiu: "Surrealismo é automatismo psíquico puro por meio do qual nos propomos exprimir tanto verbalmente quanto por escrito ou de outras formas o funcionamento real do pensamento, é o ditado do pensamento com a ausência de todo controle exercido pela razão, além de toda e qualquer preocupação estética e moral".
Desta forma, o Surrealismo passa a ser visto como uma arte do inconsciente, projetando muitas vezes uma ideologia subversiva, reprimida nos seus mais profundos anseios, assim ao chegar a sua produção permite ao criador demonstrar desde seus instintos animais, aos sexuais, aos sociais, expondo os desejos do indivíduo como os da sociedade.
O surrealismo como as demais vanguardas artísticas tinham como ambição mudar a História, especialmente no campo político, apesar de ter como meta à mudança na vida, partindo da vida muda-se o mundo, desígnios presentes nas palavras de Marx,Goethe, Rimbaud e muitos outros.
Breton e os surrealistas participaram do Partido Comunista buscando concretizar parte de suas aspirações, mas acabam por deixar o partido por não ser bem este o caminho a se tomar e, desta maneira continuam no que é essencial para a existência humana, que é o sonho.
O Surrealismo foi um movimento bastante amplo, no campo da literatura, tendo como antecedentes Baudelaire, Rimbaud, Allan Poe, Apollinaire que influenciaram diretamente nas teorias de André Breton presentes no Manifesto do Surrealismo, Segundo Manifesto do Surrealismo, Posição Política do Surrealismo, Prolegômenos a um Terceiro Manifesto do Surrealismo ou não, Do Surrealismo em suas Obras Vivas e outros textos. Em todos Breton difundia com destreza a posição do homem na vida, sobre a liberdade, a loucura, a lógica, enfim os sentidos da vida humana.
Nas artes plásticas notamos importantes representantes, entre eles podemos citar Max Ernst com experiências automatistas que elucidavam em alucinações nascidas dos sonhos, o inconsciente passa a ser um dos alicerces para a produção de seu trabalho. Nas reuniões com o grupo de surrealistas permitiam a libertação do subconsciente e, assim a evasão dos medos e rejeições ao contarem os seus sonhos.
Max Ernst cria a frottage, que era uma técnica "para além da pintura", a liberação de todos os sentidos e a descoberta daqueles que ainda permaneciam escondidos ao se defrontarem com a realidade. Para Ulrich Bischoff "a frottage é mais que uma técnica é um processo artístico em que tanto o conteúdo como o conceito criam um mundo novo".
Marc Chagall apresentou um mundo imaginário e sobrenatural, onde o espírito e o corpo estavam separados, criando assim um mundo figurativo, constituindo uma série de metáforas, início do seu surrealismo que por meio de ciências ocultas buscou a intelectualidade. O mundo de Chagall era rodeado de idéias místicas que transformavam os motivos em símbolos representativos de uma realidade invisível, isto porque os acontecimentos da sua infância e a rigorosa ausência da arte figurativa no judaísmo perseguiram sua mente, alternando as suas fases analíticas e sintéticas.
Como afirma Argan, "a pintura de Chagall é fábula, mas a fábula é problemática...a fábula não é uma tradição que se transmite por inércia, mas é a expressão viva da criatividade do povo. Sendo uma força popular, pode ser uma força revolucionária".
Salvador Dali é outro artista que teve em seu trabalho a presença provinda dos sonhos e do sexualismo. Gala, a sua mulher foi a grande responsável por parte de sua produção, pois como Dali mesmo afirma só conheceu os prazeres do amor com Gala, desta forma acabará de entrar por um mundo freudiano que o levou ao obscuro caminho dos sonhos.
Os trabalhos de Dali envolviam os acontecimentos da Guerra Civil Espanhola, as torturas, a degradação, o sofrimento e a morte, sentimentos que transbordavam em suas telas. Com Luis Buñuel formata a idéia do O Cão Andaluz.
E assim, no cinema Luis Buñuel produz o primeiro filme surrealista em 1929, O Cão Andaluz, sendo este um grito sobre a tragédia humana com seqüências enlouquecidas e enlouquecedoras para o observador. No seu L'âge d'or, Buñuel se aprofunda na temática surrealista da psicanálise com discussões sobre o homem e a mulher e as alegorias do inconsciente.
A década de 30 na Europa foi marcada pelo surrealismo, influenciando todos os grupos de artistas. Com a II Guerra Mundial, grande parte do grupo surrealista parte para os EUA e, em 1940 chega ao fim um dos movimentos artísticos mais importantes da História.



Paula Regina Buonaducci Molina
Mestre em História da Arte - ECA/USP