Saturday, December 27, 2008

SITUACIONISMO


Situacionismo


Definição

Movimento europeu de crítica social, cultural e política, que tem lugar entre 1957 e 1972, reunindo poetas, arquitetos, cineastas, artistas plásticos etc. A criação do movimento data de julho de 1957, quando da fundação da Internacional Situacionista, em Cosio d'Aroscia, Itália. O grupo se define como uma "vanguarda artística e política", apoiado em teorias críticas à sociedade de consumo e à cultura mercantilizada. A idéia de "situacionismo", segundo eles, se relaciona à crença em que os indivíduos devem construir as situações de suas vidas no cotidiano, cada um explorando o seu potencial de modo a romper com a alienação reinante e a obter prazer próprio. Do ponto de vista da reflexão, as principais fontes dos situacionistas são utopistas como Charles Fourier (1772-1837) e Saint-Simon (1760-1825), hegelianos como Feuerbach (1804-1872) e o jovem Karl Marx (1818-1883). O clima intelectual e político francês dos anos de 1950 e 1960 alimentam o situacionismo, que, por sua vez, auxilia a redefinir os contornos de sua época. A tradução francesa de História e consciência de classe, de Georg Luckács, a edição dos dois primeiros volumes da Crítica da vida cotidiana, de Henri Lefebvre, as reflexões dos pensadores da Escola de Frankfurt, as revistas Socialismo e Barbárie e Argumentos, entre outros, marcam a reflexão social, cultural e política do momento, apontando para os efeitos perversos do capitalismo avançado, bem como para a necessidade de alterar a ordem social pela reinvenção da vida cotidiana. A utopia maior que norteia o situacionismo é a projeção de uma sociedade comunista próxima aos ideais anarquistas, capaz de ser alcançada pela recusa radical do autoritarismo de Estado e da burocracia.

Às reflexões teóricas, os situacionistas associam uma série de intervenções - distribuições de panfletos, declarações, envio de telegramas etc. - com o objetivo de marcar com clareza as suas posições sociais, culturais e políticas. No âmbito da atuação política, o grupo se engaja em formas de apoio aos movimentos de contestação que têm lugar na época. Apoiam as revoltas das comunidades negras de Los Angeles (1965); as iniciativas operárias, fora dos sindicatos e partidos; as atividades de auto-gestão e os Conselhos Operários criados na Espanha e Argélia; o movimento estudantil e os acontecimentos de Maio de 1968, que o grupo contribui também para suscitar. Do ponto de vista artístico, as principais fontes do movimento são o dadaísmo e o surrealismo - sobretudo em função da conexão por eles defendida entre arte e vida - e o Letrismo de Isidore Isoue (1928) e Gabriel Pomerand (1926-1972). Fruto de uma dissidência no interior do Letrismo, A Internacional Letrista e o boletim Potlach (1954-1957), criados por Michèle Bernstein, Mohamed Dahou, Guy Debord (1932-1994), Gil Wolman, entre outros, desenham um primeiro esboço das teses situacionistas. A intenção estratégica de Potlach, segundo Debord, um dos expoentes do movimento, é promover a "reunificação da criação cultural de vanguarda e da crítica revolucionária da sociedade". E a Internacional Situacionista, afirma ele em 1985, "é criada sobre essa mesma base". Articulação entre arte e vida, arte e política, arte e cidade, eis alguns dos eixos do letrismo internacional retomados pelo situacionismo. Trata-se de ver a poesia, "para lá da estética", nos rostos dos homens e na forma das cidades, anuncia o nº 5 do Potlach, 1954. "A nova beleza", dizem eles, "será de SITUAÇÃO, quer dizer, provisória e vivida". A idéia de realizar intervenções no ambiente, cara aos situacionistas, já está aí posta. Práticas como a "deriva", a "psicogeografia" e o "desvio" defendem as perambulações ao acaso pela cidade e estimulam as reinterpretações do espaço a partir da experiência vivida (vide o Guia prático para o desvio, 1956, de Wolman e Debord). As práticas e intervenções no espaço urbano têm como fonte a crítica da vida cotidiana; por isso mesmo o urbanismo e a arquitetura constituem dimensões fundamentais para letristas e situacionistas.

A abertura do Letrismo Internacional a outros grupos cria as condições para a fundação da Internacional Situacionista. A amizade de Debord com Asger Oluf Jorn (1914-1973) estreita os laços com o Grupo CoBrA - sobretudo com Constant (1920) e Jorn - e com o movimento por uma Bauhaus imaginista, fundado em 1955 por Jorn e pelo pintor italiano Pinot-Gallizio (1902-1964). A defesa da livre expressão e do gesto espontâneo associados às convicções políticas fazem do Grupo CoBrA um aliado primeiro do situacionismo. A aproximação com o grupo se dá em 1949, sobretudo em função das teses sobre "o desejo, o desconhecido, a liberdade e a revolução" defendidas por Constant na quarta edição da revista CoBrA, que se tornariam centrais para o movimento situacionista. São também evidentes os interesses dos letristas internacionais pela reflexão sobre o urbanismo empreendida pelo movimento de Jorg e Pinot-Gallizio, que partem de uma crítica à funcionalidade excessiva praticada pela Bauhaus de Gropius. Não por acaso a plataforma que marca o início das atividades da Internacional Situacionista intitula-se Para um urbanismo unitário. A revista Internacional Situacionista (1958-1969) apresenta as formulações teóricas do grupo e acompanha as atividades de seus membros. Do conjunto, apreendem-se duas críticas fundamentais. Uma que diz respeito à vida cotidiana e à sociedade do espetáculo mercantil. Trata-se de libertar a vida do cotidiano e separar o tempo da organização do trabalho. Uma segunda crítica incide sobre a cultura como "mercadoria ideal do capitalismo avançado". A idéia da servidão posta pela "sociedade do lazer" encontra-se esboçada na obra maior da teoria situacionista, A sociedade do espetáculo (1967), de Debord, a liderança mais importante do movimento. Além dessa obra, que alcança grande repercussão em 1968, Debord é autor de diversos artigos e livros, e responsável por alguns filmes, entre os quais Hurlement en faveur de Sade [Grito a favor de Sade], 1952. Realiza também com M. Bernstein e A. Jorn exposições de fotografias, como a de Paris, 1961.

Após um período marcado pela criação de diferentes seções do situacionismo em diversos países da Europa (Grã-Bretanha, Alemanha, países nórdicos etc.), sobretudo de 1958 a 1969, e uma espécie de auge do movimento alcançado por ocasião dos acontecimentos de maio de 1968, Debord anuncia oficialmente, em abril de 1972, a dissolução do situacionismo. Muitos dos seus membros continuariam a participar dos movimentos de esquerda nos anos 1970. No Brasil, a editora Conrad Livros, criada na década de 1990 em São Paulo, tem sido a grande responsável pela edição das obras de Debord e dos situacionistas entre nós e pelo ressurgimento do interesse por essas idéias entre artistas brasileiros.

2 comments:

Claudia Sousa Dias said...

ja está decidido. eu voto em ti nas próximas eleições presidenciais.


CSD

A. Pedro Ribeiro said...

são precisos muitos mais votos, Cláudia.