Sunday, September 14, 2008

SURREALISMO E ANARQUIA


Surrealismo e anarquia
Publicado 12 Maio, 2008 Ensaios
Tags: anarquia, boletins, Libertaire, surrealismo

O surrealismo e a anarquia sempre foram dois irmãos que pouco ou nada se deram bem, dois irmãos que, ao imitar a vida real, poucos caminhos traçaram juntos. Se levado em consideração que nascem dos mesmos ideais e forma de pensar, não há explicação que justifique essa separação.

Em uma breve síntese, a anarquia se propôs a ser, diferentemente de tudo que havia até então, um movimento contrário à qualquer forma de dominação do homem pelo homem, era contra tudo e mais um pouco, desde a escola até o próprio Estado. Não tinham portanto uma organização partidária como todo movimento político revolucionário o tinha, não se inseriam nos aparelhos do Estado justamente por desconsiderarem o Estado como forma de alcance do bem comum. Já o surrealismo foi a anarquia das artes, a proposta era a de abolir a razão como norte da criação, abolir as regras e qualquer outra coisa que pudesse impedir o processo criativo das pessoas. O surrealismo queria se tornar a arte dos que não sabiam arte, a arte dos que não eram gênios. Com o legado de Freud, entenderam que o subconsciente era muito poderoso e rico para ser ignorado.

No entanto, essas duas correntes do pensamento humano por pouco tempo caminharam lado a lado. Essa união se materializou de fato com as publicações dos artistas surrealistas de então no jornal anarquista Le Libertaire. Tais publicações ficaram conhecidas como os boletins surrealistas e não havia outro lugar para elas, na Terra, senão no Libertaire. A opinião surrealista é clara, André Breton deixa mais do que expresso seu viés anárquico no boletim de 11 de janeiro de 1952 entitulado A Clara Torre, não obstante sua adesão ao partido comunista e posterior aliança com Trotski. Chega a se perguntar porque, em 25 anos, a união dos surrealistas e anarquistas ainda não foi possível. E é bom ressaltar que Breton era algo como um arauto do surrealismo. Não só ele, em diversos outros boletins o pensamento surrealista parece se enquadrar na ideologia anarquista e vice-versa.

Mas parece que tudo aconteceu para não dar certo, os anarquistas não viam nos surrealistas companheiros politicamente engajados, a visão que tinham dos surrealistas era algo como uma bizarrice sem sentido e a ruptura da colaboração surrealista no Libertaire não tardou em chegar. Após um ano e poucos meses de inúmeras publicações, a ruptura veio com a assinatura de Serge Nin, representando os velhos militantes da anarquia e editores do Libertaire.

Geraram frutos? Talvez sim, talvez não tenha passado de uma troca inaudita de experiências, o que importa é que depois disso muito pouco do surrealismo se viu no movimento anarquista. É claro que alguns poucos se aventuraram em outros planos e projetos anarquistas, no entanto, nada sólido o suficiente para que fosse lembrado até hoje.

Esse artigo faz parte da postagem coletiva Blogueiro Repórter. Eu não publico a fonte porque é secreta mas as informações aqui contidas estão de total acordo com o conteúdo publicado pelo Núcleo de Sociabilidade Libertária do Programa de Estudos Pós-graduados em ciências sociais da PUC-SP, o Nu-Sol.


Surrealismo e anarquia by Marcus Vinicius Boaçalhe is licensed under a Creative Commons Atribuição 2.5 Brasil License.
Based on a work at www.surrealismodoacaso.com.
http://surrealismodoacaso.wordpress.com

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